sábado, janeiro 31, 2004

Já agora - que estou numa onda de reflexão acerca de performances alheias e a consequente opinião, que, espero, fundamentada, gostaria de a alargar um pouco a outra situação que tem captado a minha atenção e a minha preocupação.

Todos os dias, pressiono o botão desta coisa a que chamamos rato com a setinha em cima do respectivo link com a esperança de que os tempos de fome e marasmo tenham terminado. Dizem que ela é a última a morrer e, no meu caso, verdade seja dita, tem tido uma longevidade digna de registo, é verdadeiramente de se lhe tirar o chapéu.

Porém, pasmem-se almas deste mundo e do próximo, repito este gesto diário há mais de um mês (o último data do dia de Natal passado!!) para nada novo encontrar. O contador avança, contabiliza aqueles que, como eu, vão passando, tentando, acreditando.

Quando vai isto acabar Miguel? Vais abandonar-nos no altar? Penso que não falo apenas por mim quando digo que anseio pelo teu regresso em grande, com a calma e a tranquilidade que tão bem te caracterizaram. Com o misto de sensibilidade e acutilância, sempre que necessário, na crítica.

Acabou-se a vontade, esgotaram-se as ideias, pisgou-se a originalidade, secou-se a fonte, bloqueio de criador? Dar a volta à questão é algo eminentemente pessoal e que, crê em mim, está mais ao alcance do que aquilo que porventura possa parecer. Por isso, junta-te a nós, lutando, ao mesmo tempo que fazemos um brinde daqueles.

Vamos em frente!!

sexta-feira, janeiro 30, 2004

Urgente, última hora – O apadrinhamento foi a circunstância normal de quem vê um amigo a entrar num domínio que apreciamos. Dá-se o nosso apoio, a nossa crítica construtiva, a nossa regularidade no visionamento da página, o link que o aconselha aos demais leitores. Ninguém exige mundos, cria expectativas exacerbadas, passa facturas incobráveis. Mas ele há coisas…

Primeiro foi só o cabeçalho. O fundo continuava branco. Estranhei, meti-me divertidamente com ele. Preocupado, claro está. No final de contas, sentia-me algo responsável uma vez que tinha deliberadamente alimentado o vício. A gota final ocorreu há minutos. O fundo também já se tornara verde.

Foi uma espiral de imagens negras que me ocorreram, lágrimas atrás de lágrimas, momentos de profunda mágoa e tristeza que me abateram. Nunca pensei que tal desfecho pudesse acontecer, sempre me pareceu demasiado improvável, mesmo impossível. Sobretudo vindo de ti.

Sim, logo tu, que foste aquele que um dia surgiu ante nós com aquele formidável grito de força e orgulho, que simbolizava a nossa palavra de ordem, de comando, de orientação estratégica, o nosso rumo. Tiveste sempre a força para lutar, mesmo em condições adversas, e tentaste sempre defender os teus ideais contra os que se opunham, acima de tudo.

E agora isto. Como poderei dormir descansado? Como não hei-de acreditar no senhor Bush quando diz que o mundo não é um lugar seguro depois disto? Estou profundamente abatido, desgostoso. A única consolação que consigo arranjar é pensar que foste uma inocente vítima desta perigosa malha. Ou seja, que a Lagartixa (aquela, nós sabemos quem ela é…) esteja por detrás disto tudo e tenha levado a cabo um golpe que tem tanto de prodigioso como de criminoso

Que posso agora fazer por ti, Luís?
Acerca de errar a pontaria

«Oi como é que tu tá?Não recebi nenhum e-mail teu.Acho q a minha caixa tava cheia.Agora eu a esvaziei um pouco.Me manda outros.O cel do pai ressuscitou depois eu te dou uma ligada.Agora tô saindo de Garopaba e indo pra Ferrugem.Te cuida aí. Beijos da guria q quer curtir muita coisa junto contigo.»

No título do e-mail lia-se «Oi Dani». Não consegui evitar um grande sorriso.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

Representar – Continuo a ter imensas, enormissímas, hercúleas dificuldades em perceber sequer porque é que a RTP continua a gastar pipas de massa em contactos via satélite com aquela tipa. Que continua a jurar a pés juntos que não fez nada de mal mas que, ao primeiro sinal de perigo, agarrou a primeira hipótese de se pôr a banhos no Brasil. Bem mais legaú qui Portugaú, refira-se.

E tem a lata de dirigir cartas ao Presidente da República, de criticar a Justiça Portuguesa de uma ponta à outra. Eu também não acho que esta última seja ou simbolize o cúmulo da perfeição. Porém, acho que tenho muito mais autoridade, enquanto cidadão deste país, para lhe atirar seja que pedras forem do que alguém que se pôs na alheta quando a coisa deu para o negro.

Mais escandaloso do que isto, o facto da mulher não ter pingo de vergonha naquela fronha, é um outro facto, aquele do mediatismo em que este caso caiu lhe permitir vir roubar o sossego de todos nós à hora de jantar com directos para todos os canais portugueses. Quer dizer, depois disto tudo só me resta dar-lhe os parabéns, Fátima Felgueiras, não é qualquer um que consegue levar a cabo uma tal operação com tanto sucesso.

Já considerou uma carreira nos palcos?

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Graças – Era a reposição dum programa que homenageava os soldados da paz depois dum ano excepcional em termos de incêndios florestais. A páginas tantas, uma senhora veio prestar o seu depoimento. As chamas progrediam violentamente em direcção à sua habitação, chegou a pensar que estaria perdida. Mas a sua casa ardeu ou não, ajudou o apresentador ao desenvolvimento do relato com este pequeno empurrão.

Sim, é verdade, graças a Deus.

Isto intriga-me. Quando algo corre bem e o resulta final é positivo quando as expectativas apontavam para o contrário, é porque há sempre ajuda divina pelo meio. Quando as coisas correm mal, nunca é “desgraça a Deus”. É raios parta a polícia que nunca chega a horas quando é precisa, o médico que foi negligente, o advogado que não fez tudo o que estava ao alcance dele, é a falta de civismo, a displicência, a falta de profissionalismo.

Ficar com os créditos alheios e nunca ser alvo de críticas… que bom ascendente.

terça-feira, janeiro 27, 2004

Desaparecer – De vez em quando somos alertados para a efemeridade, para a fugacidade de que a nossa existência e a alheia se podem revestir. Mais do que o Féher que caiu inanimado no estádio do Guimarães, lembrei-me dum rapaz lá do liceu. Não tinha mais de dezoito anos quando um aneurisma o apanhou desprevenido. Da mesma forma que, qualquer morte numa tal idade, nos apanha desprevenidos.

Porque não é tanto a morte em si que afecta, que atinge, que faz confusão, que mexe connosco. É o timing tão profundamente errado quando comparado com a noção da ordem das coisas que temos. As pessoas deveriam morrer velhas, depois duma vida plena e recheada de acontecimentos e histórias, não no auge das suas capacidades, na flor da idade. É a conclusão normal, o desfecho decorrente de quem já passou pôr, descobriu, viu, sentiu, existiu. Não querendo dizer que suavize o impacto do desaparecimento, dá-lhe, ao menos, uma lógica intrínseca, com a qual nos habituamos a viver desde sempre.

Caso contrário, parece que assistimos ao ceifar indiscriminado duma vida.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

A hora de desistir – Maugrado os esforços, nunca consegui que entendesses. E juro que me esforcei. Uma, duas, três vezes, mais outras tantas, uma data delas. Seguindo o lema de que tanto dá até que fura. Até aos limites da paciência que, em mim, não são tão exíguos quanto isso. Mas nunca aconteceu. E, sinceramente, penso que não vai nunca acontecer.

És o exemplo de que só entendemos o que estamos preparados para entender.

domingo, janeiro 25, 2004

Aborto – Já andava a planear abordar a temática do aborto há algum tempo. Porém, adiei sempre para quando sentisse aquele momento, o adequado. Até que, passando os olhos pela revista do Expresso desta semana, na tão habitual última página, um verdadeiro must, para usar um pouco de linguagem de moda, li um texto que, no mínimo, me prendeu a atenção. Recomendando vivamente a leitura, junto alguns longos excertos com a função de teaser:

«os que querem interrogar e prender e condenar a uma pena as mulheres que abortam (…) acham que os defensores da despenalização são uma gente que «despreza a vida humana». E que mata seres humanos, embrionários, por gosto e egoísmo, para defender o corpo da mulher, esse recipiente público de vidas humanas, aberto a todas as gestações, sempre pronto a conceber, parir e acarinhar, mesmo contra a vontade ou desejo ou poder, porque foi desenhado por Deus Nosso Senhor como tal. Uma barriga, um útero, são instrumentos de concepção unilateral e involuntária e não parte integrante do corpo da mulher, tal como o cérebro ou o coração. Eu posso dispor do meu cérebro e do meu coração, dos meus pulmões e do meu fígado, da minha pele e dos meus rins, da minha medula, posso dá-los e vendê-los, não posso dispor do meu útero. Porque o útero está empenhado aos trabalhos da concepção e existe apenas como órgão procriador e não como parte do meu corpo sobre a qual deveria ter alguns direitos vitais.»

«…e eu pressuponho que as mulheres defensoras da vida humana nunca deveriam, por uma questão de coerência, ter feito contracepção, acto contra natura, porque fazer contracepção também implica liquidar a hipótese de muitas, muitíssimas vidas humanas.»

«Como também não devia ser um método de contracepção mas, implicando o acto de abortar uma violação do corpo e da intimidade da mulher, uma ferida aberta, é de concluir que como método de concepção é pouco prático e assaz masoquista.»

«Nenhuma mulher aborta por gosto, e a maioria aborta por desgosto. Se a vida humana começa dentro dela no instante da concepção ou semanas depois, nunca o saberemos. A vida humana, como a morte, começa e acaba quando a determinamos. Quando o nosso corpo e a nossa inteligência e a nossa moral a determinaram. A ciência e a religião deviam ajudar e não ser utilizadas como ditadura de uns tantos, os que acham que as mulheres são assassinas, sobre todos os outros. Eu não devo mandar no útero das mulheres que querem ter dez filhos. E elas não devem mandar no meu.»

Obrigado por escreveres como escreves, Clara.

sexta-feira, janeiro 23, 2004

Acerca dos problemas das interpretações literais

«E quem matar a alguém, certamente morrerá»
Lv 24, 17

«Quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará.»
Lv 24, 20

quinta-feira, janeiro 22, 2004

Campanhas – Eh pá, para ser absolutamente sincero, nunca na vida me passou pela cabeça que o livro que agora publicas tivesse alguma coisa a ver com o Palácio de Belém. Pelo amor de Deus, onde será que as pessoas vão buscar estas ideias? Infelizmente, grassa neste país a inveja pelo sucesso alheio, bem como a incontrolável vontade de corroer o trabalho dos outros, características que costumam andar muito de mãos dadas.

Só acho é uma coisa. Eu sei que andaste lá pelas coisas da cultura e mais não sei quê. Mas a malta associa-te mais é as revistas da moda, dos notáveis das festas em que nem todos podem entrar, das casas grandes com piscina, dos cocktails e discotecas, das miúdas. Ou seja, terias decerto mais material para fazer um livro dentro dessa temática do que na que acabaste por escolher. E com fotografias bem mais apelativas.

Quiçá para o segundo mandato?

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Futebol – Não sou muito dado a futebóis nem percebo grande coisa da ciência. Mas, de vez em quando, gosto de laurear a pevide e fazer daquelas coisas que não se fazem todos os dias. Calhou, no fim-de-semana passado, ter ido visitar os dois estádios da segunda circular em condições verdadeiramente opostas: sábado, Alvalade, na tribuna; domingo, Luz, lugar mais barato que havia.

E é giro assistir a um desafio ao vivo. A emoção é contagiante mesmo para alguém, como eu, que não sente nenhuma vibração especial por nenhuma equipa em particular. Com as palas, os estádios têm uma acústica muito melhor, os cânticos das claques, as palmas, os apupos, tudo isso é mais facilmente perceptível e torna a ambiência mais intensa e absorvente.

Agora, daí a dizer que isso justifica a pipa de massa que meteram nos estádios…

terça-feira, janeiro 20, 2004

Comboio – Quando regressou e reparou que a outra abécula lhe havia comprado o meio, o único que ela tinha pedido, e mais um bilhete inteiro, teve ganas de lhe apertar o gasganete. Foi isso que explicou ao revisor, vulgo picas, quando este lhe apareceu à frente durante a sua ronda pelas carruagens.

Quanto mais tesa estou mais tesa me põem. Quanto a isso, não podia o funcionário, obviamente, nada fazer. Ela, afoita e modestamente desbocada como sempre foi, aproveitava para dar mais nas orelhas da outra. ‘Tás-te a rir? Não tem graça nenhuma.

Sorte das sortes. Regressou o picas trazendo um tipo novo pela orelha. Agora compras o bilhete a esta senhora, ouviste? Lá lhe deu o respectivo dinheiro enquanto ela ouvia a explicação: no início do mês, muitas das pessoas que usam passe esquecem-se de comprar o respectivo selo.

Dois coelhos com uma só cajadada.

segunda-feira, janeiro 19, 2004

Meio – Realmente, dá a impressão que, se rolarmos pelo meio, podemos mais facilmente chegar a qualquer uma das pontas e, portanto, temos uma melhor hipótese de escolha. Também pode ser um fenómeno de claustrofobia, ficamos mais longe do muro de betão que separa os dois sentidos e da berma. Ou um qualquer gosto especial ou fetiche. Quem sabe.

O que é certo é que muito boa gente resolve plantar-se na faixa do meio para de lá só se deslocar quando chegar a altura de sair definitivamente da auto-estrada. O problema não seria de realçar acaso não tivessem o prazer mórbido de praticar velocidades que as candidatam mais àqueles que optam correctamente pela faixa da direita. Resultado: obrigam a constantes ultrapassagens, cansativas porque a oitenta quilómetros por hora implicam reduções e, por vezes, andar a passo de caracol quando a infra-estrutura tem por objectivo passo de lebre.

Porque pagam para usufruir duma estrada onde a vantagem é andar rápido quando não o fazem?

domingo, janeiro 18, 2004

Rituais – Até há pouco tempo, resposta ou olhar desdenhoso estariam prontos para quem me falasse em rituais. Aniversários, passagens de ano, comemorações avulsas de datas… enfim, muitas mais poderiam ser adicionadas a esta lista. Inúteis, desnecessários, as tradições desse género não tinham grande significado.

E, até que ponto aquelas que são mais convencionais e de grande difusão, passaram a ter, não sei. Sei que, de repente, alguns rituais passaram a fazer todo o sentido. Mas rituais por mim criados, com o significado que eu próprio lhes atribui. Não sei se foi pelo facto de ter sofrido um corte com a minha rotina diária e passar quatro meses fora de solo nacional, por ser um ponto de viragem com a conclusão do curso superior.

Rapei o cabelo de forma artesanal, uma semana antes de deixar Portugal; marquei o dia em que recebi a minha última nota com umas lâminas de barbear de qualidade duvidosa que necessitaram mais de uma hora para lidar com a minha barba de três semanas. Alguns exemplos físicos. Agora olho para as fotografias e lembro-me melhor das situações, tenho mais histórias para contar, tenho uma noção da evolução a partir do meu aspecto.

Não sei se partiram da mesma situação que eu, mas não fui o único a contribuir para essa criação ritualística. Estabelecemos alguns para as refeições. Por exemplo, na forma como brindamos. Nas músicas que ouvíamos. Sair para a noite internacional com a camisola da faculdade. Largar umas larachas em determinados momentos específicos. Definimos a categoria dos “clássicos” parar as expressões que nos marcaram.

Depois, também os há que não são divertidos. Já falei das despedidas. Dolorosas até dizer basta e, no entanto, necessárias como o natural desenrolar do tempo e da vida. Muitos mais pertencem a esta categoria dos simpáticos. Ficam, contudo, para outras alturas.

Até lá, ritualizem-se.

sábado, janeiro 17, 2004

Final – E pronto, prometo acabar com os massacres relativos a Maastricht, não vai haver mais nada assim de especial. Até porque penso que está tudo dito, não vale a pena remoer mais o assunto. Resta realçar, como grande remate final, a minha inteira disposição para ajudar a convencer aqueles que vacilam entre fazer ou não um programa Erasmus.

Se têm dúvidas, medos, incertezas e precisam daquele chuto nas partes traseiras que expulse todas as inibições e empurre para a frente e não forem capazes de o auto aplicar, falem comigo. Hei-de lembrar-me de todos e mais alguns argumentos para vos convencer.

E depois verão que tinha razão.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Feeling different - Someone told me I would notice things differently. But you never know what to expect exactly. Take me, for instance. I would never expect to enter Lisbon’s airport car park and feel something strange in the license plates. Of course, for four months, I almost only saw yellow ones.

This was just the beginning. The streets looked different, the places seemed to have changed, my room and my bed felt strange, especially when I woke up the first night, and people were no longer the same. Even though I knew that the streets, the places, my room and bed, people are all the same, they didn’t look so to me.

It didn’t last long. Only a few days. The normal routine returned and everything was normal and back on track again. But, even though my surrounding world is the same, I do feel different. My eyes now use other perspectives to see things, to analyze, to evaluate. As if I underwent some sort of spies training.

I guess a part of me actually grew up out there.

quinta-feira, janeiro 15, 2004

Hoi Hoi Maastricht – A stubborn tear fell down my right eye’s corner as soon as the train started to make its way towards Amsterdam. I did the best I could to prevent her from cutting lose, but it wasn’t enough. There was something strangely sad about those blue signs with white letters where we can read the city’s name, warning passengers not to get lost.

Goodbye P-Building, C-Building, Arc-Building, FDEWB, city library, Twee Heeren, Meta, Highlander, De Kadans, C-1000, Albert Heijn, Aldi, Shamrock, Kruithuis, Mensa.

But, as the train took me closer and closer to Schipol, it also gave me back my peace of mind. It reminded me how much I won, how much I gained from this experience. The wonderful places I discovered, crazy situations I found myself in, the amazing people I met and hope to see again.

Suddenly, the tear wasn’t there anymore. It vanished into some newly acquired sense of inner peace. The sky opened up, the sun managed to overcome the traditional dutch clouds. A smile was back in my face. But that doesn’t mean it never showed up in my eyes again. As soon as the KLM’s plane begun to approach my home town’s airport, she was back. I had no idea I would be so excited about arriving in Lisboa.

D Day finally arrived, much more beautiful than I ever expected.

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Emptiness - Of course I realize that not everyone could leave on the same day. People have different plans, some have to travel a long way to finally arrive home, and planes are not enough for all of us. However, I honestly didn’t expect to see a lot of us leaving before the last weekend. It was supposed to be the big party, the ultimate goodbye.

Instead, it was a depressingly empty environment. Wandering around the corridors and remembering how they once used to be filled with people from all over the world. In my last two Guesthouse nights, I had only two of my twenty one floor mates with me.

The feeling first invaded me when I met Nina to say goodbye. It was something like two o’clock and she was about to leave for Amsterdam. And somehow, the words I feel left behind found their way out of my mouth. Because that’s what happens to you when you see all the others leaving and you’re staying. Knowing what I now know, I would probably had done the same and left earlier.

And it just got worse when I realized how some of us get kicks out of destroying and trashing things. Sad is the word that pops up in my head each time I remember the C-Building’s entrance, flooded, looking like a polluted pond. The sort of memories you just don’t like to keep. Even thought they are also a part of the whole experience.

terça-feira, janeiro 13, 2004

Second chance #2 – However, when everything seems lost, life has, once in a while, a few surprises up her sleeves. When you least expect them.

It was around dinner time when Antonio, the Italian guy, whose 1500 inhabitants village you can see Albania, showed up at the door. Daniela’s return, he said with his lips smiling. I didn’t understand immediately what he said, I had to walk to him and wait for his patient explanation.

The bus that was supposed to take her home gave me a second chance. It never left. My sister still had her overly packed backpack on her back when I saw her and began to laugh. First a big smile, and then she followed my laughs. And now, I asked. She still didn’t know what to do. Her mother was calling her time and time again, hysterical.

The next morning, I arrived on time. I waited until she took all her stuff from her room with Antonio’s help, who was going to take her to the bus, to give her a hug. That hug. The one that wished her, along with my words, a good trip. In between three kisses, a lot of happiness and success with the masters program she’ll finish this year. And even more happiness.

She did better. She slashed silence when I ran out of things to say:
Make me proud. Whatever you’ll end up doing, just make me proud of you. OK?
And, as I looked to her with some sort of a puzzled face, she explained it to me, as if it was the most logical thing in the whole world:
You’re my brother; I want to be proud of you

Even though no sound came out of my mouth and I didn’t move, I actually said yes to her. She pinched my nose, smiling. And then she imitated a typing gesture, as if she was using an internet chatting program. Don’t forget to keep in touch, she ordered me with her finger up and a lot of authority.

How could I ever do such a thin, I wondered.

segunda-feira, janeiro 12, 2004

Second chance #1 - The day before, I had asked her until what time would she be in her room. I didn’t want to say goodbye to her on the eve if I could be there the exact day. I did what I had to do in the morning, dropped by my corridor, spoke to someone, let my stuff in my room and made my way to her corridor.

Davide was coming by. I asked him. He made a weird looking face. He hadn’t realized she was about to leave soon. But he actually thought she was still there, he had seen her not so long before. He knocked heavily on the door and hollered her name. The answer came from the room to the right. In her funny Irish accent, Una told us she had left ten minutes before.

It wouldn’t soften the situation. By the contrary, said afterwards Candice when I told her my misfortune. It was probably even better, instead of just standing there, with no idea whatsoever about what to say. Only in movies can you come up with something beautiful to say. Even though, I felt frustrated for blowing my only shot at saying some sort of goodbye to my self-entitled Bulgarian sister.

And it was a big frustration, because I could very easily have been there if I hadn’t wasted those ten minutes walking around the Guesthouse and chatting to people. And I also needed to really feel that frustration to realize how much I value goodbyes. It’s like leaving something incomplete, like a hole that prevents an end, that prevents the turning of a page.

That was surely why we, in that same evening, did Michael’s goodbye pancakes. He was going to return home that day, to Cologne, and then fly the next day to Ecuador, his girlfriend’s home country. Not to let promises, ideas, plans made out in emotional moments die, he asked us minutes before trying to leave through the window, to avoid the long reception way.

domingo, janeiro 11, 2004

Complementaridades – Não tem muita utilidade prática para situações de comunicação banais. Como por exemplo, se telefonássemos ao nosso amigo para dar uma saltada até à esplanada. Ou se nos dirigissemos ao empregado para perguntar quanto é a bica que acabámos de beber e pagá-la. Ou se explicássemos ao nosso colega de carteira que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Ainda menos jeito daria para dizer passa-me a saladeira se faz favor, quando estamos sentados à mesa a jantar.

No entanto, por seu turno, as palavras são bichos que, em si, não encerram grande valor, grande significado. É verdade, sim senhor, que, contrariamente, dão um jeitão doido em todas as situações que mencionei em cima. Mas têm apenas o valor que lhes dermos. De resto, são ocas, vazias. Definir amor, ódio, fúria, raiva, calma, alegria, tristeza é complicado quando a elas recorremos.

Por isso música é em si uma linguagem diferente. De pouco uso na vida prática do dia-a-dia. Porém, imensamente mais envolvente para as situações que às palavras escapam. No fundo, estados de espírito, sentimentos, sensações.

Duas linguagens a usar em contextos diferentes.

sábado, janeiro 10, 2004

Batalha – Diz que os que se batiam pelo país dos Lusos eram em menor número que os que vinham dessoutro país já aqui ao lado, com grande vontade de anexar terrenos de plantação. Porém, quantidade não é qualidade, assim o provaram as artimanhas e armadilhas que foram estrategicamente colocadas, assim como uma tal de técnica do quadrado, originária do Reino Unido, terras de Sua Majestade, uma inovação pensada para a Guerra dos Cem Anos. Desafiando probabilidades contrárias, acercando-se de se tratar dum acontecimento improvável, o que é certo é que a batalha foi efectivamente ganha.

Desígnios Dele, dirá Nuno Álvares Pereira, aquele a quem deram um cognome que mais parece azeite, que havia prometido uma construção em Sua Glória. A lenda jura a pés juntos que arremessou a espada que momentos antes, decepava e rasgava a carne dos corpos adversários, provavelmente ainda banhada em sangue, pelos ares até que esta se imobilizasse no pântano onde hoje se ergue a construção em calcário. Imponente, grande, como todos os edifícios que pretendem assinalar a imortalidade de grandes feitos.

Podia era estar mais limpinho.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

«Muito curiosa esta partícula «pá!», que não querendo dizer nada, quer dizer tudo e exprime as mais ínfimas variações de alma. O professor Óscar Lopes já nos deu um magnífico estudo sobre o «assim». Este «pá», ao que sei, aguarda ainda o exame ilustrado e frio duma grande cabeça. Lá chegaremos, acho. Admiremos para já, de ouvido, a beleza e a simplicidade daquela vogal aberta que parece estalar com a oclusiva «p», como uma sonora bolota a saltar no lume.

Quanto à semântica, o que me entristece é virem-me dizer que a Língua Portuguesa é desmunida de capacidade de síntese. Neste simples «pá» do coronel Bernardes há uma mistura de gáudio, de reconhecimento, de descrição, de desconfiança, de alarme, que não se encontra nos falantes dos demais idiomas, com excepção das crianças de peito.
- Vem lá o gajo!
- Qual? O das sardinhas ardidas?
- Não, o puto das águas, pá!»

in, Fantasia para dois coronéis e uma piscina, Mário de Carvalho

quinta-feira, janeiro 08, 2004

Mora – Não que tivesse a contar com o ovo no dito cujo da galinha, faz parte de quem está habituado às andanças deste país não contar com grande coisa, sobretudo, muito depressa, senão cairá em profundo e medonho desgosto. Contudo, quatro meses de ausência, que coabitaram com a minha infame falta de seguimento dos acontecimentos nacionais, podiam ser recompensados com algum avanço, mesmo que não terrivelmente significativo no decorrer das investigações.

De início, absolutamente nada. Só algumas histórias paralelas, nada de jeito. E, felizmente, quando me preparava para soltar uns valentes impropérios e acusar estes tipos de demorarem imenso tempo, eis que surgem as tão desejadas condenações. Finalmente. E surgem também aqueles apanhados que os jornalistas tão bem fazem. Que nos relembram a cronologia de que já só nos resta na memória parte.

Foi há quase um ano que se desenrolou a primeira dose de aprisionamentos. Parece mentira, mas muitos dos iniciais suspeitos estiveram presos este tempo todo. Longe de mim vir para aqui advogar a inocência ou qualquer outra pseudo-misericórdia. Mas a verdade é que esta mora não me parece adequar-se muito ao desejado para um Estado que se diz Democrático, com letra maiúscula.

Mesmo os criminosos que, neste caso, ainda não foram dados como tal, são gente.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Um pequeno vá para fora cá dentro vai afastar-me até quinta-feira destas andanças.

Até lá.
Árbitro – Indivíduo que, em jogos desportivos, fiscaliza a observância das regras.

In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora

domingo, janeiro 04, 2004

Em terceiro lugar – É uma daquelas expressões de caras, chapadas, de extrema facilidade na aplicação. Andamos lá por fora e depois apraz-nos dizer que lá é muito melhor, tão melhor que aqui tudo é terceiro mundista. Também eu pertenço a essa lista de acusadores natos, não deveria ter autoridade moral para criticar seja o que for. Contudo, relembrei-me a mim próprio que ainda não apareceu alternativa melhor que este cantinho à beira mar plantado em matéria de sítio para viver.

Parece paradoxal, não é? Será que é pura e simplesmente por estar terrivelmente ambientado? Por não me conseguir inserir noutro sítio tão bem como aqui, dado o manancial de luso-cultura que adquiri ao longo dos tempos? Será que é pelo clima, pelas pessoas, pela forma de estar na vida? Será que é pela gastronomia? Será pelo maravilhoso sistema Multibanco? Será pela diversidade de marcas existentes nas prateleiras dos supermercados? Tudo questões complicadas.

Parece-me que a qualidade de vida lá para o centro da Europa é bastante maior em questões de poder de compra e oportunidades de formação académica, para dar dois exemplos. Sem dúvida, não é preciso ser nenhum iluminado para atingir essa. Porém, não é só isso que dita o soneto todo.

Irrita-me o cinzentismo dos nórdicos, por exemplo. São tipos demasiado macambúzios no dia-a-dia e só se libertam ao fim-de-semana, lá para a quinta rodada de cerveja. Não gostaria de passar a ter refeições em que o único objectivo é tão primário quanto evitar morrer à fome, ao invés de nós, latinos, que nos sentamos a comer como quem descobre um óptimo pretexto para tagarelar uma meia-horita. Detesto ter de esperar por grandes atrasos. Mas também detesto a falta de flexibilidade por causa de cinco minutinhos.

Enfim, tudo isto para dizer que tudo tem o seu reverso da medalha. Os países menos organizados como o nosso são, normalmente, aqueles que albergam pessoas mais relaxadas e despreocupadas. O que isso tem de bom por um lado, tem de mau por outro. Os mais organizados, por vezes, caem no excesso de regrinhas que pouco interesse têm.

A questão é saber o quanto cada uma dessas características pesa na nossa própria balança.

sábado, janeiro 03, 2004

Alcunhas - Altas, todas elas são grandes, ocupam espaço. Obrigam-nos a olhar de baixo para cima, fazem-nos sentir reduzidos à nossa insignificância. Olhos muito claros, assim como o cabelo. Aliás, foi este último que lhes adquiriu a alcunha com que os belgas carinhosamente as apelidam. Kaaskop, cabeça de queijo. Até os próprios holandeses arranjaram as suas próprias palavras de ordem para designar as suas conterrâneas que se enquadram nesta descrição.

Cheesies, dizem eles com um sorriso.

sexta-feira, janeiro 02, 2004

Caro Herman José

Lúcia Piloto, Isabel Queiroz do Vale, são aqueles nomes que mais rapidamente me ocorrem de cabeleiras associadas ao mundo televisivo. Não sei se é o caso, se recorreste a outro estilista ou, com grande autonomia, se te muniste de tintas capilares e te desenvencilhaste sozinho. Mas confesso que achei forte. Que não estava à espera.

Diz quem assistiu à transformação e, portanto, sabe do que fala, que até seguiste um certo processo evolutivo. Passaste por diferentes estágios cromáticos, crescentemente mais claros, até aterrares naquele que tens agora. Que, a bem dizer, também não sei se é o final da escalada ou se ainda te encontras no dito processo evolutivo.

O ou os porquês, não sei nem faço ideia. Será que fica melhor? Pergunta de difícil resposta: anos e anos seguidos de uma determinada cor moldam para sempre a forma como vamos encarar essa mudança. Talvez a verdadeira referida difícil resposta só possa vir ao de cima depois da habituação.

Até lá, boas andanças capilares.