Sobre crónicas com atraso crónico. A história de Malaca é a história da alternância do domínio. Quando os portugueses ali chegaram, algures no distante século XVI, resolveram fazer-se convidados da forma mais decidida possível e correram com o sultanato existente à paulada. Depois de ter convenientemente passado a mensagem de quem mandava, fizeram uma fortaleza que ladeava o povoado, construiram a típica igreja, estabeleceram e deram vida a um novo entreposto comercial feito à sua medida.
De seguida vieram os holandeses. Atraídos pelo cheiro das riquezas negociadas e pelo posicionamento estratégico do local, entraram por ali adentro e fizeram aos portugueses aquilo que estes haviam feito ao sultão. Depois limitaram-se a adaptar as infraestruturas à moda deles, transformaram a igreja católica em protestante, aproveitaram a fortaleza e construiram a Stadhuis, a câmara municipal, por assim dizer.
Last but not the least, chegaram os ingleses. Uma vez mais, blá blá blá, e os holandeses foram expulsos, a cidade tomada mas, contrariamente aos anteriores habitantes, os britânicos resolveram partir muita coisa. A começar pela fortaleza, que temiam que pudesse ser usada contra eles: segundo dizem, a Porta de Santiago só se salvou porque Stamford raffles terá intercedido no sentido preservar algo do passado da cidade. Passando pela igreja originalmente portuguesa, ficou sem tecto e interior. Escapou a praça central, assim como a câmara e a igrejita pequenina que lá se encontra.
A Malaca de hoje é um desafio à imaginação: olhar para uma maquete daquilo que foi e tentar imaginar como seria agora acaso não tivesse sido tanta coisa destruída. Acima de tudo, é uma cidade orgulhosa que guarda o passado atribulado com determinação e algum saudosismo. Ou não se tivesse agarrado às coisas que não se podem destruir, como as receitas portuguesas de bacalhau e doces que ainda são confeccionadas, bem como a palavra “gereja” para dizer igreja, entre outras.