segunda-feira, janeiro 29, 2007

Frio do caraças – ou a única situação em que os transportes públicos a abarrotar da hora de ponta são bem recebidos.

domingo, janeiro 28, 2007

Aborto reprise ou curta adenda – Que é como quem diz, para os dotados com a sagrada virtude da paciência, confrontar com o texto de dia 1 de Novembro do ano passado.

1. A actual lei do aborto com as excepções que prevê, está basicamente a dizer que as vidas geradas por violações ou as vidas deficientes são menos vidas que todas as outras vidas. Porque as vidas mesmo vidas não podem ser terminadas. É nesta incongruência, que me parece digna de uma eugenia, em que caem os defensores deste não-a-fugir-para-o-talvez que existe actualmente.

2. Há ainda a questão possível arrependimento a muito curto prazo: não é ilegal ir no dia seguinte a correr à farmácia, estilo ai ai ai ó tio ó tio, para resolver o problema com uma daquelas pílulas. Ou seja, é o raio temporal de eficácia deste contraceptivo que demarca o período de tempo a partir do qual passa a ser ilegal pôr termo a uma vida. E isto tudo sem tocar na discussão de que qualquer método contraceptivo pretende impedir uma vida de nascer: talvez para outro reprise, terceiras núpcias.

1+2 = 3. Não deve haver muitas coisas em que as posições extremas sejam justificáveis ou melhores. Em relação ao aborto, parece-me que não há outra hipótese possível sob pena de tropeçar neste tipo de ilógicas. E é por isso que, por muito retrógrada que eu ache que possa ser a posição da Igreja neste assunto, curiosamente, parece-me mais coerente do que a do Estado Português.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Alguns excertos da entrevista imediatamente a seguir ao massacre

Q. What was it like for you just being there at the end of that?
ANDY RODDICK: It was frustrating. You know, it was miserable. It sucked. It was terrible. Besides that, it was fine.

Q. What did Jimmy say to you straight after the game?
ANDY RODDICK: He gave me a beer.

Q. You said this week that you thought the gap between you and Roger was closing, or at least wasn't getting any wider.
ANDY RODDICK: Yeah, not tonight.

Q. The next time you feel that, will you keep it to yourself?
ANDY RODDICK: No. Have I ever not answered a question honestly? That's honestly the way I felt. I'm not going to keep it to myself. You ask me a question, I'm going to give you an honest answer.
What do you want me to say? Do you want me to come in here and kick my ass on a daily basis? It's not going to happen. I'm going to try to keep fighting. I'm going to try to keep working. That's what I could on a daily basis. I wake up and work my butt off on a daily basis. I'm going to continue to do that.
I'm going to try to take this like a man as much as I can. He outplayed me. He played a lot better than I did tonight. He deserves all the praise that he gets, not only for how he plays, but how he handles himself. Get up tomorrow, look forward.

Q. How much would you have paid in order not to come too this press conference tonight?
ANDY RODDICK: That's about the best question that's been asked.
Well, I mean, I can't really say an amount because I would have gotten fined, what, 20 grand. Obviously, it would have to be less than that, right, if we're thinking logically? It really wouldn't be about the money; it would be about running away and not facing it.
I would pay a lot of money if everyone would just make up stuff that I said and pretend like I was actually here. That would be fine. My dad didn't raise me to run away from it, so here I am.

Q. After a night like this, do you sleep well?
ANDY RODDICK: Do I sleep well?

Q. Yes.
ANDY RODDICK: It depends on how much I drink tonight.

terça-feira, janeiro 23, 2007

De tão sensível que era – aleijava-se nas mãos sempre que cozinhava arroz agulha.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Caros cabelos brancos – É com grande satisfação que vos dou as boas-vindas ao meu couro cabeludo, local onde posso constatar que alguns de vós resolveram instalar-se. Como demonstração da minha estima e respeito pela vossa presença, queria dedicar-vos algumas palavras de apreço.

O principal objectivo é que vós, três ou quatro que sejam, se sintam bem acolhidos, totalmente confortáveis e à-vontade, como se estivessem no vosso próprio lar, bem enraizados no meio de todos os outros milhares de cabelos castanhos que povoam o alto da minha cabeça.

Não se preocupem por destoar. Não se preocupem por ser diferentes. Na minha cabeça, ninguém discrimina ninguém. Embora de cores diversas, todos os cabelos são cabelos iguais aos demais cabelos. Não temam olhares desdenhosos. Não temam bocas foleiras nem insultos. Não temam represálias nem sacanices. Serão desejados desde que prossigam o fim último:

Relegar ao máximo a minha calvície para o futuro.

domingo, janeiro 21, 2007

Não quero ser chato – mas, desta vez, a Mauresmo nem aos quartos chegou.
Vendia flores à porta do cemitério. A horas de pouco movimento, entrava no recinto e, como tantos colegas de profissão, retirava as que os seus clientes haviam colocado nas campas dos respectivos entes. Mas fazia questão de apregoar que tinha escrúpulos.

E então tinha uma tabuleta a indicar as flores que eram em segunda mão.

sábado, janeiro 20, 2007

Todas as instituições religiosas - ou com alguma ligação a qualquer divindade omnipotente deviam ser banidas dos mercados bolsistas por problemas relacionados com inside information.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Como é que é possível - que eu possa algum dia tolerar o Roddick se ele acaba de eliminar o Safin? Ainda por cima a jogar bem nos pontos importantes: no tie-break do quarto set, houve momentos em que olhei para o televisor e me pareceu inclusivamente que o gajo do boné branco da Lacoste era um jogador de ténis.

Eu, que secretamente ou mesmo aberta e declaradamente, rezava para um embate do russo com o Federer nas meias, o tipo de jogo que não se vê, infelizmente, em todos os Slams, fiquei pior que estragado. Lá está, não tenho outro remédio senão desejar que ainda não seja desta que o americano consiga ganhar ao suíço.

Roddick, não estás a ajudar, pá…

quinta-feira, janeiro 18, 2007

“Writing that something is trivial is my privilege, at the exam you should justify everything carefully”.

Na resolução de um exercício de análise matemática.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Pelo percurso de vida, consciência e auto-crítica, sabia que o seu destino derradeiro seria o tórrido inferno. E então, quando morresse, queria ser enterrado de fato-de-banho.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Há cerca de dez anos atrás, fizeram-me tropeçar no Cantaloupe Island. Era o tema possivelmente óptimo para ser o primeiro de jazz. Porque não é tão jazzístico quanto isso, é bom para aprendizes: o swing dos nabos safa e não tem uma estrutura harmónica antipática.

Fá menor e quatro compassos daquele riff com groove na entrada. Depois o mesmo mas em ré bemol dominante. Depois tens o ré natural com os kicks no primeiro e no terceiro compasso. E regressas ao fá. Mas não te esqueças que só quatro compassos depois estás no início do chorus, ou seja, tens uma sucessão de oito compassos sempre no mesmo acorde.

Pior que um tema com muitas passagens na harmonia só mesmo um tema modal. O Cantaloupe Island roça o tema modal em alguns momentos mas depois foge em passagens robustas e muito características. As frases cheias e carismáticas sucedem-se apenas por acompanhar a força dos acordes que, embora pouco, movem.


Há cerca de três meses, tropecei neste tema no Youtube tocado por um quarteto de luxo: Pat Metheny, Jack DeJohnette, Dave Holland e, claro, o Herbie. Uma busca casual, aleatória, resultou num achado. Há cerca de uma semana tropecei no DVD com o concerto integral.

Há cerca de uns minutos acabei de o ver.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

A Eurosport está toda contente - porque fisgou o Greg Rusedski para ser o comentador experiente e sabido de serviço durante o Open da Austrália. O inglês previu aquelas banalidades fáceis de prever como o Federer vai limpar isto, é o tipo com maiores probabilidades à partida. Até aqui tudo bem.

Mas depois acrescentou: o principal candidato a estragar a festa do Suíço é o Ljubicic. Porque das últimas vezes que estiveram frente-a-frente, o croata esteve lá muito perto e, se estiver num daqueles dias em que o serviço funciona, tudo pode acontecer. Pronto, aqui já arriscou mais, deu mais o flanco, verdade seja dita que foi necessária mais coragem.

Resultados do primeiro dia de jogos lá nos antípodas, madrugada alta em Lisboa: Ljubicic (que é o quarto cabeça de série) perde em quatro sets contra Mardy Fish. Tem todos os contornos para ser o grande upset do torneio. Um desfecho muito parecido com o da primeira ronda do US Open, lembras-te Greg?

Rusedski, Eurosport, sintonizem no João Pinto do FCP: prognósticos só depois do jogo.

domingo, janeiro 14, 2007

É escusado, acho que nunca me vou habituar a dizer Lisboa-Dakar
Hádes cá vir

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Como bom central que é, Luisão dispensou um advogado de defesa quando foi a tribunal.
Tonnerre de Brest, marins d'eau douce, iconoclastes, espèce d'ectoplasme, mille millions de mille sabords – Sim, estou frustrado porque não consigo arranjar uma imagem do Capitão que seja boa para usar no messenger; só me saem destas que aparecem decepadas.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Alvitrava palpites, debatia soluções, cuspia argumentos. Porém, não havia uma réstia de fundamentação, de lógica sem ser a da batata por detrás de cada frase que proferia. Tudo era uma manifesta amálgama de senso e lugares comuns e muita lábia à mistura.

E então chamavam-lhe Capitão Ad Hoc

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O cúmulo do Welfare State - é os pedintes serem ressarcidos por lucros perdidos nos dias em que há greve de transportes públicos.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

«(…) Entretanto, Lopes-Graça não pensava que devesse escrever música acessível. Essa ideia repugnava-lhe. Entendia que qualquer artista devia escrever a música que acha que deve escrever, por necessidade interior, pela sua experiência emocional, cabendo ao ouvinte fazer um esforço de adaptação, se quer compreendê-lo. Nesse sentido, a música de Lopes-Graça não cede à demagogia. Quando se ouve uma obra de Lopes-Graça em concerto há sempre uma tensão entre o lado emocional e o lado reflexivo. Ele recusa, na sua estética, a manipulação emocional, ou a possibilidade de aproveitamento para esse fim, de algum modo ligadas à tradição clássico-romântica. E esses aproveitamentos tiveram lugar em regimes totalitários. Quando cá vieram as orquestras alemãs, em plena guerra, houve uma frase de Lopes-Graça, numa das suas críticas (na Seara Nova), que é muito elucidativa: «não substituir a acção vivida pela acção imaginada». Essa substituição correspondia a uma comunicação artística em que se dá a catarsis, e em que, por isso, todos os conflitos ficam resolvidos, o espectador envolveu-se emocionalmente e as boas causas triunfaram no palco, e com essa identificação emocional há uma espécie de compensação em relação às frustrações do quotidiano, quando se regressa a casa ou à realidade: «ao menos fez-se justiça no palco…». Eis o que Lopes-Graça não queria. A música de Lopes-Graça tem emoção, ele põe as suas emoções na música que compõe, é um compositor que valoriza a dimensão expressiva, mas ao mesmo tempo há momentos de estranhamento (…). Valem como exemplo as Cinco Estelas Funerárias para companheiros mortos, cada uma dedicada a um companheiro de resistência antifascista (…). Estas estelas ou lápides consistem em cinco fragmentos de marcha fúnebre. Especialmente na marcha final torna-se claro o que eu pretendo significar: estamos à espera de ser empolgados por um final triunfal, e não. No momento em que se pensa que isso vai acontecer, há como um balde de água fria, o processo recomeça em pianíssimo e o discurso fica interrompido. Dir-se-ia uma estética de suspensão, que é muito frequente, se é que não marca toda a obra de Lopes-Graça. Temos a sensação de que os conflitos não ficam resolvidos, de que não há um final, de que qualquer coisa ficou por resolver.»

Pensar a música, mudar o mundo: Fernando Lopes-Graça, Mário Vieira de Carvalho

domingo, janeiro 07, 2007

Lourdes – no francês que lhe dá origem, não é mais do que uma tipa pesada. Ainda por cima no plural, parece uma que vale por duas. Uma forma elegante, chiquérrima, de chamar gorda a uma gaja.

sábado, janeiro 06, 2007

All that vulnerability of yours is really freaking me out right now.

Is it real?


Vera Farmiga diz com a caneca do chá na mão, Leonardo DiCaprio ouve debaixo da aduela da porta. Intervalo de confiança a 90%, ausência de aspas indicando citação devido aos restantes 10%.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

O início dos séculos é chato; estraga a possibilidade de dizer aquelas expressões fantásticas como “nos anos 80”. Porque só funcionam com todas as décadas de 20 para cima. Ninguém diz “nos anos 10 do século XX”. Então nos anos zero, nem se fala. Quando muito na primeira década do tal século.

Faz-me lembrar quando falávamos de dinheiro usando “contos” e “paus” (que saudade…). Toda a gente usava 500 paus ou 1000 paus mas ninguém usava 2000 paus. Com os contos era ao contrário: dois contos sim, mas um conto só se for e quinhentos porque isolado parece uma história.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Péssima gestão de expectativas – acabei de ver um gajo a acartar duas botijas daquelas novas Pluma da Galp.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

De tão agarrado que era – acompanhava as badaladas do ano novo com doze passas num charro.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Meio mundo a fazer balanços do ano que passou. Mais uma página que vira, fiz isto fiz aquilo, não fiz isto nem aquilo mas quero mesmo fazer aquela coisa neste ano que agora começa é desta não falha, rebéubébéubéu, pardais ao ninho. Já para não falar na amizade e na paz no mundo.

Irritam-me os programas noticiosos que costumam aparecer nestas alturas, que fazem um apanhado dos grandes acontecimentos. Irritam-me porque já não me lembro de muitas das coisas que aconteceram no início ou no miolo de 2006. Irritam-me porque me fazem irritar comigo próprio por me esquecer dos motins em França, por exemplo.

Não sei se a minha resolução para 2007 será ter uma memória melhor. Fixar todas estas realidades que se circunscrevem num espaço temporal tão confinado que pouco depois só de lá saem com gruas operadas por pivots da SIC Notícias. O melhor até poderia ser esquecer de todo, sem possibilidade de dizer ah, é verdade, já não me lembrava disto.

Mas para isso precisava de não me irritar comigo por não me lembrar.