sábado, julho 30, 2005

Detesto perfeição – Detesto o límpido. Detesto o imaculado, o virginal. Detesto o vazio escuro da ausência de um defeito. Porque é a assumpção da falta de humanidade.

quinta-feira, julho 28, 2005

ALL AT SEA

I’m all at sea
Where no-one can bother me
Forgot my roots
If only for a day
Just me and my thoughts sailing far away

Like a warm drink it seeps into my soul
Please just leave me right here on my own
Later on you could spend some time with me
If you want to
All at sea

I’m all at sea
Where no-one can bother me
I sleep by myself
I drink on my own
Don’t speak to nobody
I gave away my phone

Like a warm drink it seeps into my soul
Please just leave me right here on my own
Later on you could spend some time with me
If you want to
All at sea

Now I need you more than ever, I need you more than ever, now
You don’t need it every day
But sometimes don’t you just crave
To disappear within your mind
You never know what you might find
So come and spend some time with me
We will spend it all at sea

Like a warm drink it seeps into my soul
Please just leave me right here on my own
Later on you could spend some time with me
If you want to
All at sea


Jamie Cullum
Passou o dia - em que esta geringonça fez dois anos e eu nem tive tempo de parar para pôr algo alusivo à efeméride. Tinha pensado naqueles do tipo seiscentos e tal postas depois (o número que o blogger apresenta), não sei quantas coisas depois, dois anos depois, blá blá, conversa da chacha e terminar. Aparentemente, fiquei sem vontade. É cedo. Tenho sono. Estou rabugento. Esgotou-se o prazo.

Mas sempre são duas primaveras.

terça-feira, julho 26, 2005

Deu corda ao metrónomo. Era um daqueles à antiga, com um ponteiro metálico, ao longo do qual se ajusta o peso para definir a velocidade desejada, as batidas por minuto. A caixa era em madeira e soltava aquele som cheio e quente que o plástico não consegue nunca imitar. Sentei-me a ouvir, de olhos fechados para me concentrar melhor, a interiorizar a precisão dos estalidos.

Imagina que estás a marcar o segundo e o quarto tempos, não o primeiro e o terceiro, como o teu instinto te vai tentar induzir a fazer. Podes até pensar que estás a ouvir um baterista e que o metrónomo não é mais do que o prato de choque, constante e quase despercebido no meio de todos os outros sons. No entanto, sempre presente.

Estivemos os dois em silêncio um bom bocado. Até que me disse que tentasse. Não me perguntou se estava pronto. Disse-me que experimentasse naquele instante. Abri finalmente os olhos, olhei para o braço que tinha à minha frente, brilhava a cordas novas. Bati o pé, uma forma mais directa e física de apanhar o tempo. Confortável, adequado ao exercício. Concentrei-me.

Há duas coisas que são difíceis. A primeira é o arranque. Começar mal, fora, pode condicionar tudo o que vais fazer para a frente. Preocupa-te em entrar no sítio certo. Não te precipites. A outra é, quando pensas que já tens tudo controlado, relaxas e começas a flutuar. Quando dás por ti, estás outra vez nos fatídicos um e três.

segunda-feira, julho 25, 2005

Costuma sair sempre - para o mar aberto, nunca se sabe, embora afirme que não são muitas as vezes que veja os bichos. De qualquer das formas, este é um ano atípico: a primeira vez que saiu para a Ilha do Farol, deu logo de caras com eles. Por isso, quando no sábado passou pelo espaço delimitado pelo pontão e pela Ilha Deserta, a probabilidade que atribuiu à repetição do acontecimento não deveria ser nada desfavorável.

E não se enganou. Poucos minutos depois de começar a rasgar as ondas ligeiramente mais altas, largou um prepara-a-maquina-rápido, sonoro e autoritário, seguido à risca por quem seguia na embarcação. Referia-se à fotográfica porque tinha acabado de ver com os olhos treinados de mar, as barbatanas dorsais de alguns cetáceos lá ao fundo. Acelerou e aproximou o barco.

Quatro, cinco, a verdade é que não me recordo. Recordo de me tirem dito que havia uma cria. Que, efectivamente, vi a nadar à frente, os animais maiores por detrás como que a escoltá-la. Foram atraídos pelo som do motor. Curiosos, aproximaram-se para ver melhor, acompanharam o movimento do veículo à frente, perto da quilha. Com movimentos ondulatórios rápidos.

Recordo também terem-me explicado que não se deve entrar na água. Contrariamente à ideia comum de que os golfinhos são simpáticos e salvam vidas humanas em perigo, nem todos são domesticáveis, apenas os cinzentos mais claros. Estes, escuros, podem ter comportamentos agressivos, sobretudo se tivermos em conta a agravante da presença da cria. Para além disso, desconhecem que os humanos não aguentam muito tempo sem vir à superfície respirar e podem empurrar para o fundo. Muito para o fundo.

sexta-feira, julho 22, 2005

Se se chama Loja das Meias – então porque raio vende mais do que apenas meias…?

quinta-feira, julho 21, 2005

A Ota, o TGV - e demais amigos ganharam. Entre os quais se conta o populismo, essa figura de proa altamente destacada, um faraónico encher o olho para inglês ver. O Campos e Cunha desistiu.

Óbvio…? Preferia que não tivesse sido.

terça-feira, julho 19, 2005

Quase nem se dá conta – quando se pisa o arco em pedra mais alto do mundo. Procurei guiar-me por referências óbvias, como a Avenida Calouste Gulbenkian, que passa mesmo por debaixo. Afinal, mal sabia que, como nos filmes, há sempre um X que marca o lugar. Lá estava uma inscrição na pedra, a indicar a altura precisa e a largura.



Não é a vista que justifica. Para um dos lados, Praça de Espanha, Eixo Norte-Sul; para o outro, Monsanto, Ponte 25 de Abril, o que resta do Casal Ventoso. A imponência enche o olho. O espectáculo da altura, da engenharia. O interior que nos permite ir de Belas, a fonte, ao centro da cidade.

Tão depressa como surge, desaparece. Parece uma toupeira. Continuámos a segui-lo. Volta a mostrar-se na rua das Amoreiras: atravessa-a num arco antigo, curva e vem em direcção ao PS. Mas pára antes, num grande depósito, a Mãe de Água. Cinco, seis metros de profundidade do líquido precioso. Em cima, o ponto onde acaba o túnel gigante.

Há quarenta anos atrás, o Aqueduto das Águas Livres ainda servia algumas zonas da cidade. Foi totalmente desactivado nos anos 60. Foi concebido para uma cidade com uma população de cerca de 250 mil habitantes. Hoje em dia, é uma relíquia perdida no tempo, uma espécie de ponte pitoresca no Vale de Alcântara cuja finalidade se ignora.

segunda-feira, julho 18, 2005

Lisboa nostálgica

domingo, julho 17, 2005

Acerca da coerência - que é a constante incoerência.

sexta-feira, julho 15, 2005

Even Flow

Freezin', rests his head on a pillow made of concrete, again
Oh, Feelin' maybe he'll see a little better, set a days, ooh yeah
Oh, hand out, faces that he sees time again ain't that familiar,oh yeah
Oh, dark grin, he can't help, when he's happy looks insane, oh yeah

Even flow, thoughts arrive like butterflies
Oh, he don't know, so he chases them away
Someday yet, he'll begin his life again
Life again, life again...

Kneelin', looking through the paper though he doesn't know toread,
ooh yeah
Oh, prayin', out to something that has never showed him anything
Oh, feelin', understands the weather of the winters on its way
Oh, ceilings, few and far between all illegal halls of shame,yeah

Even flow, thoughts arrive like butterflies
Oh, he don't know, so he chases them away
Someday yet, he'll begin his life again
Whispering hands, gently lead him away
Him away, him away...
Yeah!
Woo...ah yeah...fuck it up...

Even flow, thoughts arrive like butterflies
Oh, he don't know, so he chases them away
Someday yet, he'll begin his life again, yeah
Oh, whispering hands, gently lead him away
Him away, him away...
Yeah!
Woo...uh huh...yeah, yeah, mommy, mommy...


Pearl Jam

quarta-feira, julho 13, 2005

Duas pequenas notas – acerca do vocábulo que hoje trago a lume. Brando. Primeiro: o “x” é para ser pronunciado fortemente, é a letra mais importante de toda a palavra. Segundo, admitem-se flexões nas casas das centenas e das unidades mas nunca na das dezenas; por outras palavras, pode ser trezentos e terminar em um, mas nunca sessenta. Optei pelo caso particular que me apraz mais. Aqui está ele. Acabadinho de colher:

Duzentxinquenta

terça-feira, julho 12, 2005

Grandes clássicos do brejeiro na música

Josefina fartou-se de tocar contrabaixo. Se era verdade que o facto de ser contrabaixista, porque pouco comum num mundo onde o sexo feminino está mais ligado a outros instrumentos, lhe era caro, também não era mentira nenhuma que os dois dedos da mão direita que atacam as cordas estavam muito calejados. Resolveu mudar.

Não muito longe do contrabaixo estava o violoncelo. E tinha a vantagem de poder tocar sentada. E passar de usar directamente os dedos para um arco era, efectivamente, uma benesse. Mas cedo se apercebeu que teria de passar horas intermináveis a segurar o instrumento com as pernas abertas. Voltou a considerar mudar.

Havia os instrumentos de sopro. Sempre tivera um gosto especial por eles, apesar de se considerar inapta a tocá-los. Encheu-se de coragem e de ar na boca e passou a colocar os lábios num belo trompete dourado. Demorou até conseguir tirar um bom som. Demorou até conseguir dominar bem o pistão. Quando tudo parecia correr bem, um problema de ortodontia. Necessitou aparelho de correcção nos dentes. Nunca mais pôde soprar numa gaita. Nem sequer numa banalérrima de beiços. Muito menos numa flauta.

Actualmente toca pauzinhos chineses numa orquestra sinfónica.

segunda-feira, julho 11, 2005

"As grandes obras públicas são um novo-riquismo provinciano"

João Salgueiro

domingo, julho 10, 2005

Eu queria que tu me dissesses que
sim,
que me desses aquele
sim
forte e fundo, e então disse
diz-me que sim
e fiquei à espera, primeiro que me dissesses
sim
mas como não te ouvia dizer
sim
não te ouvia dizer nada, pensei que, em vez de
sim
podias ao menos dizer seja o que for, por exemplo
talvez
ou, porque não
deixa-me pensar

o meu
sim
não chegou
ainda insisti uma vez, disse
diz-me que sim
desta vez respondeste
não foi
sim
que disseste, não foi
talvez
que disseste, não foi
deixa-me pensar
que disseste, nem sequer
desaparece já não te posso ver

disseste
não

sábado, julho 09, 2005

Centros urbanos açambarcadores - O Estoril Sol fica à entrada de Cascais. Logo ao lado, está o Parque Palmela, onde é o Estoril Jazz. O Open do Estoril é disputado no estádio nacional, no Jamor, Câmara de Oeiras. O Autódromo do Estoril fica para lá de Alcabideche, a caminho de Sintra, depois do Cascaishopping.

quinta-feira, julho 07, 2005

A Ota e o TGV são dois elefantes brancos. Aliás, Portugal é perito em criar elefantes brancos. Já tivemos o ano passado dez elefantinhos com o EURO e tivemos uma manada deles com o Alqueva.

Eu admito que [a Ota e o TGV] possam diminuir o desemprego na Ucrânia e em alguns países africanos.


Miguel Beleza, mais coisa menos coisa porque a minha memória não é má mas também não é de elefante branco ou doutra cor, comentando o impacto económico do plano de investimento anunciado pelo Governo.

terça-feira, julho 05, 2005

Eu ainda não me tinha habituado – a chamar-lhe Mário; no 107 de Cascais era sempre o Chico. Passou em minha casa por volta da hora de jantar. Viu-me emborcar qualquer coisa à pressa enquanto lhe dizia o que precisava enfiar na caixa da guitarra: palhetas, tampões para ouvidos, um pano para mãos suadas, o tremolo. Depois entrámos no VW dele e fomos até Cascais.

De que forma foi, não me recordo, mas já sabia que íamos para o edifício do PCP. Mesmo em frente ao Visconde da Luz, a entrada era do outro lado do túnel que atravessa os prédios para a rua da Sacolinha. Ali, num canto fechado feito por dois prédios distintos, umas grades altas criavam um pequeno pátio. Tocámos à campaínha. Alguém veio abrir o portão que se abria no meio das redes, espreitando pela janela.

Subimos três lances (ou eram quatro?) de escadas até chegar ao sótão. Lá em cima já estava alguém, penso que era o guitarrista e a vocalista. O Mário deixou as tralhas dele, as minhas tinham ficado no carro, não eram para o Bruno e a Sónia ver. E descemos para o primeiro piso, onde havia uma sala com mesas e cadeiras de plástico que dava para o Visconde. Lá estavam todos os outros. O Chico e a Margarida, o Pedro, o Floyd. Penso que só faltava o André, que chegou depois com a Nicole.

Devo ter sido apresentado, tentei responder com a naturalidade que não existe num puto de 16 anos enfiado naquele ambiente. O mais novo de todos eles devia ser o André com 19 ou 20 anos. Sentia-me muito pouco à-vontade, num misto de timidez idiossincrática e intimidação pontual.

A páginas tantas, estávamos todos no sótão outra vez. Eu, sentado numa cadeira a um canto, perna cruzada, a ver. Eles a tocar. Tinham um som diferente, fora do comum. Usavam teclados e sintetizadores (o velhinho DX-7 em coma), instrumentos desconhecidos para mim. Na altura, de quem mais gostei foi do André na bateria. Devo ter percebido desde o início que era quem tinha o instinto mais apurado e com quem eu me iria dar melhor. Musicalmente e não só.

O ensaio terminou. Conversa para aqui, conversa para ali. O Bruno e a Sónia iam sair. Perguntaram se os outros não iam. Penso que o Pedro, o Chico e a Margarida também. Fiquei com o André, o Floyd e o Mário. Que desceu a correr as escadas e foi buscar a minha guitarra à mala do carro.

Puseram-me à prova. Toquei alguma coisa. Estava sobre pressão mas correu-me bem. Gostaram. Tocaram comigo. A certa altura, terminámos uma música. E o André disse-me que tinha gostado e que havia qualquer coisa em mim de Brian May. Que lhe tinha soado. Sorri, não tinha nada contra o inglês e gostava dele, mas não achava que fosse a minha maior influência.

Lembrei-me deste episódio neste sábado. E, passados sete oito anos, pensei que não me ficaria nada mal soar a Brian May.


P.S. – prometo não voltar a falar do concerto.

segunda-feira, julho 04, 2005

Palavra de apreço – aos tipos da Enetation que resolveram o problema dos comentários na página.
Eu sei – que tenho andado a abusar em matéria de letras de músicas. Eu sei, eu sei, eu sei e eu sei. Mas não resisto e volto a bater na mesma tecla. Em virtude de recentes desenvolvimentos da vida cultural portuguesa. E porque, infelizmente, o Restelo, contrariamente às minhas expectativas, não estava assim tão cheio. Enfim, para quem ficou em casa (tirando casos como o do Sandra que falhou por justa causa), não sabem o que perderam.

Este foi o primeiro ponto deste texto. Agora o segundo. Raramente consigo dar uma resposta concreta às perguntas do tipo qual a música, banda, livro preferido(a). Aqui fica a minha homenagem às excepções sob forma de homenagem aos Queen.


The show must go on

Empty spaces - what are we living for
Abandoned places - I guess we know the score
On and on
Does anybody know what we are looking for

Another hero another mindless crime
Behind the curtain in the pantomime
Hold the line
Does anybody want to take it anymore

The show must go on
The show must go on
Inside my heart is breaking
My make-up may be flaking
But my smile still stays on

Whatever happens I'll leave it all to chance
Another heartache another failed romance
On and on
Does anybody know what we are living for
I guess I'm learning
I must be warmer now
I'll soon be turning round the corner now
Outside the dawn is breaking
But inside in the dark I'm aching to be free

The show must go on
The show must go on - yeah
Ooh inside my heart is breaking
My make-up may be flaking
But my smile still stays on

Yeah, oh oh oh

My soul is painted like the wings of butterflies
Fairy tales of yesterday will grow but never die
I can fly - my friends

The show must go on - yeah
The show must go on
I'll face it with a grin
I'm never giving in
On with the show

I'll top the bill
I'll overkill
I have to find the will to carry on
On with the
On with the show

The show must go on, go on, go on, go on, ...

sexta-feira, julho 01, 2005

Estava frio
(ou era impressão minha?)
daquele tipo de frio que os céus limpos de inverno trazem. Tu estavas sentada naquele banco de jardim virado para os limites da cidade concêntrica, entre pinheiros alinhados que se erguiam alto. Ao longe, o castanho da paisagem, o castanho das casas que parecem ter esta cor apenas para se camuflarem como um camaleão. Tu também sentias o frio
(ou era impressão minha?)
encolhida de encontro à camisola de lã. Levantaste-te quando me viste, disseste-me
Sei que ainda agora chegaste mas vamos embora
E eu acatei porque parecia uma ordem
(ou era impressão minha?)
Não era só o frio que te incomodava
(ou era impressão minha?)
porque desligaste o telemóvel. Desligaste-o e despejaste-o bruscamente na penumbra da tua mala larga mas cheia. Esperaste que eu chegasse porque eu poderia precisar ligar-te. Agora já estava contigo, não estavas para correr o risco que alguma chamada menos cómoda surgisse

Ou era impressão minha?
Schröder – o malabarista