quinta-feira, agosto 31, 2006

O cansaço luta com a habituação e perde. Alguns dias a deitar mais tarde e o corpo adapta-se e passa a esperar pela hora tardia até se deixar cair nos braços de Morfeus. Nem precisam ser muitos. Bastam dois ou três. Às vezes até apenas um.

Não vale a pena lutar, apagar a luz e enterrar a cabeça na almofada. Não vale a pena procurar aquela posição que costuma abrir o caminho até ao mundo dos sonhos. Tão depressa não aparecerá.

Levanto-me. A lâmpada de néon do candeeiro da mesa-de-cabeceira demora alguns segundos até atingir a incandescência cruzeiro; precisa aquecer primeiro. Semicerro os olhos, as pupilas nunca estão preparadas.

Demasiado sonolento para poder passear-me pelas páginas de um livro, não tenho outra alternativa senão ligar o televisor. Mas sempre com a cabeça na almofada, não vá o estado de vigília afrouxar e momentaneamente baixar as armas.

Acordo. Não me lembro de ter adormecido. Olho para o despertador. Madrugada. Muito madrugada. Na televisão, TV Shop. Querem-me vender aparelhos de ginástica para usar em casa. Meia hora por dia e vou ficar um pão.

Desligo o televisor, apago o candeeiro, viro-me para o outro lado e durmo a sono solto.

quarta-feira, agosto 30, 2006

terça-feira, agosto 29, 2006

Quando eu era pequenino - não percebia porque razão os jogadores de futebol tinham quatro sombras projectadas no relvado quando os jogos eram à noite.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Sobre o estúpido do Murphy mais a porcaria das leis dele – Hoje, o único dia de semana que vou estar em casa à tarde para assistir ao primeiro jogo do dia do US Open, chove em Nova Iorque.
Et je m’en vante

Pearl Jam – 4 de Setembro
Chick Corea – 22 de Setembro
Barbara Hendricks – 17 de Outubro
Muse – 26 de Outubro
Wayne Shorter – 9 de Novembro
Keith Jarrett, Gary Peacock e Jack DeJohnette – 12 de Novembro

domingo, agosto 27, 2006

Há uma grande diferença - entre previsibilidade e a sensação de tem-mesmo-que-acabar-assim. Por exemplo, o Million Dollar Baby é altamente previsível e não havia outro fim possível para o Mystic River.

sábado, agosto 26, 2006

«Uma das explicações para o facto de os comunistas não terem usado medidas repressivas é que o partido tinha perdido a sua própria noção de legitimidade. Mas quem é que tirou as ilusões aos membros do partido? Certamente que não os poucos dissidentes amedrontados. O facto de a maior parte dos milhões de membros do partido ser constituída por carreiristas e falsos comunistas também não era uma novidade: sempre tinha sido assim, pelo menos na Europa central. Pelo contrário, a culpa (ou o mérito) da paralisação da vontade dos comunistas em manter o poder pertenceu ao seu sumo pontífice. Foi a glasnost e a perestroika que provocaram a queda do comunismo. Como é notório noutros locais do mundo, onde outros líderes comunistas não foram suficientemente ingénuos para tentarem imitar Gorbachev, a nomenklatura do estado sobrevive. Claro que em Cuba e na Coreia do Norte a população se encontra empobrecida: muitas pessoas encontram-se suficientemente desesperadas para arriscar a fuga para o estrangeiro, apesar dos guardas fronteiriços prontos a disparar e dos tubarões; mas tal não abalou o sistema. Porque a pobreza e a imobilidade são os segredos da sua sobrevivência, e não as causas da sua queda. O verdadeiro mistério de Gorbachev é o de saber por que motivo ele deitou fora uma fórmula de poder tentada e testada em tantos países diferentes por todo o mundo.»


História Virtual, Niall Ferguson e outros

sexta-feira, agosto 25, 2006

É ponto assente – que as pessoas quando dormem não (se) ouvem. E é essa a razão pela qual as senhoras acham sempre que o ressonar é um verbo apenas aplicável ao sexo masculino.

quinta-feira, agosto 24, 2006

No corredor escuro, os bancos claros de madeira ao fundo, virados para a mesa com manchas de café e copos de plástico a servir de cinzeiro. Tinha que esperar, resolvi sentar-me. Quando me aproximava, vi que o livro que tinha no colo era diferente, muito grosso e com folhas muito espessas. Foi então que reparei que percorria com o dedo o relevo e as ranhuras gravados, cravados no papel.

A luz que saia das portas abertas das salas com janelas. Mas ela via. Eu sabia que ela via porque não era a primeira vez que reparava nela e era aparentemente normal.

Sentei-me no banco ao lado. Tirei a guitarra do estojo. Porque tinha que fazer tempo e porque havia sempre alguém a tocar naquele corredor. Não me lembro que acordes eram (seria o Just Friends?), lembro-me apenas que a conversa começou quando me perguntou. Depois disse-me
Toca mais
e eu continuei qual animal de estimação bem adestrado.

Ao longe, o som da água que escorre do tecto a cair num dos alguidares, o azul ao lado do pilar. Não conseguia entender por que aqueles dedos precisavam ser introduzidos e exercitados naquela linguagem tão própria e fechada. Juntei a coragem suficiente. E perguntei.

Tinha uma doença. E, mais tarde ou mais cedo, ia perder pelo menos parte da visão. Uma coisa de família. Se começasse já a aprender Braille, o processo de adaptação seria mais fácil.

Fiquei sem saber se devia pedir desculpa pela minha curiosidade que agora parecia mórbida. Fiquei sem saber se devia achar a história, senão mentira, pelo menos muito mal contada. Possivelmente para acabar com o desconforto que, de repente, se instalou, olhou para mim, viu-me e disse enquanto encolheu os ombros e sorriu
É fixe
O Braille, queria ela dizer, porque eu não percebi logo, porque a doença não podia ser fixe. Ou, pelo menos, não fazia sentido que fosse.

Entretanto, mais gente chegava que, com muito mais desfaçatez do que eu, imediatamente faziam a mesma pergunta que já tinha feito. Vendeu-lhes a mesma história e o mesmo
É fixe
no fim, possivelmente uma forma previamente planeada e pronta a usar para enfrentar estas situações, para evitar o nascer de um freak show da rapariga que, da normalidade, iria ressurgir como aquela que vai deixar de ver

Nunca mais a vi. Nem sei se ela a mim.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Duas palavras - vêm-me à cabeça quando penso no Fernando Santos. A primeira é cigarros. A segunda é whisky.
1001 – postas estão, a partir de hoje, neste site. É o blogger que o diz, não sou eu, que não tenho paciência para as contar.

terça-feira, agosto 22, 2006

Para falar de ténis - e dizer que estou: chateado porque o draw do US Open ainda não saiu; surpreendido pela alteração de regras em Montreal com a possibilidade de rever pontos difíceis de ajuizar num sistema computorizado e de as jogadoras se fazerem acompanhar pelos treinadores dentro do court.

segunda-feira, agosto 21, 2006

E eu que nunca quis - que me contasses tudo, que me desfizesses a ilusão, aquela nuvem que se formava à frente dos meus olhos pasmados, dos castelos que gosto de fazer na minha areia molhada.

E tu que te sentavas de pernas cruzadas, acendias ostensivamente o teu cigarro e sopravas a tua arrogância por entre o fumo que saía a jorros, falavas e saía ainda mais pelo teu nariz que apontava para o tecto.

Podia ter-te dito
Cala-te
Mas não é o meu estilo. Nunca mandei ninguém calar-se. Quem sou eu para dar ordens, quem sou para dispor ou condicionar o que os outros querem fazer. Nem sequer a um cão sou capaz de mandar que se sente.

E tu sabias e, por isso mesmo, continuavas de perna cruzada com o fumo a separar a minha cara da tua, a tua boca dos meus ouvidos. Atiravas-me tudo à cara, cuspias as palavras que sabias dolorosas, incisivas, cortantes ao ponto de querer pedir-te, rogar-te para que te calasses.

Podemos fechar a nossa boca e não falar. Ou não comer. Podemos fechar os nossos olhos e não ver. Podemos tapar o nariz e não cheirar. Podemos não esticar o braço e não sentir o contacto das pontas dos dedos com uma superfície.

Mas não podemos fechar os nossos ouvidos. Quando muito tentar tapá-los com os dedos e, mesmo assim, nunca são tampões perfeitos, os tímpanos, embora menos, continuam a vibrar o suficiente para distinguir os sons.


Não consigo deixar de te ouvir. Tento. Procuro abstrair-me. Afastar-me da tua fala concentrando-me em qualquer coisa. Imagino que estou noutro local. Imagino que estou a ouvir música. Imagino que tu nem sequer estás a falar. No entanto, nada resulta.

E é então que imagino que estou surdo.

domingo, agosto 20, 2006

Detesto tentações. Deixam-me sempre tentado.

sábado, agosto 19, 2006

«Here again I find Jacobs’s work highly suggestive. Her emphasis on the role of cities in economic growth stems from the observation that a city, economically, is like a nucleus of an atom: If we postulate only the usual list of economic forces, cities should fly apart. The theory of production contains nothing to hold a city together. A city is simply a collection of factors of production – capital, people and land – and land is always far cheaper outside cities than inside. Why don’t capital and people move outside, combining themselves with cheaper land and thereby increasing profits? Of course, people like to live near shopping and shops need to be located near their costumers, but circular considerations of this kind explain only shopping centers, not cities. Cities are centered on wholesale trade and primary producers, and a theory that accounts for their existence has to explain why these producers are apparently choosing high rather than low cost modes of operation. »

On the mechanics of economic development, R.E.Lucas

sexta-feira, agosto 18, 2006

quinta-feira, agosto 17, 2006

Se as casas têm sala de jantar, o que é feito da sala de almoço?

quarta-feira, agosto 16, 2006

Isolados, somos a perfeição. Desaparece o relativismo que a convivência implica e os sons são certeiros quando progridem rasgando o ar. Porque as notas estão afinadas entre si, o ré um tom acima do dó, o fá sustenido é a sétima maior de sol. Toco sozinha e tudo me soa bem. Tal e qual quando és tu o único que tocas.

Duas verdades. São como dois instrumentos desafinados entre si. É como ter um com afinação meio-tom abaixo em relação ao outro. O resultado é drástico, o batimento de onda é ensurdecedor sem ter um volume muito elevado. É horrível, insuportável, faz lembrar os sons dos aparelhos médicos que foram inventados exactamente para levar os enfermeiros de serviço a tirarem o rabo da cadeira.

Ainda por cima a distância entre as afinações é curta, choca ainda mais. Se fosse mais distante, não doeria tanto nos tímpanos. Podia, inclusivamente, se fosse um intervalo de terceira, por exemplo, soar bem. Caminhar para um acorde. Assim, fere. Está lá tão perto, por vezes tenho a sensação que se tocam num qualquer ponto para, de seguida, se afastarem.

Tem resolução. E fácil. Basta afinar um dos instrumentos em função do outro. Subir ou baixar, dependendo. Mas é uma solução de compromisso, implica que um de nós ceda. Ou sou eu que me ajusto a ti ou és tu que ajustas a mim. Não há uma terceira alternativa.

Juntos, somos o desacerto. Insuportáveis. Formar um dueto contigo. Ouvir um uníssono nosso. Mas não me quero mudar, não me quero moldar. A minha verdade define-me, caracteriza-me para lá de qualquer descrição, aparência física, traço de personalidade, impressão digital ou código genético. Delimita-me, compreende tudo o que sou. O mesmo se passa contigo. Por isso, também não te posso mudar.

Continuamos a dizer a nossa verdade. Cada um para o seu lado, a desafinação repele-nos como ímanes de pólos iguais.

terça-feira, agosto 15, 2006

Sei o que vais fazer. Pressinto-o. Antes de começares a unir esforços e a delinear estratégias. Se calhar, mesmo antes sequer de saberes que é isso que queres fazer. Observo-te enquanto progressivamente te preparas. Caminhas na direcção correcta, preparas o terreno. E, finalmente, quando decides que está na altura de me pôr ao corrente, eu bloqueio-te, saboto os teus planos, interrompo-te antes de começares a falar:

Sei o que vais fazer.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Os incêndios são a tábua de salvação das redacções no Verão. À falta de agenda, as chamas são o único acontecimento com a regularidade necessária para assegurar o preenchimento das páginas e do tempo de antena.
«A procura de uma teoria sociológica unificadora do poder sobreviverá, sem dúvida. Resta saber se acabará por ser abandonada e considerada fútil, como a procura da pedra filosofal pelos alquimistas, ou se continuará para sempre, como a procura de uma cura para a calvície.»

História Virtual, Niall Ferguson e outros

domingo, agosto 13, 2006

Expunha - aquilo que pensava ser a evolução natural dos acontecimentos com o avançar do tempo, com a conquista do futuro pelo presente. E colocava hipóteses. Umas atrás das outras. Podíamos fazer isto. Ou aquilo. Pode ser que aconteça assim. Ou que surja. E que suceda da seguinte forma. E se…? Já pensaste? Podia ser giro. Ou então. Já sei, se fizéssemos. Imagina que.

Cortou-lhe as vazas: não quero nada baseado em contrafactuais.

sábado, agosto 12, 2006

Quando as burocracias - foram delineadas para que o Deco jogasse com as nossas cores, as vozes de protesto levantaram-se, perenes e insistentes. Entretanto, a perenidade foi-se, o Deco é um dos jogadores de referência dos tempos que correm e a figura de proa da nossa equipa.

Este gajo também não é português. Pensando a frio, tem menos pontos de contacto do que o brasileiro. Basta vê-lo falar nas entrevistas. Tem uma treinadora espanhola. Já tinha competido internacionalmente enquanto nigeriano.

Não oiço vozes de protesto. As pessoas não se abespinham a discutir a nacionalidade. É engraçado. Será que o futebol é mais representativo ou simboliza melhor a identidade nacional do que o atletismo?

Pessoalmente, para Euzinho da Silva, este feito é um orgulho.

quinta-feira, agosto 10, 2006

«Store away from direct sunlight; preferably in a dark drawer with your secrets. See inside for details. »

Na capa do album Amnesiac, Radiohead

quarta-feira, agosto 09, 2006

Boa tarde, senhores passageiros, fala-vos o vosso comandante. O meu nome é fulano de tal e gostaria de vos dar as boas vindas a bordo do voo tal com o destino tal. Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpa pelo pequeno atraso na descolagem, que se ficou a dever ao elevado número de aviões em espera para levantar voo. Neste momento, voamos a uma altitude de cerca de trinta e um mil pés, ou seja, cerca de dez mil metros. A temperatura exterior é sensivelmente sessenta graus Celsius negativos. A velocidade é pouco mais de novecentos e cinquenta quilómetros hora, ligeiramente superior à de cruzeiro devido a vento favorável.

Da inutilidade das informações que os pilotos dão nos voos comerciais.

segunda-feira, agosto 07, 2006

O jornalista - esperaria uma resposta mais elaborada, mais técnica. Afinal de contas, à sua frente estava um dos jogadores mais influentes e carismáticos de sempre. Mas Agassi respondeu simplesmente algo parecido com: a diferença entre terra batida e piso rápido é que no último, quando a bola passa mais de três, quatro vezes por cima da rede, começo a achar que alguma coisa está errada e é preciso mudar.

Então ataco.

domingo, agosto 06, 2006

É claro que usar - lágrima artificial é muito mais prático e estiloso do que ir até à cozinha buscar uma cebola de cada vez que se quer pôr as lentes de contacto. De qualquer das formas, dado o efeito que as gotas fazem, ninguém me convence que não há extracto de cebola no pequeno frasquinho.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Repara: quatro é o quadrado de dois, oito é o cubo de dois e oito é o dobro de quatro. E não é um número qualquer. O dois é um número importantíssimo, um número base, um número suporte da linguagem.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Estava perfeitamente convicto que ia cair no tumulto daquelas águas profundas, escuras excepto na crista das ondas onde a espuma se forma quando, de repente, um braço esticado impediu a queda. Todo o corpo se concentra no único propósito de dirigir força àquele braço. Os músculos explodem à flor da pele, as veias enchem-se do sangue que não conseguem transportar, e ela:
Larga-me
Mas o braço não largou, a cara soltava os esgares de dor, as pernas arqueadas
Não vais conseguir aguentar-me
Os músculos cada vez mais retesados, o ardor no limiar da dor
Vais cair comigo
Tentar içar mas é em vão, o peso é demasiado.
Não vale a pena que caias comigo
No fundo as ondas agitam-se como feras que antecipam um manjar que vai cair dos céus, aguçam os dentes, agitam a cauda.

Larga-me, por favor. Estou-te a pedir.

O braço exausto soltou o peso do corpo que desapareceu no tumulto das águas profundas

quarta-feira, agosto 02, 2006

Dizes que devo estar cheio de fome, que tenho que comer, alimentar-me bem. Enfias-te na cozinha, abres o frigorífico, armários, remexes tudo enquanto a tua cabeça junta as peças do puzzle e magicas em três tempos algo que possas cozinhar. Digo-te que quero ajudar. Afinal, está longe de ser a primeira vez que me vês de avental e utensílios na mão.

Mas não queres. Estou de férias e, portanto, não tenho que fazer nada. Ordenas que me sente com aquela autoridade que partilha o teu rosto com um sorriso. E eu vejo-te a andar de um lado para o outro. A conversa é entrecortada, interrompida aqui e ali, quando te agachas e procuras um tacho, quando te pões em bicos dos pés para tirar o prato da prateleira de cima.

Sentas-te à minha frente, na mesa de madeira assim que tens tudo ao lume. Tens a melhor faca na mão e estás a cortar tomate e queijo mozarrela. Porque te apeteceu. O teu corpo sugere-te aquilo que vais querer comer pondo-te o sabor dos alimentos na língua, muito antes de os levares à boca.

Conversamos e vais-me pondo os bocados mais irregulares na boca; com os que ficam bem cortados, enfeitas um prato a preceito. Tiras também alguns para ti e eu sei que pouco mais que isso vais jantar. Já antes me tinhas avisado para que não me preocupasse: não andas bem disposta, andas a comer pouco e com grande selectividade.

Já passa das duas da manhã e amanhã tens que trabalhar. O chá arrefece na pequena chávena onde puseste mel e tu fizeste-me as perguntas. Todas. Fáceis e supostamente difíceis. Não faltou nenhuma. Com a naturalidade de quem fala de uma qualquer banalidade.

Discorreste sobre o que achas que eu deva fazer a todo o momento. Usas a diferença das nossas idades para te colocares numa espécie de plano elevado em relação a mim, um púlpito, um estrado, a partir do qual sentes a altura a transformar-se em sapiência. E autoridade.

E dissecas-me. Todo. De uma ponta à outra. Acho piada e sorrio. Avanças com conselhos e sugestões. Tens sempre observações, uma análise profunda. Talvez porque sabes que sou um céptico, dás-me sempre a tua interpretação cósmica ou astrológica das coisas, das situações, dos eventos.

Depois invertemos os papéis. Sem sobressaltos, quase nem se nota. Se calhar porque eu pergunto pouco. E, se de facto o fizesse, seria supérfluo. Falas de ti e eu não chego a perceber se é porque sentes necessidade de retribuir ou se é porque deveras o queres fazer. Uma vez mais, pode ser a diferença de idades a sobressair.

E tens para me contar quase na íntegra o que poderias ter criticado uns minutos antes em relação a mim. Com naturalidade. Semicerras os olhos quando é mais difícil dizer as coisas, a tua testa franze-se um pouco e olhas para a chávena agora vazia enquanto a inclinas ligeiramente.

Tratas-me como um puto, como o teu irmão mais novo. Mas não consigo deixar de sentir que a miúda és tu.

terça-feira, agosto 01, 2006

Silly Season

Meu querido mês de Agosto
Por ti levo o ano inteiro a sonhar
Trago sorrisos no rosto
Meu querido mês de Agosto
Porque sei que vou voltar

Meu querido mês de Agosto
Por ti levo o ano inteiro a sonhar
Trago sorrisos no rosto
Meu querido mês de Agosto
E trago Deus para me ajudar

(…)

Dino Meira