quinta-feira, março 31, 2005

Para um recipiente - que não se espera que dilate ou expanda de forma significativa, o depósito de combustível do meu carro espanta-me sobremaneira, deixa-me de boca aberta. De cada vez que vou à gasolineira, consegue sempre engolir mais euros do que da última vez. Parece um atleta que treina incansavelmente.

Practice makes perfect.
Tom Waits – um nome devidamente conjugado
Hélder Postiga – o verdadeiro jogador de selecção

Paulo Ferreira – o verdadeiro jogador de banco

terça-feira, março 29, 2005

De manhã está mais escuro e frio - Custa mais a saltar da cama quando o despertador ruge a horas impróprias e de difícil digestão. A janela não tem muita cor para oferecer, facilmente podemos interpretar mal as indicações do estado do tempo e envergar indumentária pouco apropriada. Já para não falar na hora perdida na noite de sábado para domingo.

Não há mudanças de hora à borla. A volta completa do ponteiro dos minutos rouba tempo ao domingo de manhã ou ao sábado à noite, depende da perspectiva. Mas dá em troca. Há que reconhecer.

Não sou fanático daquilo a que comummente se costuma denominar de “bom tempo”. É verdade, por muito estranho que possa eventualmente parecer, também gosto de frio e chuva. Na devida dose, claro está. No entanto, há uma característica do verão que me atrai imenso. Aquilo que mais gosto no estio são os dias compridos.

Adoro sentir que ainda vou ter horas de luz pela frente quando já são sete ou oito. Que, neste caso, são da tarde, e não da noite, como no inverno. Adoro aqueles dias de praia em que o sol se põe à frente do meu nariz, enquanto começo a sentir progressivamente a temperatura a baixar e vou sentindo a brisa do fim do dia a soprar contra mim, a trazer o sal que se cola à minha pele. Adoro chegar a casa ao fim da tarde e saber que ainda tenho tempo para sair e correr antes de ficar sem luz natural.

segunda-feira, março 28, 2005

To bear in mind – ursar em mente

domingo, março 27, 2005

Não -, não se trata de Chelas. É a zona J no aeroporto de Gattwick
A minha prenda da Páscoa - O tão desejado regresso dos comentários à página. De notar a estreita ligação entre o ressurgimento dos ditos e a quadra (diz-se "quadra" apenas para o Natal ou é também aplicável à Semana Santa?)

sábado, março 26, 2005

Lembro-me - de como só estavas bem a provocar-me. Como me davas dentadas nos lábios, quase me arrancavas as bochechas e a pele do pescoço. Eu desconcertava-te com as minhas piadas parvas e completamente descabidas, queria ver até que ponto conseguirias aguentar um sucessão de tiradas perfeitamente otárias. Quando o teu limite estava atingido, o saco cheio, mandavas-me calar ou então tomavas o assunto mais a peito e tu própria te encarregavas de me fazer parar, com a tua boca.

Ligavas-me, mandavas-me mensagens com ameaças (se não apareceres nos próximos cinco minutos vou-me embora), gostavas de criar um clima tenso. Eu enchia o peito e respondia a preceito algumas das vezes. Baixar a bolinha, ganhar juízo, eram as palavras de ordem que eu debitava. Afinal, tu é que me perguntavas coisas que querias saber sobre mim. Eu é que era o mais velho, supostamente com mais do que contar. E era isso mesmo que me parecia ser a verdade.

No entanto, a única dúvida que eu tinha em relação a ti era aquela que queria mesmo esclarecer. Todas as outras me eram supérfluas e pouco interessantes. Eu não sabia ao certo até que ponto fazias bluff ou eras exactamente aquilo que transparecias. Conseguias confundir-me. Por vezes pensei que ias descair-te e eu poderia finalmente ver a menina nova e inexperiente por detrás da máscara da senhora que gosta de dar dentadas. Mas, logo em seguida, como se te recompusesses de uma queda, lá estavas tu de mira apontada à minha curiosidade.

Era esse o teu jogo. A tua grande arma, o teu trunfo, um ás na manga que tu utilizavas com uma mestria inigualável. Eu dizia-te que não passava de uma brincadeira, nada era sério. Queria salvaguardar a minha posição. E tu respondias com uma pergunta

Então e hoje, não queres ir brincar comigo?

E rias-te quase descontroladamente.

sexta-feira, março 25, 2005

Incompreensão e explicação – O súbito desaparecimento dos comentários não é da minha autoria. Aliás, sequer a admitir a hipótese que pudesse ter sido essa a razão, seria afirmar-me um imolante. Sucede, apenas, tão singelamente, que abri a página, e não estavam lá. Como também, se bem entendo, sucedeu convosco. Não sei o que aconteceu.
Há gajos - com sorte. Que o reconheça Sócrates, depois da revisão com vista à flexibilização do PEC.

quarta-feira, março 23, 2005

Deserto amando nos teus olhos o caminho todo
Se ouvisse as tuas mentiras dirias
Sou um homem sem convicção
Sou um homem que não sabe
Como vender uma vender uma contradição
Tu vais e vens
Tu vais e vens

Karma karma karma karma karma camaleão
Tu vais e vens
Tu vais e vens
Amar-te seria mais fácil se as tuas cores fossem como o meu sonho
Vermelho, dourado e verde
Vermelho, dourado e verde

Não ouvi as tuas palavras malvadas todos os dias
E tu costumavas ser tão doce, ouvi-te dizer
Que o meu amor era um vício
Quando estamos juntos o nosso amor é forte
Quando vais foste para sempre
Tu deixas andar
Tu deixas andar

Karma karma karma karma karma camaleão
Tu vais e vens
Tu vais e vens
Amar-te seria mais fácil se as tuas cores fossem como o meu sonho
Vermelho, dourado e verde
Vermelho, dourado e verde

Cada dia é como sobrevivência
És o meu amor, não o meu rival
Cada dia é como sobrevivência
És o meu amor, não o meu rival

Sou um homem sem convicção
Sou um homem que não sabe
Como vender uma vender uma contradição
Tu vais e vens
Tu vais e vens

Karma karma karma karma karma camaleão
Tu vais e vens
Tu vais e vens
Amar-te seria mais fácil se as tuas cores fossem como o meu sonho
Vermelho, dourado e verde
Vermelho, dourado e verde


Rapaz Jorge

segunda-feira, março 21, 2005

Sondavas o meu pretenso - conhecimento de causa, parecia que a tua vida dependia da informação que, alegadamente ou, certamente no teu ponto de vista, eu te poderia dar. Fazias aquele sorriso que sabias me era irresistível, verdadeiramente fatal

Vá lá, conta lá

E eu tentava explicar-te que não fazia a mínima ideia do que quer que fosse que tu quisesses indagar, fazia a minha cara mais inocente como que para contrabalançar o teu sorriso, franzia-me, as minhas sobrancelhas deviam ficar esquisitas. Não queria contar-te os segredos que outros me confiavam sob a normal condição de nada partilhar com ninguém. Mas a tua intuição cheirava a minha mentira a milhas de distância, qual tubarão que detecta sangue em águas muito afastadas

Eu sei que tu sabes...

Ainda tentava resistir mais um bocado, nem que fosse apenas pela consolação pessoal, o descargo de consciência pelo facto de ter dado mais luta, não ter sucumbido facilmente ante fogo inimigo. Já conhecias a minha estratégia, estavas a par dela, muitas vezes a tinhas encontrado entre ti e aquilo que querias.

Por isso, tinhas sempre a dose de paciência necessária, esperavas mais um bocado, não desesperavas e, acima de tudo, não desistias. Estavas perfeitamente ciente de qual o ponto a partir do qual a areia começava a escapar-se-me por entre os dedos e bastava-te ficares tranquilamente à espera de ouvir

Pronto, está bem, está bem... mas tens de me prometer que não contas a ninguém, ok?

E então o sorriso passava de um misto de cachorrinho e beicinho para satisfação, para reconhecimento de boa vontade alheia e vontade de recompensar. Normalmente com um beijo, não muito longo porque os meus lábios iriam ser necessários para dar com a língua nos dentes.

Quando acabava de contar tudo, sentia-me manipulado.

domingo, março 20, 2005

O domingo é um dia – que ainda sabe muito bem sem deixar de ter o cariz de antecipação da segunda-feira. Aos domingos, as pessoas ficam na cama até tarde, passeiam, aproveitam para fazer desporto ou lavar o carro, tratar daquela coisa lá de casa que andam para fazer há uma série de tempo ou esparramar-se no sofá com o gato a ver televisão.

Hoje estiveram cá amigos para almoçar. Um alentejano de Vendas Novas, como gosta de se apresentar. Comemos umas migas com uma carne de porco de montado que esteve temperada em pimentão, aquele fantástico pimentão alentejano, durante três dias. Uma salada de alface ripada e cebola, com orégãos, coentros e hortelã e uma garrafinha de Borba para fechar a contagem. A mesma garrafa que agora me dá uma sede doida e um soneira que, felizmente, já começou a desvanecer. Depois, morangos e o tão apetecido café, Sical lote cinco estrelas.

Por muito estranho que pareça, a meio do almoço lembrei-me dum senhor chamado João César das Neves. Uma associação não muito linear, pelo menos assim de chofre, dirão vocês. Eu explico. Há dias, mostraram-me uns artigos escritos por esse economista que nada têm a ver com a sua profissão, mas com a sua religião. Sobre a sua visão do mundo, da vida das pessoas, do futuro da nossa sociedade.

A ideia central do discurso pode ser resumida na seguinte frase: na sua demanda feroz pelo prazer, o Homem em nada conseguiu melhorar as suas condições de vida e não é mais feliz por isso. Daqui decorre que as moderações preconizadas pela Igreja Católica são, portanto, benéficas, na medida em que refreiam este ímpeto insalubre. No entanto, aquilo que li foca-se apenas essencialmente em sexo, homossexualidade, pedofilia e na fantástica palavra “deboche” que, como o Ricardo Araújo Pereira notou, é repetida até à exaustão. Enfim, quem ainda não conhecer e quiser ter o prazer, é só pedir, terei muito gosto.

O domingo que tive hoje, até agora, foi de enorme prazer para mim. Acordei relativamente tarde, tendo em conta os meus padrões semanais. Fui nadar, o que relaxou o meu corpo que há duas semanas não entrava na piscina. Depois participei no fantástico almoço, obra-prima da gastronomia portuguesa. Estive em óptima companhia, falámos, metemos a conversa em dia, rimos, divertimo-nos. Agora estou a ouvir músicas avulsas de Coldplay, enquanto vejo a chuva miudinha cair e escrevo este texto.

Não consigo imaginar a minha vida sem prazer. Aliás, prazer será talvez o único grande desígnio da minha vida. Seja de que tipo for.

Alguns muito banais. O prazer de comer uma refeição de excelência, de apanhar sol na cara num dia frio, de sentir o cabelo ao vento, de enterrar os pés na areia da praia, de pegar no carro e conduzir sem destino, de fazer as malas e viajar.

Outros mais cerebrais, culturais, embora sempre muito sensitivos. O prazer de um livro, de um disco, de um concerto, de um bom filme, de uma sala de cinema bem escura.

Outros que fazem bem à auto-estima, ao ego. O prazer de ver o meu trabalho ser reconhecido, de ultrapassar obstáculos, de estipular metas e atingi-las.

Outros talvez sociais. O prazer que são os amigos, de um café que é apenas um motivo para pôr a conversa em dia, das borgas, das irreverências próprias da idade.

Outros sem definição possível. O prazer da família, de amar e ser amado, de uma paixão forte, de passar a noite com uma linda mulher e acordar enroscado nela na manhã seguinte (sim, finalmente cheguei ao famigerado sexo).

Caro João César das Neves, estarei eu condenado?
Disse-me que no dia em que descobriram o DNA – tiraram a piada toda aos policiais. Nas histórias de crimes modernas, o importante é ver se há impressões digitais, cabelos, fragmentos disto ou daquilo, tudo pormenores técnicos que se estudam em laboratórios com equipamentos sofisticados. As deduções de tipos como o Poirot ou como a Agatha Christie eram muito mais interessantes, mais inteligentes na medida em que não tinham técnicas deste género disponíveis.

sábado, março 19, 2005

A baby do milhão de dólares – tem também igual quantidade de clichés. O realizador não quis centrar a originalidade no facto de o boxe estar presente no filme, mas sim na relação entre a empregada de mesa e o treinador dono de um ginásio da especialidade, é a frase que tenho ouvido amiúde.

Mas vamos à lista:
1 – o treinador não acede de imediato ao pedido da pugilista para que a ajude mas acaba por ceder.
2 – a pugilista progride imenso e revela-se um talento nato
3 – no combate em que perde, é contra uma adversária com um passado duvidoso, má como as cobras, e que recorre a golpes sujos. Aliás, é esta a única forma com que a consegue derrotar.
4 – a empregada de mesa tem problemas pessoais e familiares e o boxe é tudo o que tem na vida, daí a garra e a vontade que lhe dedica.
5 – há sempre um tipo meio parvinho e tótó nos ginásios e um armado em parvo, que acaba também sempre por levar uma lição que arranca do público uma ovação ou qualquer outra manifestação de aprovação.
6 – no fim, a pugilista perde
7 – no fim, a pugilista morre
8 – o treinador tem problemas familiares também e afeiçoa-se à aprendiz como força de os colmatar. Mais, aprende com ela a tentar resolvê-los.

A personagem de Morgan Freeman alerta para o facto de que as jogadas sujas da pugilista alemã podem ser mortais. A questão do cão paralítico que o pai e o irmão da empregada de mesa abateram conta, a meio, o fim.

O "Mystic River" foi muito melhor. E quem viu "O Campeão" com o John Voight já viu quase tudo o que há para ver em matéria de filmes de boxe.

terça-feira, março 15, 2005

Privar os espanhóis da bela da siesta seria condená-los a morte certa. Acabar com as baguetes em França provocaria uma greve fome generalizada e nunca antes vista. Vender carros na Itália sem buzina poria os ragazzi de cabelos em pé. Se, de um dia para o outro, os cafés em Portugal passassem a ser todos Starbucks, o país encerrava de vez. Já se sabe, nestas coisas, cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso. Que é como quem diz, cada povo com a sua mania.

Mais do que manias, alguns povos têm fobias. Como, por exemplo, a aldeia dos irredutíveis gauleses nas aventuras de Astérix e Obélix. Bravos guerreiros, impossíveis de vergar pelos megalómanos romanos sofriam, no entanto, de um infundado medo de que o céu lhes caísse na cabeça.

À semelhança deste pequeno reduto gaulês do Império Romano, também os britânicos da actualidade padecem de fobia extrema e generalizada, a de ficar entalado numa porta e dar cabo da cara, da fuça, da tromba, dos cornos, da cremalheira. No metro, nos elevadores, gravações mecânicas e metronómicas repetem advertências de precaução para com as portas que se vão fechar. Mais do que isso, os condutores dos veículos, pessoal que trabalha nas plataformas adverte através do sistema de som que o comboio está pronto para partir e que, portanto, há que ter cuidado com o fecho.

Talvez assim se justifique a parca beleza facial. Também generalizada.

segunda-feira, março 14, 2005

Penafiel - , um clube impecááááááável.
Chamada de atenção - para o novo link na Prata da Casa.

Bem-vindo a bordo
E depois – chegar a casa. Abraços. Distribuir as lembranças. Arrumar as tralhas todas nos sítios onde ganham pó. Ver as fotografias, mostrar as fotografias enquanto se contam as peripécias a uns quantos pares de olhos esbugalhados com alguma inveja à mistura.

Entretanto o passar do tempo
E depois recordar. Quando se fala durante muito tempo sobre as recordações, começam a gastar-se um pouco. É necessário deixá-las adormecer, ganhar vitalidade para as soltar outra vez.

A nostalgia é o preço a pagar pela vida.

quinta-feira, março 10, 2005

Mind the gap Mind the gap - ladies and gentlemen this is the district line for Upminster. This train is ready to depart. Ladies and gentlemen, stand back from the closing doors, mind the doors please. Mind the gap Mind the gap

domingo, março 06, 2005

O classico maior - de quem se encontra no estrangeiro e quer escrever alguma coisa na lingua lusa e, obviamente, a ausencia, total ou parcial, de acentos nos teclados. Em terras de sua Majestade, pior um pouco, nao ha qualquer tipo de acentuacao possivel de fazer.

De maneira que, os avisos do tipo desculpem, mas vao ter de imaginar os acentos neste texto porque nao os consigo colocar tornaram-se banais, corriqueiros. Sao uma quase afirmacao da condicao de viajante, de pessoa que gosta de se deslocar, de cidadao do mundo. De alguma promiscuidade em relacao a quantidade de teclas que passam por debaixo das cabecas dos nossos dedos.

Ou seja, duas razoes estao por detras deste texto. Em primeiro lugar, e uma actualizacao do site que pretende explorar a problematica da diversidade linguistica, claro esta. Em segundo lugar, e uma forma rasca que arranjei de dar ares de cromo e de fazer pirraca a quem ficou na Lusitania.

Pior um pouco. Foi tao rasca a minha iniciativa, tao baixa e de qualidade duvidosa, que mete medo. Foi uma autentica apologia a manutencao de aparencias, ao mau gosto dos que se armam em carapau de corrida. A moda de carro quitado ou camisinha aberta com pelugem no peito e medalhao grande. Nao acreditam? Eu mostro. E serve de exemplo para os extremos a que posso chegar.

É que, para confessar, eu até tenho aqui acentos (o laptop é português)

sexta-feira, março 04, 2005

A cenoura – é um legume giro, porque não serve só para fazer os olhos bonitos como as avós juram a pés juntos. A cenoura tem a grande vantagem de proporcionar uma das metáforas mais importantes. Aquela de, quando colocada à frente dos olhos, provocar uma atracção, um fascínio, que impele à caminhada, à progressão.

Se, por um lado, pode ser um defeito o facto de me fartar muito depressa de qualquer coisa, de ser volátil e brusco, também pode ser uma qualidade. O tédio e o aborrecimento atormentam-me amiúde e fazem-me sofrer atrozmente. Poucas coisas me afligem mais, tirando possivelmente o Toy a cantar, que sentir-me a necessitar drasticamente de uma mudança. Identificar a vontade, provocar a alteração, adaptar. Mesmo com todas as confusões inerentes, costuma ser de um gozo doido.

Uma das formas de combater o tédio, por excelência é viajar. É, talvez, a minha maior cenoura, com mais caroteno e laranjinha que conheço. Viajar é sempre uma quebra na rotina, são sempre dias diferentes, momentos diferentes. Sítios diferentes. O tempo parece abster-se de nos arrastar pela corrente dos anos. Numa semana, podemos criar mais recordações daquelas que ficam para sempre no álbum pessoal do que num ano inteiro de “vida normal”.

Por isso, adoro a parte de planear, de organizar uma saída. Pensar no destino, abrir os mapas, ver distâncias. Depois, os transportes, combinar coisas como as datas, acertar as agendas de um grupo de pessoas. Melhor de tudo, cereja em cima do bolo: passar meses a desejar que chegue a altura.

Há cerca de meio ano que a viagem que estou prestes a fazer anda na forja. Talvez um bocadito menos, cinco meses. Estou em pulgas, obviamente. Como sempre. Gosto de fazer a mala devagar, ao sabor dos telefonemas de despedida, das consultas dos sites de meteorologia, das coisas importantes de que quase me esqueço. (enfim, às vezes esqueço-me mesmo). Podia fazer a mala numa horita. Ao invés, demoro uma tarde inteira.

Não durmo a noite toda. Sonho com aeroportos, aviões, confusão, línguas estrangeiras, transportes públicos com redes muito extensas. Mais importante: reencontros. Reencontros com amigos. Reencontros connosco próprios, quando regressamos a sítios por onde já passámos e em relação aos quais deixámos algures algumas referências no fundo da memória. Reviver.

Vai ser assim a minha Londres. Onze, doze anos depois da primeira vez.

quinta-feira, março 03, 2005

Não te oiço. Juro que não te oiço. Absolutamente nada. Embora consiga ver que os teus lábios mexem, que a tua boca se move, que a tua expressão se altera, que gesticulas para acentuar o que dizes, talvez até consiga sentir as vibrações na minha pele, nos ossos da minha face, mas não reconheço nenhum som. Nada.

E tu continuas a debitar qualquer coisa, falas como se eu te devesse compreender perfeitamente, falas como se fosse normal que eu percebesse, não colocas sequer a hipótese de que só não te interrompi porque não quero que te zangues comigo.

Só quando paras porque esperas que te responda, que conteste o que dizes, que tente ser bem sucedido a provar-te errada, e vês que fico imóvel, quedo, sem saber o que fazer, algo em ti desperta. Primeiro tocas-me, empurras-me, abanas-me, queres que me mexa, que acorde, que desembuche. Depois perdes a paciência e dás-me um estalo. Forte.

Cujo som, esse sim, distingo lindamente.

quarta-feira, março 02, 2005

Há vários elementos nos desafios de futebol – que provocam em mim um estado generalizado de confusão e estupefacção. Não vou desatar a enumerar todos, seria uma verdadeira hecatombe. Vou falar de um, concretamente. Aliás, vou referi-lo apenas, sem sequer tecer qualquer tipo de comentário que possa lançar mais achas para a fogueira. Puxem uma cadeira, sentem-se confortavelmente e cogitem comigo.

Porque razão trocam os jogadores de futebol as camisolas suadas, sujas, porcas dos equipamentos no final dos jogos?

terça-feira, março 01, 2005

O destino – é demasiado irónico para o meu gosto. Todas as ocasiões menos más para me engripar foram-me presenteadas ao longo deste ano. Família doente, amigos, colegas de trabalho. Toda a gente que me rodeia. Nada me afectou. Hoje, que entrei de férias, tive de recusar convites para cowboiadas porque os primeiros indícios surgiram. E como necessito imperiosamente estar saudável no fim-de-semana, precaução está na ordem do dia.

Apetece ou não estrafegar o destino?