segunda-feira, outubro 30, 2006

Acendias luzes para o atrair. Ficavas à espera que o insecto aparecesse e começasse a fazer os meus voos circulares à tua volta. O som da asas, o som do movimento. Depois, esbracejavas para o afastar. Fazias deslocação de ar com as tuas mãos e divertias-te a ver o corpo pequeno empurrado pelo vento que produzias.

A pouco e pouco, deixavas de achar graça. O divertimento acabava. Desligavas a luz. Abrias as janelas e procuravas corrente de ar. Quando nada resultava, ias para as medidas mais drásticas. Chinelo ou jornal em riste. Era só esperar que poisasse nalguma superfície. Na parede branca pode ser chato, fica a mancha.

E esmagavas violentamente.

domingo, outubro 29, 2006

Petit fica zangado com Katsouranis – por este último ter partido o perónio a Anderson no clássico no passado sábado dia 28 no Dragão, a contar para a 8ª jornada do campeonato nacional. Fontes próximas de Petit afirmam que o jogador viu a intervenção do grego como uma ingerência na sua função, definida na estratégia montada por Fernando Santos, ao ponto de sentir o seu lugar no onze titular e na equipa em risco. Petit terá alegadamente dito que o incidente põe inclusive em causa a sua continuidade no clube da Luz, uma vez que “quem parte canelas de jogadores adversários no Benfica sou eu”.
Maratonas de sono

sábado, outubro 28, 2006

«Lo seres humanos somos diferentes en gustos, en inteligencia, en vocación y aptitudes. También hay lumbreras y hay tarugos, y lo justo y lo igualitario debe consistir en la libre oportunidad de acceso a la educación; no en que una vez dentro de ella todo el mundo sea tratado igual, lo merezca o no, y reciba un titulo universitario tan de trámite como el carnet de identidad o el libro de familia. Un sistema educativo así es un barrizal donde se enfangan lo mismo la mediocridad que el talento. Y no tiene más fin que tranquilizar a padres estúpidos, a alumnos perezosos o incapaces, a profesores con pocas ganas de merecerse el jornal, y a políticos acostumbrados a humillar las palabras educación y cultura hasta los niveles miserables de su propio analfabetismo y su propia incompetencia.»

Con ánimo de ofender, Arturo Pérez-Reverte

sexta-feira, outubro 27, 2006

Olho-te e sinto-te quase a ir. Vejo-te cada vez mais pequena, indefesa. Penso em tudo o que poderíamos ter feito, todo o que poderíamos ter-nos dito. Nunca fizemos, nunca dissemos. Nem nunca vamos fazer nem dizer. As condenações à partida são contrárias a absolvições futuras ou atenuantes. E a tendência é, naturalmente, para se acentuarem.

Mas continuas a ter algo de meu e eu a ter algo de teu. É desconcertante como dois pedaços de vida tão antagónicos e díspares têm com um cordão inexorável que impede que se soltem. Disso se encarrega a natureza e será sempre mais forte que qualquer das divergências.

Já deixei de ter pena. Há muito tempo. Mesmo quando penso em tudo o que vou perder. Aceitei quando percebi que não vale a pena contrariar a natureza das pessoas. Para que exista compreensão é necessário querer compreender.

Continuo a achar que nunca quiseste compreender.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Unha negra

quarta-feira, outubro 25, 2006

«A loucura da guerra - É conhecida a forma como a rodagem de Aocalypse Now se arrastou para lá dos orçamentos e prazos previstos. Os helicópteros da força Aérea filipina, utilizados na rodagem, eram constantemente requisitados para combate pelo presidente Ferdinando Marcos; um tufão destruiu vários cenários, que tiveram de ser reconstruídos, Martin Sheen teve um ataque cardíaco quase fatal; Marlon Brando chegou às Filipinas sem intenção de decorar o seu papel.

A rodagem demorou 16 meses e quase custou a falência de Francis Ford Coppola. Nos meus momentos de entusiasmo mais delirante, parece-me que todo esse esforço foi recompensado quando um rapaz (eu) viu Apocalypse Now projectado no lençol do Centro Paroquial de uma vila no Alentejo. Nessa noite, após a sessão gratuita do Inatel, tive a sensação de que tinha visto o filme da minha vida. Tinha talvez 11 ou 12 anos e todos os filmes que via deixavam-me num encantamento. Aquele, no entanto, tinha sido diferente. Ao atravessar as ruas da minha terra, voltar para casa, adormecer e acordar no dia seguinte, foi nisso que pensei. E empre que o revi, cimentei a convicção de que Apocalypse Now é realmente o filme da minha vida ainda incompleta. Nos anos que hei-de viver, parece-me difícil que algum filme possa voltar a causar tanto efeito em como Apocalypse Now.

A tensão da cena inicial, em que o Capitão Willard (Martin Sheen) está no quarto de um hotel em Saigão – ao som de “The End” dos Doors -, em que esmurra o espelho, delira e espera febrilmente uma missão, é a imagem perfeita do momento em que se aguarda qualquer coisa, que não se sabe o que irá ser, mas que se compreende que seja grandiosa, como um filho, um romance ou uma viagem. Depois, há o caminho e a loucura, a forma como este Vietname de Coppola se aproxima da vida, a ansiedade asfixiante da paz, a destruição, a sobrevivência ténue entre todas as questões levantadas, a morte, a submersão absoluta no Coração das Trevas.

«Adoro o cheiro a napalm de manhã», diz o coronel Kilgore (Robert Duvall). E nós estamos preparados para assistir a tudo. A ‘Cavalgada das Valquírias’, de Wagner, repete-se na cabeça. E, por fim, quando chegamos ao último reduto do coronel Kurtz (Brando) e ficamos na penumbra a ouvi-lo, percebemos que é necessário ser louco aos olhos do mundo para dizer a verdade pura, porque foi o mundo inteiro que enlouqueceu.

Quase todos os anos vejo o Apocalypse Now pelo menos uma vez e sinto que foi filmado apenas para mim. Por momentos, deixo que a guerra se acalme e, depois, acredito que talvez seja esse o sentimento que os filmes da vida provocam sempre.»

José Luís Peixoto, Revista Tabu a 21/10/06

segunda-feira, outubro 23, 2006

A física deve estar a passar pelas brasas
Depois ria-se. Erguia os braços com o pequeno pedaço de borracha nas mãos de dedos compridos, esticados e abertos. Olha para isto,
como é possível esticar tanto esta porcaria sem que rebente?
É óbvio que é feito para aguentar uns puxões. Mas isto já é demais. É o que te digo, o raio da física adormeceu, que outra forma existe para justificar que possa ser esticado tanto sem se atrever a rebentar?
Até te digo mais
Às vezes, olho para o molho espesso de folhas que segura e não consigo evitar um semicerrar de olhos, um franzir da testa na expectativa de um esgar de dor pela chicotada de uma das pontas depois de rebentar.
Até agora, tenho-me enganado sempre
Quando penso que é a última vez, que estou a abusar da sorte, que desta vez exagerei e que não há mesmo hipótese que resista sou, uma vez mais contrariado. Subsiste. Continua a segurar.
Mas também te digo outra coisa
O problema dos elásticos é que, eventualmente, rebentam. Mais tarde ou mais cedo. Quando parte da borracha nos atinge em cheio na mão, não é tanto a dor que nos dói.
É a surpresa
Porque mesmo que pensemos, de cada vez que vamos remexer no molho de papéis, que esta pode ser finalmente a última vez que o objecto resista, não esperamos que ele, de facto, rebente. Para quem não gosta da surpresa, para quem não gosta de lidar com a incerteza de um susto, só há uma saída. Fácil ou nem tanto.

Rebentar

domingo, outubro 22, 2006

Impotência, raiva, frustração, resignação – Ter que ouvir CD’s no laptop porque a aparelhagem pifou.
O Mourinho levou - o Shevchenko para o Chelsea não para que o ucraniano fuzilasse as defensivas alheias; foi mas é para colocar pressão sobre o Drogba, picá-lo ao ponto de o tipo marcar golos brilhantes jogo após jogo.

sábado, outubro 21, 2006

Em todas as outras pessoas o cheiro a tabaco fica mal. É agressivo, invasivo. Chega a ser nauseabundo, repugnante.
Mas não em ti.
Passas por mim e eu inspiro o odor áspero que o teu corpo e a tua roupa exalam. Prolonga-se alguns instantes, fica no ar, lembra-me a cauda de um cometa.

Às outras pessoas, a nicotina e o condensado dão aquela textura doente e escura ao corpo desengonçado, amarelecem a pele.
Mas não a ti.
A tua cor, o brilho. A tua cintura. Adoro a forma como te moves. Quando te sentas e resolves soltar o cabelo fino e ligeiramente ondulado.

Às outras pessoas, quando têm um cigarro entre os dedos e o colocam na boca, vejo uma fraqueza, uma necessidade
Mas não em ti.
Mesmo quando corres para o corredor para afogar o vício, todos os teus gestos são manifestações de elegância. A tua mão não faz sentido sem o pequeno cilindro aprisionado entre os dedos.

Às outras pessoas, conscienciosamente, aconselharia que deixassem de fumar por todos motivos de saúde sobejamente conhecidos.

Mas não a ti.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Quando já não tiver nada para te dizer, digo-te música.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Pelas frinchas da persiana mal fechada entra o luar. A luz branca dá cor ao teu rosto adormecido. Levanto-me com cuidado, tenho medo de te despertar. Lentamente, afasto-me do calor do teu odor adocicado. Reteso os músculos quando sinto a o chão de madeira a ranger, tento ser ainda mais ligeiro. Não deixo a dobradiça da porta chiar, não respiro sequer.

Faço tudo isto e mesmo assim acordas.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Alá é grande

Nunca quis ser bombeiro quando era miúdo, como muitos outros coleguinhas de palmo e meio. Ironia do destino, a minha vida profissional pode ser descrita como um constante apagar de fogos de variadas dimensões.

terça-feira, outubro 17, 2006

Era tão absurdamente pimba, com um mau gosto tão vincado, que não tinha somente insónias: tinha insónias cristinas.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Corria o dia tal quando desapareci. Não me lembro se era um dia bonito ou não, solarengo ou chuvoso. Saí de casa à hora do costume para ir trabalhar, vestia um fato como de costume. Não cheguei a aparecer. As pessoas não estranharam de imediato. Pode ter-se atrasado. Pode ser do trânsito. Só quando o atraso se tornou demasiado evidente, resolveram telefonar. Já não atendi. Desde então, ninguém mais me pôs a vista em cima, desde essa longínqua manhã.

Se alguém souber do meu paradeiro, por favor, não me avise.

domingo, outubro 15, 2006

Estou grávido de textos que teimam em não querer ver a luz do dia. Vivem confortavelmente na minha cabeça, apropriam-se de parte da minha atenção, desviando-a de outros assuntos dela merecedores, roubam-me tempo e paciência, fazem-me dar voltas de papel e caneta em riste.

Não contentes com isso, os ingratos, agarram-se que nem lapas às paredes do crânio. Penso que finalmente os encurralei, que não têm outra hipótese senão uma rendição incondicional, um armistício. Engano-me. Resistem ao corte do cordão umbilical de cada vez que tento recomeçar nova série de contracções.

sábado, outubro 14, 2006

Que lhe doía a cabeça. Que os olhos lhe ardiam, uma rodela de dor à volta de cada cavidade ocular. Que os braços estavam doridos. Que as pernas estavam dormentes. Que as costas prendiam, sentia necessidade de se esticar para as ouvir estalar, acusando o imobilismo. Que ia tomar uma aspirina. Qualquer coisa que alivie. Que ia sair. Que ia sentir o sol a bater na pele envelhecida. Que ia mexer-se, proporcionar ao corpo cansado a actividade cuja ausência o cansava.

Sentou-se no sofá a tarde toda. Resolução firme e decidida.
O que mais irrita nas pastilhas elásticas - é perderem o sabor muito rapidamente.
A parte mais difícil - de uma ida à Fnac para comprar uma prenda de aniversário para um qualquer amigo é escolher um CD para mim.

quinta-feira, outubro 12, 2006

O vento agita as copas dos pinheiros, os ramos das árvores esvoaçam, chocam, emitem estalidos secos. Os pés enterram-se ligeiramente na areia que tapa as raízes e as pedras, as folhas pisadas crepitam. No ar está o cheiro da caruma e do sal da água escura que se projecta e espraia como se nos quisesse atingir e tu
Grita comigo
Grita comigo tudo. Aqui. Agora mesmo. Grita tudo o que andaste cuidadosamente a guardar ao longo do tempo para um dia gritares mas que acabaste por nunca gritar porque não tiveste a ousadia ou achaste que gritar é coisa de malucos ou quiseste poupar para outro dia que achaste melhor mas esse dia entretanto nunca chegou.
Grita comigo até perdermos a voz
Afastaste a tua cara da minha, olhaste em frente para a escuridão e o teu grito quente abriu-se de par em par. Deu um mote impressionante, vigoroso. Tentei acompanhar com a minha cana rachada com o silvo mais agudo que consegui e que não sabia que tinha.
A dor na garganta, os ouvidos vibrantes, as cordas vocais frementes. Até que começou a falhar, a desvanecer. As nossas vozes esvaíram-se nesse coro de guinchos insuportáveis. Estava na hora. Apontaste a direcção com o indicador.

E seguimos ao som do nosso silêncio afónico.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Há quem faça a manobra - de cabeça virada para trás, às vezes com o braço direito a pressionar o encosto do banco do pendura, para não necessitar fazer tanta força com o tronco. Eu prefiro recuar com o olhar preso ao retrovisor e aos espelhos laterais, alternando rapidamente e com pequenos ajustes na direcção.

Aparentemente, há mais quem adopte a estratégia.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Detestas sentir - o líquido a percorrer os canais que levam ao teu tímpano. É visível na intensidade e na brusquidão com que projectas o pescoço lateralmente em direcção em chão. Adoro ver-te sacudir a cabeça para tirar a água de dentro do teu ouvido, com o indicador da mão direita, frenético, a desenhar movimentos na orelha.

Depois soltas o cabelo comprido que, molhado, se cola às tuas costas até metade da lombar. Não te sei imaginar de cabelo curto. Nem sequer pelos ombros. Porque não conseguiria ver as tuas costas tão bem como quando estão tapadas pelos escuros cabelos molhados.

sábado, outubro 07, 2006

Um ano e pouco depois - Sim, deixei a data passar. As três primeiras foram tiradas em Sampa, as restantes em Minas Gerais.













Não é só escrever. É escrever-te. Pôr-te nas palavras que uso. Colocar-te, encaixar-te nas letras, incluir-te em algo meu. Faço-o e, finalmente, as frases ganham o sentido que procuro e não mais parecem um conjunto oco de símbolos ordenados.
Falo sozinho não por uma questão de demência mas sim por respeito e por que me tenho em alguma consideração. Ou seja, por que acho que também sou gente.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Warp speed, Mr. Sulu – Para outro sítio. Para outra galáxia. Desde que seja longe. Ou então acelerar o presente num fast forward até ao futuro.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Fiz um scroll - pelas postas mais recentes e espantei-me com a abundância de fotos e caixas do You Tube. Em tempos idos, cheguei a ser criticado por não recorrer a imagens. De facto, era texto e mais texto e mais texto. Agora parece que entrei numa fase de bonecada. Enfim, com a atenuante (e oportunamente postei um anúncio) de ter uma série de postas musicais.

Não sei se existirá aqui alguma influência das recentes reformas gráficas de alguns jornais de referência, mas sinto que eu próprio me estou a reform(ul)ar. Também poderá ser fruto de um mês particularmente marcado por falta de tempo. Não sei. Vamos ver, o tempo o dirá.

Eventuais críticas à mudança de conteúdos serão recebidas com capacidade de encaixe.
Hush little baby, dont say a word and never mind that noise you heard. It’s just the beast under your bed, in your closet, in your head – Comprei o DVD do concerto de San Diego em 1992, o mítico que fazia parte da caixa Live Shit Binge and Purge. 10 Euros, na FNAC.

«Vivan los Reyes (Magos) – Detesto a Papá Noel. Si un día decido convertirme e un psicópata de esos que asesinan en seria, la serie me la voy a montar a base de ex ministros y ministras de Cultura, y luego de sonrientes gorditos vestidos de rojo y con barba, y con sus renos voy a comer chuletas a la brasa durante una temporada. Aunque España va bien, como dice mi primo, y somos europeos e internacionales y le sacudimos entusiastas la chorra al presidente norteamericano cuando al hijoputa se le antoja hacer pis en Irak o en alguna otra parte, toparme con Papá Noel en una calle de Chamberí se me sigue haciendo tan cuesta arriba como uno de Arkansas bailando sevillanas. Ya sé que el fulano lleva aquí casi treinta años, es más moderno y de diseño que los magos de Oriente, y con él, dicen, los niños disfrutan más tiempo los juguetes. Pero, con todo y con eso, al gordo de la barba – sin llegar al calibre de soplapollez del Halloween de las narices, que ahora también sustituye a nuestra noche de Difuntos de toda la vida – lo sigo viendo fuera de contexto: un gringo mercenario reclutado por los grandes almacenes para duplicar ventas, que vale menos que una boñiga del camello del rey Gaspar.
(…)»

Con ánimo de ofender, Arturo Pérez-Reverte

quarta-feira, outubro 04, 2006

Diz-me em que faixa conduzes – dir-te-ei quem és.

terça-feira, outubro 03, 2006

Valentine me up, Chet

Beam me up, Scottie – daqui para fora, já cá estou há demasiado. Este planeta não dá para mim. Está mais do que na hora de regressar à USS Enterprise.

domingo, outubro 01, 2006

Tens mesmo que me acordar?
Tenho, está na hora
Na hora de quê?
De te levantares
Mas eu não quero
Tem que ser
Só se me acordares com jeitinho. Estou a dormir tããããão bem
Está bem. Preparado?
Sim

Acorda.