sexta-feira, outubro 31, 2003

Desta feita, um saltinho até à capital dos germânicos. Seiscentos e cinquenta quilómetros de auto-estrada. Vai ser divertido.

Até segunda.

quinta-feira, outubro 30, 2003

Passatempos - Há um tipo ou uma tipa que passa uma tarde inteira para que lhe consigam vestir um fato com uns apetrechos que parecem lantejoulas, uma coisa verdadeiramente berrante, a começar pelos tons dourados do colete e a acabar no cor-de-rosa das calças. É suposto que esta pessoa entre na arena e, com um pano vermelho garrido num dos lados, atraia a atenção da besta e lhe faça umas fintas enquanto os espectadores, deliciados, batem palmas e soltam profundas exclamações de cada vez que o animal é enganado.

Antes desta parte, já houve quem abrisse caminho. A besta é devidamente cansada e ferida por um outro “ser humano” que, com o seu belo traseirinho torneado pelo mesmo tipo de calças e com um casaco mais comprido a fazer lembrar um fraque a levar para um baile máscaras, sentado num puro sangue, lhe vai espetando uns ferros compridos e vistosos no dorso que acaba, geralmente, bastante ensanguentado.

Há também aquele grupinho, encabeçado por um mais corajoso, que dá o corpo ao manifesto, e que aguenta com os cornos da investida de centenas de quilos movidas por quatro possantes patas, depois de atrair a atenção sobre si mesmo com uma espécie de palavras de ordem.

Em Espanha, isto ainda acaba melhor porque ao primeiro elemento que descrevi cabe a estocada final no já moribundo animal, com uma espada que esconde o tempo todo no referido pano.

Olé.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Opiniões – não venho para aqui advogar o sistema de ensino desta faculdade, nada que se pareça. Porém, há verdades que devem ser ditas. E, possivelmente a característica que mais aprecio neste estabelecimento de ensino e nos respectivos alunos em particular é o à-vontade com que as pessoas discutem e expressam a sua opinião. É óbvio que o sistema a isso propicia: turmas pequenas em que toda a gente é obrigada a intervir e participar activamente na discussão, bem como a fazer apresentações para o grupo de dez, doze pessoas.

Uma grande lição para todos nós, penso eu. A liberdade com que cada opinião é respeitada... eu penso que é assim tu pensas que é assado; simples como é e devia ser. Cada trabalho produz resultados díspares entre os diferentes sub-grupos que se vão intercalando a apresentar as aulas: o que achas disto, o que achas daquilo...E há sempre feedback, a oportunidade para ouvir sempre observações positivas e críticas verdadeiramente construtivas, bem como ideias para colmatar as possíveis falhas apontadas.

O professor está ali só para guiar um pouco a aula se achar que segue um curso menos indicado ou para salientar pontos que não foram abordados. E, é claro, para dar um carácter mais formal à avaliação que é dada por cada apresentação ou dissertação. Contudo, a sua presença é tão suave e indiscreta que mais parece tratar-se doutro colega que assiste àquela aula.

Obrigado Maastricht, nem que seja só por isso já me ensinaste muita coisa

terça-feira, outubro 28, 2003

Viajar - De Maastricht a Kandersteg, no coração dos Alpes suíços. E, estranhamente, só me ocorria uma outra viagem, completamente diferente na sua natureza e nos pontos de partida e destino. De Londres a Hong Kong. A primeira feita à custa de centenas de quilómetros de carris, a segunda de milhares de quilómetros a uma altitude de dez mil metros.

Porquê? Sensivelmente onze horas e meia de duração. De resto, mais nada em comum: em Kandersteg nevava, em Hong Kong nunca vesti mais que uma T-shirt; em Kanderteg pernoitei num centro de escoteiros, o hotel de Hong Kong tinha cinco estrelas; Kandersteg é de uma calma absurda, o porto de Hong Kong dá novos contornos ao adjectivo caótico.

Foi então que me lembrei de explicar assim o que viajar significa de prazer para mim. Não gostaria de viver naquela parte dos Alpes. A pasmaceira calcinar-me-ia os nervos em três tempos. E a confusão da Região Administrativa Chinesa naquele misto de humidade lancinante e raios solares não me faria melhor.

Contudo, ver quanto os olhos podem ver, cheirar quanto a penca pode cheirar, absorver o que é possível de cada sítio é levar connosco algo que fica para sempre, imutável e inexorável, no imaginário. E os contrastes que se nos apresentam pela frente abrem-nos novos caminhos e perspectivas, visões e ambientes.

E essa é a nossa verdadeira bagagem, não aqueles objectos onde enfiamos calças e coisas desse género.

segunda-feira, outubro 27, 2003

Várias vozes, qual novos valores, usando aqui um pouco da linguagem do Poeta, se têm alevantado ultimamente para me acusar de me estar a tornar num verdadeiro netódependente. Não vou relevar nomes, não vou dizer que a minha irmã é a principal visada neste texto, não faz parte da minha personalidade apontar o dedo e lançar a pedra inicial à primeira Maria Madalena da esquina.

É bem possível que seja verdade, não nego, sou um bocado como aquela senhora chamada Alcina Lameiras (acho que era assim o nome dela) que, até há uns anos atrás, aparecia na televisão, primeiro vestida normalmente com as suas calcinhas, lá mais para o fim de mini-saia de cabedal, a dizer “não negue à partida uma ciência que desconhece” enquanto procurava aliciar o incauto telespectador a requisitar os seus serviços de astrologia através duma chamada telefónica para uma linha que funcionava 24 horas por dia. O que, a meu ver, significa que ou a mulher era sobredotada com uma capacidade de trabalho anómala ou tinha muitas amigas que também precisavam dum tacho para complementar a reforma.

Mas o que verdadeiramente interessa, a questão fulcral, o cerne, o busílis não é o facto de eu (e reparem bem como o assumo com toda a franqueza, sem rodeios) ser um netoólico (sim, estou ligado normalmente o dia inteiro...). A questão é descortinar qual ou quais os problemas de se padecer desta condição.

Já pensei nisso e não descobri inconvenientes. Aliás, aproveitei para elaborar uma pequena lista de vantagens. A saber: falo praticamente todos os dias com amigos com os quais, possivelmente, não falaria doutra forma; recebo e envio mails giríssimos; e, como não podia deixar de ser, escrevo estes textos para ver se os outros se divertem comigo como eu me divirto a fazê-los.

Anything else?

quinta-feira, outubro 23, 2003

Os Alpes suíços vão ser a minha próxima desculpa, não-esfarrapada, para deixar esta página desemparada durante uns tempos. Depois de ontem ter passado um dia em Haia a conhecer as maravilhas que a cidade proporciona a quem para lá se desloca para estudar música, parto hoje ao início da tarde numa viagem de sete horas até Kandersteg, uma povoação que fica a 1500m de altitude. Já empacotei roupinha bem quentinha, falta-me levantar mais dinheiro porque parece que para aqueles lados ele desaparece com relativa facilidade.

Até domingo

terça-feira, outubro 21, 2003

Ever since I was this tiny little boy (not that long ago...) I knew I wanted to go college. Why? I still question myself about the actual motivations. And, to be honest, even today, the day my final exam needed to graduate took place, I still do not know them exactly and don’t even think it’s that important to lose much time trying to find them out.

Instead I focused on understanding why am I feeling somewhat… weird. One should expect a very recently graduated guy to be happy as hell, screaming and shouting, jumping all over the place. Somehow, I don’t feel like doing that. My explanation for that, after extensive and thorough thinking and some introspection, is as follows:

In my case, things were a bit different. In my last semester in Lisbon I finished all the courses I had to go through to graduate except for one (yes, I only had to pass a course here in Maastricht… I’m lucky but I’ve worked for that…). It was almost as if I was already done. I took part in all the graduation ceremonies that we have in Portugal. I experienced relief and I was glad with my accomplishments. It is good when you achieve something important for which you had to work, to put some effort and dedication. Because being a student is not just about partying. It involves work and lots of boring hours in front of books, as well as a few grey hair and some burned eyelashes.

But I never felt it was over. Done with. Gone with the wind. Because there was always this last course. And the feeling of emptiness that normally comes with the end of something meaningful just wasn’t there. It came now. It’s like if I wrote a big sentence back home and then waited to come to Maastricht to finalize it with a full stop. But sometimes, that very last step that seems to be the least meaningful, is the one that gets you thinking the most. And it just goes to show that no matter how much more experience age gives you in dealing with life’s mysterious ways, it is always difficult to handle changes and new realities.

Big changes await me now. And I have no other choice but to be ready.

segunda-feira, outubro 20, 2003

Timing - someone’s ability to choose the most suitable time to do something: Good comedy depends on timing.

In Longman Active Study Dictionary, 1998

domingo, outubro 19, 2003

The Fresh One - Se bem que o único de nós que referiu a denominação no link que colocou na respectiva página foi o Miguel, as mensagens com um carácter mais inquisitivo não têm faltado. Pois então, cá vai a minha explicação.

Ora bem, ele não é o Fresquinho por causa desse fresquinho mais banal, de carácter brejeiro, saidote da casca, nem por causa dessoutro fresquinho fresquinho, tão comum por estas paragens. Ele é Fresquinho porque tem uma incapacidade aguda de se exprimir sem referir o dito vocábulo, usado nas mais variadas acepções que o mesmo pode assumir, e mais outras tantas pelo próprio Fresquinho inventadas.

Entretanto, tal não é o reboliço que vai dentro das mentes jovens, normal e saudável diga-se em abono da verdade, onde já se viu um tipo novo sem imaginação, que, com o andar da carruagem, novas situações passíveis de com fresquinho serem caracterizadas assim o são por nós próprios que não o Fresquinho, ao gosto do freguês. Diz que é contagioso. E a própria tradução anglo-saxónica também não compromete.

Toma lá fresquinho, Fresquinho.

sábado, outubro 18, 2003

Propinas - Há um bom exercício, não físico, mas de apreensão da realidade que recomendo a todos vós. É simples, algo eficaz e não consome quase tempo nenhum. É o seguinte: façam favor de dar uma olhadela ao parque de estacionamento duma qualquer faculdade pública. Na minha, que aceito que me digam não ser o melhor exemplo porque é um extremo, houve recentemente alguns problemas com a introdução dum novo sistema de pagamento para se usar o respectivo parque. As senhas esgotaram imediatamente e não chegam para a procura.

Está comprovado, há estatísticas que o indicam. A maioria dos jovens que frequentam o ensino superior em Portugal e, ainda mais, o público que, na generalidade dos casos, é tido como melhor e imensamente mais barato, são de classes sociais mais elevadas e com maiores recursos económico-financeiros. Assemelha-se-me como de elementar justiça social e tributária que estes paguem efectivamente pelos estudos que estão a receber uma vez que têm capacidade para tal. A alternativa, uma propina que equivale a uma pequena porção do verdadeiro custo que a sua educação representa, o anterior sistema em vigor, é o mesmo que dizer que estão a ser subsidiados aqueles que deviam ser contribuintes liquidos para a sociedade e que o resto do país, composto em parte por outros contribuintes cujos filhos não beneficiaram deste subsídio, está a suportar esta despesa.

Estamos a falar de um bem misto. A sociedade beneficia com a educação dos seus cidadãos, um clássico exemplo duma externalidade positiva importante. Inegável. No entanto, o indivíduo também beneficia largamente com a sua qualificação profissional. Sejamos honestos: auferir um salário melhor e atingir uma melhor qualidade de vida são grandes motivações para ingressar num curso superior. O domínio de conhecimento tem e gera valor, é normal que seja recompensado.

É claro que há pessoas que não podem comportar a despesa. Para tal existem os sistemas de apoio financeiro, já em funcionamento e que podem ter uma maior capacidade de financiamento se parte do dinheiro das propinas para eles for canalizado. Necessitam, como necessita igualmente em larga escala a máquina fiscal nacional, de melhores métodos de detecção de fraudes de “meninos” que conseguem iludir o sistema e tornar-se isentos do pagamento de proprinas, assim como meter ao bolso uns trocos que sempre dão para a gasosa e as portagens.

sexta-feira, outubro 17, 2003

Killer Queen, como está? – sou normalmente alto e magro. Pele olhos, cabelos, tudo bastante claro, incluindo também um grande piano que, no meio dum sorriso mais maroto, podia fazer um anúncio para uma qualquer marca de pasta dentífrica. O couro cabeludo é curto, rapado de lado e maior em cima, para tornar possível a aplicação estratégica de gel, substância milagrosa que permite que me transfigure num pseudo-porco-espinho após ter sido mergulhado em lixívia. Neoblanc, é claro, para não fazer “straaaaappp”.

As minhas calças são justinhas, especialmente na zona da cintura e coxas, uso umas camisas com riscas de alto a baixo, com grandes colarinhos abertos que deixam entrever um fio de prata com medalhão, às vezes com pequenos folhos nas mangas ou complementadas por um lenço fininho na zona do pescoço. As botas são daquelas que fazem barulho quando se dá o mais curto passo que seja e levam a que me perguntem vezes sem conta ou estacionei o meu cavalo.

Tenho sempre um copo, garrafa ou lata na mão, embebedo-me frequentemente, falo uma língua estranha, gosto de sandes e ando a aprender espanhol porque gosto de latinos e de dançar. Por falar em dançar, sou um perito, em pleno acto de meneamento, em atingir com o meu traseiro gajos do sul da Europa mais ou menos por alturas dos ombros deles, dada a modesta estatura que estas criaturas apresentam. Por vezes, complemento isto tudo com uns óculos de armação prateada e fininha.

Ai eu ai eu

quinta-feira, outubro 16, 2003

Dinheiro move o mundo – uma das frases mais clássicas e clichés de que reza a História. É ele que faz eventos e coisas acontecerem, que semeia amores e ódios, paixões e guerras, que gera bons e maus, que nos põe em casa toda a parafernália de produtos e confortos do dia-a-dia.

Mas será mesmo essa a grande motivação das pessoas para andar para a frente? Será essa a única cenoura que se nos aparece à frente dos olhos, impelindo-nos a dar ainda mais um passo para a tentar agarrar, para não a deixar escapar novamente?

Permitam-me avançar com uma teoria um pouco mais romântica e, possivelmente, igualmente prosaica. E se for o amor e o seu alter ego os responsáveis por tais motivações de vida? Porque tudo passa por querermos desesperadamente, a todo o custo, ser felizes. Seja qual for a forma de a esse ponto chegar.

Até porque, no fundo, o amor ao dinheiro nada mais é do que o desamor em relação a muita outra coisa.

quarta-feira, outubro 15, 2003

Noites - Seria a bendita da Sherazade que lia as histórias? Já não me lembro, nunca tive muito jeito para este tipo de contos. Mas o que é certo é que ninguém conseguirá alguma vez apagar o misticismo do número. Talvez contribua concomitantemente para isso o facto de ser uma capicua, a primeira que se obtém depois de ultrapassar a casa do milhar. E que bem que fica ali, cimeiro, amarelo no verde.

Para mim, neste preciso momento, o misticismo é associado a uma espécie de ritual de passagem, um pequeno momento de satisfação pessoal que pretendo seja contagiante a quem está do outro lado, à tão indispensável audiência. Como se uma pequena estrela num céu limpo de frio Inverno nos aconchegasse a chegada ao abrigo do telhado com um ligeiro cintilar que mais parece piscar-nos o olho.

Dank je wel.

terça-feira, outubro 14, 2003

Senhor Menistro Paulo Portas,

Gostei muito da sua carta com um convite da defeza para ir até Lisboa. A única vez que lá tive foi para ir à inspessão e gostava de voltar. Mas queria levar a minha mãi e a minha namorada comigo porque elas ainda não virão Lisboa e queria mustrar a elas o mar. O Senhor Menistro, se não se importasse, marcava-me mais duas viagens e um quarto para elas. Assim tãobem excuzava de ir sosinho.

Obrigados

segunda-feira, outubro 13, 2003

Traumas linguísticos – Também sinto isso na pele. Aliás, passo a vida a gozar com as situações engraçadas que pode gerar. E, depois, claro está, ou não fosse eu um pseudo-filósofo de trazer por casa, desato a pensar na questão.

Porque será que uma qualquer canção com letra em inglês soará, pelo menos em 95% dos casos, altamente pindérica e de mau gosto se for traduzida à letra para a língua de Camões? Estranho. Mas acontece.. A tal ponto que até percebo a relutância de muito artistas da nossa praça em optarem por escrever letras de músicas em português e usarem, ao invés, a língua de Shakespeare.

Porque é que expressões como “amo-te” soam demasiado fortes, difíceis de dizer, distantes, quando nas outras línguas são constantemente vomitadas, nas mais variadas situações (às vezes, somos mesmo nós a fazê-lo)? Quererá tal querer dizer que, o significado, em português, mantém-se no seu estado puro, não adulterado, enquanto que nas demais línguas está a ficar gasto, banalizado?

Será um extremo requinte latente na orelha nacional? Se sim, porque parece só ser activado na com a nossa língua? Ou será, antes, um complexo de inferioridade? Uma negação da identidade cultural?

Entretanto, podem sempre continuar a não traduzir músicas à letra e a dizer “gosto de ti, porra!!”.

domingo, outubro 12, 2003

Insólito #3 -
Ambrósio, apetecia-me algo....
Sim minha senhora...?
Apetecia-me algo.... bom
Tomei a liberdade de pensar nisso
Hummm, uma "gauffrezinha" au chocolat....

Oooohhh, bravo Ambrósio!!

sexta-feira, outubro 10, 2003

Análise #2 – O mesmo em relação a pessoas. Passar tempo a tentar entender porque alguém é assim ou assado em vez de outra forma qualquer pode ser algo complicado, tipo apanhar moscas com uma carabina.

O comportamento de todos nós não é linear, não é um manual de álgebra com vectores e determinantes. Somos todos intrinsecamente incoerentes. Quantas vezes já deram por vocês a apregoar algo durante uma série de tempo, qual Padre António Vieira a dar um sermão aos peixes, e depois, na primeira hipótese, praticaram o crime? Quando se consideram questões do coração então as situações são imensas. Já para não falar que é normal mudarmos de opinião em relação a muitos aspectos à medida que o tempo passa.

Nunca estamos contentes, é da nossa natureza. E ainda bem que assim o é. Mas isso, só por si, é o mesmo que dizer que é inútil a pretensão de esquematizar o comportamento humana com a ajuda dumas quaisquer pseudo-regras chapa quatro. Mais ainda, ficar imensamente decepcionado com tal pessoa por causa de tal reacção que, no fundo, não é tão importante quanto isso.

Por vezes, há que dar mais importância Carpe Diem do Robin Williams no “Clube dos Poetas Mortos” e deixar seguir as coisas como são.

quinta-feira, outubro 09, 2003

Amiguinhos - Ando outra vez a pensar. Coisas que acontecem, não há nada que possa fazer, não se pode lutar contra a inevitabilidade. Desta vez sobre questões do coração. Já devem estar a pensar que vem lá qualquer coisa sumarenta. É capaz. Vejam lá o que acham disto e depois digam qualquer coisa.

Aquela velha história da excelentíssima menina que tem um excelentíssimo amigo (ou vice-versa, para o mesmo efeito). Mas são só amiguinhos, nunca nada de mais se vai passar entre eles. Não é verdade, somos só amigos, né? Explica-lhe lá. Nem sequer lhes passou alguma vez pela cabeça qualquer tipo de coisa diferente, mais para a “frentex”. E, para dar um pouco mais de intensidade telenovelística à descrição, podemos até dizer que um deles, ou mesmo os dois, têm parceiro ou parceira.

No entanto, há um ponto em que se sente, sobretudo quem está por fora da questão, que ou ambos são de raciocínio lento ou mentem com quantos dentes têm. Pessoalmente, prefiro a hipótese da peta. Só mesmo porque lentidão cerebral não dá jeito nenhum, não é por mais nada, descansem. Porque para criar a situação ou contribuir para que adquira contornos mais marcados, qualquer uma delas serve. Soluções? Bolas, tenho mais que fazer....

Vida real: tenho um amigo que diz que adora o jogo. É possível. Eu é que não gosto de o ver na fossa quando a jogada lhe corre menos bem. E presumo que ele também evite o espelho nessas alturas. Felizmente não usa pente. É tudo muito giro, divertido, envolvente, emocionante, esfuziante, inebriante, avassalador. Desde que resulte como queremos.

No mínimo.

quarta-feira, outubro 08, 2003

Ensino superior - Poder-se-á atribuir alguma parte da responsabilidade do fenómeno ao tão falado cáracter saudosista português? Não faço ideia. Mas o que é certo é que, segundo apontam os resultados deste ano, os engenheiros continuam a faltar. Vá lá, menos mal, os candidatos a professores já são menos, era mais que altura para ser enviado e percebido o sinal de que o sector estava a ficar saturado e complicado.

Há mais. Não sei se hei-de achar bom o facto de quase 90% dos candidatos da primeira fase terem ficado colocados. É um facto de que são menos. Talvez devido ao envelhecimento populacional, não sei ao certo. Só tenho medo que haja, uma vez mais, um clima de facilitismo associado, mormente quando é transmitida a ideia do contrário.

Mais: as propinas subiram. Até houve uns maduros que baricaram um cabecilha da Faculdade de Ciências Humanas da Nova (acho que foi aqui) com rolos de papel higiénico no montante do novo valor anual que vão ter de pagar para estudar. Ora, isto é um compromisso sério no que concerne à qualidade do ensino ministrado. Não se pode esperar que se aceite um aumento, em muitos casos, drástico dos montantes praticados que eram, efectivamente, baixos quando comparados com o verdadeiro custo suportado pelo Estado, sem contrapartidas.

Que contrapartidas podem ser essas? Penso que sobretudo se prendem com as instalações e meios técnicos. É costume dizer-se que não se podem fazer omoletes sem ovos. Porém, também não é nada prático fritar os ovos sem figideira ou sem um fogão Não dá jeito nenhum.

Hei-de voltar a isto, estabelecendo comparações entre a minha faculdade lisboeta e a minha holandesa. E, é claro, falta falar a sério das malvadas das proprinas...

terça-feira, outubro 07, 2003

Análise #1 - Que mania que por vezes temos de querer entender tudo. Observar as coisas, analisa-las, descortinar o porquê disto ou daquilo. Pode ser interessante, sem dúvida, se viesse para aqui advogar o contrário então estaria a ser terrivelmente incongruente porque é o que passo a vida a fazer neste singelo pedaço do espaço sideral que é a Internet.

Contudo, tudo tem os seus limites. Como não pode deixar de ser. E então pergunto eu: para quê querer sempre dissecar um poema, uma canção? Será que precisam ter em todas as alturas uma decifração, um qualquer significado semi-obscuro que lhes confere integridade e coerência? Será que não podem pura e simplesmente existir pela sua beleza não explicada, não estudada?
Até porque, nas palavras do Poeta,

Autopsicografia

segunda-feira, outubro 06, 2003

Padrões - O único canal passível de se ver no último bastião do Império Colonial Português para um luso-falante tinha uma grelha exclusivamente centrada em programas que haviam sido transmitidos há muito na metrópole. Porém, dada a inexistência de alternativas, teve de servir.

Um desses ditos programas, do qual não me lembro o nome, era apresentado pelo Maestro Vitorino de Almeida. O objectivo era divulgar e fomentar as pequenas filarmónicas que, felizmente, grassam pelo rectângulo à beira mar plantado. Para tal, eram submetidas a um concurso: tocavam e eram avaliadas por um júri. Não me recordo de todos os elementos mas recordo-me do Maestro António Calvário.

Porquê? Um dia, deu à costa um agrupamento que deixava muito a desejar. Desde a afinação até à escolha de repertório. E foi sobre esta última que a crítica incidiu forte e feio. E ele, em questão de críticas, não usa propriamente paninhos quentes. Segundo o Maestro, a sabedoria popular meteu a pata na poça. Os gostos discutem-se efectivamente.

E agora? Aquele que possua o padrão, a chave pela qual se interpreta a música, que permite diferenciar a boa da má, é favor dar um passo em frente e elucidar-nos. Porque enquanto há temas que facilmente catalogamos como de qualidade ou não, há outros em que a discussão é demasiado polémica.

Mas percebo perfeitamente o que ele quis dizer e acho que faz todo o sentido.

domingo, outubro 05, 2003

Insólito #3 - É com grave consternação que comunico uma notícia que recentemente me abalou e chocou profundamente. É verdade, outra. Miguel e Nuno, os novos casos de dependência que se vêm juntar aos que já conhecem, do Luís e do Gonçalo. Uma vez mais, todos os esforços são poucos para apoiar estas vítimas.

Qual peste bubónica, qual praga de locustas, a saga da blogomania continua a alastrar, ceifando mais e mais vidas jovens e tenras, privando-as do futuro belo e risonho a que, num mundo ideal e perfeito, deveriam ter direito.

Será que alguma conseguiremos por um fim a este triste flagelo?

sábado, outubro 04, 2003

Bancos, outra vez – desde já as minhas desculpas àqueles que possam ter sido induzidos a erro ao ver o título. Não, não vou falar do Rabobank. Vou falar do meu banco. Aliás, de dois dos meus bancos. Está a ficar confuso? Eu explico.

Há dias, dei uma saltada ao Markt, uma das praças mais centrais desta terra, e de qualquer terra das redondezas, parece que há mercados por todo o lado. Fui às instalações do meu muito estimado SNS Bank para levantar o meu cartão. Já tinha recebido o código em casa há mais de uma semana, e um extrato com uma pequena mensagem que, não obstante estar na língua deles, me pareceu estar relacionada com este assunto.

Tirei o número e, pasmem-se, não esperei muito. Comecei logo a duvidar, era fruta a mais. Das outras vezes que lá estive sofri esperas bem incómodas. Expliquei ao tipo novo do balcão o que queria, dei-lhe o meu BI e ele lá se pôs em frente ao computador. Perguntou-me qual era o meu nome de família. Como aqui os tipos trocam isto tudo, disse-lhe que não sabia ao certo. Mas como não tenho assim tantos nomes, ele que experimentasse que havia de lá chegar.

Porém, o busílis da questão é mesmo esse. É que ele não conseguiu lá chegar. Vou repetir. Eu tenho uma conta aberta naquele balcão. Fui lá pessoalmente abri-la porque houve umas confusões com os papéis e eles tinham-se esquecido da minha existência. No entanto, não conseguem localizá-la no sistema informático a partir dos meus dados. Só com os documentos do banco que me deram na altura em que a conta foi aberta, com o respectivo número.

Não será isto estranho? Quer dizer, não me lembro de ter posto o meu carcanhol em nome doutro gajo qualquer. Não sou propriamente assim tão simpático, muito menos um benfeitor ou bom samaritano. E eu que pensava que estas coisas não aconteciam em países ditos civilizados....

Afinal o síndrome crónico Caixa Geral de Depósitos é bastante mais internacional do que dava a entender.

sexta-feira, outubro 03, 2003

Köln - O ímpeto da resposta aliada à Blitzkrieg nazi deixou Colónia de rastos. Quando digo de rastos, não exagero nem um pouco. A única possível vítima que foi poupada, felizmente, foi a impressionante catedral. É marcante olhar para uma fotografia em particular dum postal que comprei, onde aquela se ergue em toda a sua imponência por entre uma horda infindável de destroços de habitações.

É um edifício brutal. A nave central tem cerca de 45 metros de altura. Dei por mim de pescoço torcido, a olhar para cima o tempo todo como se estivesse a tentar manter uma conversa com um tipo de dois metros. É possível subir à torre, até cerca de 150 metros de altura, através da conquista e subjugação de mais de quinhentos degraus quase de enfiada, porque há apenas um ponto intermédio onde se pára para ver os sinos, lá para os cem metros. Porém, vale a pena o esforço, não só porque se contempla uma agradável vista da cidade, mas também porque se adelgaça um pouco as pernocas e o rabiosque.

O outro lado de Colónia, a presença do espectro da guerra: pelo facto de carregar a sina da destruição bélica, pouco mais de interessante há para ver. Tirando umas quantas igrejas despidas, um passeio pelo Reno com uma ou outra atracção, e uma tradicional cerveja Kölsch fresquinha numa esplanada engraçada, a cidade não tem mais nada para oferecer.

No entanto, não me interpretem mal: só a catedral faz as despesas todas.

quinta-feira, outubro 02, 2003


Cara Mónica Sintra, concelho que muito prezo, não fosse eu um exemplar adepto do dominical passeio saloio,

Estava aqui entretido e deliciado a ouvir-te cantar:
“Naa miinhaa caama com eeeeeeeelaa,
Tuu ee eeeeelaa noo meeu quaaaaaaartooo!
Peeerdido nos braaços deeeeelaaa
Mesmo em frente aaaoo meeeeu retraaaaato!”
(And so on, and so on)
quando fui assolado por uma dúvida que gostaria que tivesses a bondade de me esclarecer.

Cá vai ela: os dois adúlteros nunca passam da cama, pois não? Nunca cantas:
Naa miinhaa baanheeira com eeeeeeeela
ou
Noo meeeeu sooofáá com eeeeeeela
ou
Noe meeeeu chãããão com eeeeeeela
ou
Naa miinhaa meeesa da saaala de jaaantaar
ou
Naa miinhaa baaaaancaada da cooozinha
ou
Noo meeeu piiiano de caauda braanco da Yamaha a fazer lembrar o John Lennon no teledisco do Imagine, aquele em que a Yoko Ono (vou partir do princípio que é assim que se escreve...) parece a empregada dele a abrir as portadas.

Ora, a questão pode ser colocada nos seguintes termos: ou és tu que primas pela falta de originalidade nas tuas letras ou o teu encornador é um bocado monótono e pouco imaginativo.

A verificar-se o segundo caso, a solução é fácil. O que mais para aí há é literatura especializada que ele pode consultar. Agora, a verificar-se o primeiro, é capaz de ser mais complicado... Mas, de qualquer das formas, podes sempre pagar a outro caramelo para te fazer as músicas.

Saudações



quarta-feira, outubro 01, 2003


Tempo - No meu último semestre de aulas por terras lusas, aconteceu, acaso do destino, acontecimento fortuito, ter o meu último exame a contar para a minha licenciatura no último dia da última época de exames, quase à última hora do dia estabelecida para os exames começarem. E foi por essa altura que me ocorreu escrever este blogue.

A ideia seria reflectir um pouco sobre as divergências que sucedem entre o tempo propriamente dito, matemático, infalível, irrecuperável, e o tempo psicológico, altamente maleável e flexível. O caso do meu exame é um bom exemplo de como o tempo psicológico, durante uns dias, andou muito mais depressa que o real: já andava a maior parte das pessoas de férias e eu ainda tinha de estudar; de maneira que pareceu demorar uma eternidade até o raio da prova chegar e eu ficar finalmente de férias. Outros bons exemplos são estar à espera de alguém ou ir ao dentista.

E depois, há o reverso da medalha. Ver um bom concerto, estar na galhofa com os amigos, enfim, tanta coisa. Quando estamos divertidos e entretidos o tempo parece que voa. Enquanto a nossa sensação é que pouco passou, no fundo passou bem mais do aquilo de que nos apercebemos.

O que é uma bela duma chatice, diga-se de passagem. Os bons momentos deveriam passar mais lentamente, ser bem saboreados. Os outros é que podiam passar na bisga, ninguém se importaria muito com isso.

A culpa é nossa, que juntámos o psicológico ao tempo...