quarta-feira, abril 30, 2008

Nunca deixo de ligar a uma pessoa que me dá o seu número de telefone, disse-lhe de uma forma que ainda acentuava o carácter cavalheiresco da afirmação. Depois destoou um pouco quando acrescentou que ligaria nem que fosse para dizer que nada feito, tinha mudado de ideias ou nem sequer era bem o estilo dele, não fazes o meu tipo. Afinal, os encontros casuais proporcionam sempre este risco a quem neles investe como se de uma bolsa de valores se tratasse. E que seria deles se não existisse esta componente de sinceridade tão crua?

Pelo sim pelo não, ficas também com o meu número. Se alguma coisa estranha acontecer. Era quase como se deixasse o bilhete de identidade para garantir que voltaria mais tarde ao restaurante para pagar uma refeição em dívida. Ela aceitou com um sorriso e tomou nota na memória do telefone moderno, cheio de luzes e ícones bruxuleantes. Assim até saberia que era ele quem lhe ligava.

Passados uns dias, ele cumpriu a promessa. Procurou o nome na lista e carregou no botão verde. E então foi ela quem nunca atendeu.

terça-feira, abril 29, 2008

Sopa da pedra – Pièce de résistance da gastronomia dos toxicodependentes.

segunda-feira, abril 28, 2008

Marco trabalhava nos Correios. Tinha uma daquelas motoretas velhas com um saco de pele na parte de trás para acomodar a correspondência. Saía de manhã com a ronda de sempre estipulada. Incomodava-o o facto de nunca chegar a poder fazer grandes trajectos: acelerava de caixa de correio em caixa de correio, de acordo com a sucessão constante das mesmas casas.

E das mesmas pessoas. Marco sabia de cor os nomes de todos os destinatários e a que casa pertenciam. Quando, por vezes, surgia uma carta com uma morada errada, Marco imediatamente dava conta e atribuía ao destinatário correcto. Sabia quantos filhos tinham, sabia onde trabalhavam, sabia de que banco eram clientes.

No entanto, para toda esta gente que diariamente revia, nada mais era do que o simples carteiro. Igual ao anterior que Marco substitui quando se reformou; ninguém reparou que recebia o correio das mãos de outra pessoa. Bom dia, boa tarde, obrigado e, por vezes, nem sequer isso.

domingo, abril 27, 2008

A melhor aproximação possível a Rio Maior - é através de Si Menor.

sábado, abril 26, 2008

Sobre ser o Adão, o pecado original e essas coisas #2- Eva Longoria

sexta-feira, abril 25, 2008

Sobre ser o Adão, o pecado original e essas coisas - Eva Mendes

quinta-feira, abril 24, 2008

O problema dos melodramas - é que rapidamente exageram e resvalam para melosodramas.

quarta-feira, abril 23, 2008

Sucede amiúde nos jogos de futebol dos miúdos - que o dono da bola seja o que joga pior. Mas, como o facto de acontecer o desafio está dependente do objecto redondo que lhe pertence, os outros atletas não têm outra solução senão inclui-lo numa qualquer equipa. Eu próprio podia ser esse sujeito; o problema é que não tenho nenhuma bola de futebol.

O sorteio. Primeiro o ritual do par ou ímpar que determina quem começa a escolher. Vão prosseguindo alternadamente e o apêndice é sempre o último a ser escolhido, quando mais nenhum sobra. Muitas vezes estrategicamente empurrado para baliza, outras no meio do campo sem fazer a mínima ideia do que fazer a seguir.

Sempre que vejo o Ballack jogar pelo Chelsea penso sempre que é o dono da bola.

terça-feira, abril 22, 2008

Ir a um festival de Verão - e ser uma das pessoas mais velhas no recinto. Ir a um concerto da Gulbenkian do ciclo das grandes orquestras mundiais e ser a pessoa mais nova na sala.

segunda-feira, abril 21, 2008

Pagar impostos a cantar – Preencher um impresso das Finanças e aperceber-me que o meu estado civil é Sol. Maior.

domingo, abril 20, 2008

Fed - up with the rain

sábado, abril 19, 2008

Castaway II

quinta-feira, abril 17, 2008

Os únicos GNRs que não têm bigode - são os que tocam na banda filármonica.

terça-feira, abril 15, 2008

A altura do ano - em que as oito horas deixam de ser da noite para passar a ser da tarde.

segunda-feira, abril 14, 2008

Estoril Open, esse barómetro, essa vidente munida de bola de cristal, essa bruxa de vassoura em riste - «The tournament is traditionally a platform for future Roland Garros champions. Sergi Bruguera, Thomas Muster, Albert Costa and Juan Carlos Ferrero won titles in Portugal before going on to succeed in Paris. Even Gustavo Kuerten (1997) and Gaston Gaudio (2004) won the doubles at the Estoril Open the same year they lifted the Roland Garros singles crown.»

Só falta ajustar as expectativas para a chuva que se espera a partir de quarta ou quinta-feira e para um Rogério em manifesta quebra de forma.

domingo, abril 13, 2008

«The autumn sky was as clear as if it had been made that very morning. Perfect Duke Ellington time. Though, of course, Duke Ellington would be right even for New Year’s Eve at an Antarctic Base.»

Hard-boiled wonderland and the end of the world, Haruki Murakami
Billy Strayhorn tinha 22 anos - quando Duke Ellington se rendeu ao seu talento e o convidou para integrar a sua banda. Disse-lhe que fizesse as malas e que fosse ter com ele a Nova Iorque. O jovem pianista nunca tinha estado na Big Apple e, quando saiu do comboio em Manhattan, não fazia a mínima ideia de como chegar a casa de Duke Ellington, no Harlem. Ainda na estação, dirigiu-se a uma cabine telefónica e discou o número. A voz do Duke soou do lado de lá e ele explicou-lhe onde estava e perguntou-lhe o que deveria fazer para ir até sua casa. E foi então que o Duke respondeu:

Take the A train

sábado, abril 12, 2008

As estrelas porno da gramática – são as conjunções coordenativas copulativas.

sexta-feira, abril 11, 2008

«Many are the women who can take their clothes off seductively, but women who can charm as they dress?»

Hard-boiled wonderland and the end of the world, Haruki Murakami

quinta-feira, abril 10, 2008

Os Stewards contam-se entre os gajos que têm as profissões mais duras. Todo aquele tempo sem poder olhar para trás para ver como está o jogo.

quarta-feira, abril 09, 2008

Acordo Ortográfico e a forma como o BE fundamenta as suas posições

«As múltiplas interrogações com que o deputado do PCP, João Oliveira, recheou a sua intervenção ("Será este acordo um factor de cooperação? De que serve um acordo ortográfico sem uma política da língua portuguesa no mundo?") indiciavam uma mesma reserva em desvendar o sentido de voto final, apenas revelado, na prática, pelo representante do Bloco de Esquerda (BE). Este, ficou claro, será de apoio ao acordo. Disse Luís Fazenda: "Respeitamos objecções levantadas por pessoas com competência técnica [referia-se aos linguistas que se manifestam contra aspectos do acordo]. Contudo, o que é importante é o sinal político e esse vai muito para além deste acordo de aproximação ortográfica e é o seguinte: no conjunto de Estados que se exprimem em português há uma cogestão da língua."»

O Público

terça-feira, abril 08, 2008

Jazz de sangue azul – King Oliver, Count Basie e Duke Ellington

segunda-feira, abril 07, 2008

Seria de esperar que, por esta altura do campeonato, os venezuelanos já tivessem uma certa desconfiança pela substância negra que comanda o quotidiano de milhares de milhões de criaturas por esse mundo fora. Não é preciso recuar muito na história do país para esbarrar na grave situação económica, em larga escala, fomentada pelas abundantes reservas de hidrocarbonetos: basta ir até à época de setenta, talvez a que melhor exemplifica.

Fruto do primeiro choque petrolífero, as receitas com a exploração de petróleo literalmente explodiram de um momento para o outro, inundando os cofres públicos de uma riqueza nunca antes vista. No entanto, essa riqueza não se traduziu no desenvolvimento e no bem-estar da população, tal como era previsto. Aliás, este fenómeno que, em certa forma, é um paradoxo, atinge muitos outros países que possuem grandes reservas de recursos naturais e que não dão sinais de conseguir escapar à pobreza.

“La Gran Venezuela”

É fácil argumentar que, sentados numa pipa de massa, os venezuelanos tinham mais do que o direito, tinham uma quase obrigação moral de aproveitar esta oportunidade caída dos céus para dar um empurrão decisivo ao seu país e transformá-lo na “Gran Venezuela” idealizada por Simón Bolívar.

Foi com esta perspectiva em mente que foram desenhadas intervenções ao tecido económico e empresarial, no sentido de desenvolver indústrias pesadas como a petroquímica e a metalúrgica: por um lado, porque abundância de receitas de petróleo forneceria os investimentos iniciais necessários à criação dessas indústrias e, por outro lado, porque os hidrocarbonetos seriam matéria-prima e fonte de energia necessária ao seu funcionamento.

Os resultados, no entanto, frustraram as expectativas. Regra geral, os países que experienciaram um aumento significativo do volume de exportações associado à exploração de recursos naturais, viram a sua taxa de câmbio responder com uma apreciação em termos reais. Esta apreciação atinge sobretudo os sectores agrícolas e das manufacturas, cuja exportação se torna mais cara. Adicionalmente, o acréscimo de rendimento que passa a estar ao dispor da economia é, muitas vezes, responsável pelo aumento dos preços de bens não transaccionáveis, tais como os serviços. Finalmente, o investimento na área da exploração do petróleo está muito ligado à intervenção de empresas estrangeiras que possuem o conhecimento necessário e que não fazem muitas tenções de reinvestir os seus ganhos localmente (a não ser que seja para mais exploração); gera pouco emprego e os empregos mais qualificados não são, na maioria das vezes, preenchidos por mão-de-obra do país.

Para melhor descrever o caso Venezuelano, basta somar algumas idiossincrasias. Em primeiro lugar, grande parte das empresas nacionais que beneficiaram dos subsídios eram grandes monstros, muito pouco produtivos e que se limitavam a absorver os enormes montantes para fazerem face às divídas que com facilidade acumulavam. Em segundo lugar, esta reorganização sectorial da actividade económica, implementada por diploma legal, contribuiu para atrofiar ainda mais o sector primário, para lá daquilo que os efeitos da apreciação real da taxa de câmbio por si só fariam. O cenário torna-se pior se considerarmos que a tradicional agricultura, de escala familiar, era a actividade com que muitos contavam para a sobrevivência diária.

Onde está a minha fatia do bolo?

Com a extrema centralização do poder de decisão sobre um montante gigantesco de dinheiro num conjunto muito restrito de pessoas, tornaram-se extremamente proveitosas as actividades de lobbying e de procura de rendas por parte de um grande conjunto de agentes económicos. Mais: na senda de apoio que legitimasse e mantivesse a estrutura governamental de pé, os tomadores de decisão rapidamente se viram forçados a ter que agradar e satisfazer estes avanços por parte de uma estrutura oligárquica que controlava importantes sectores da actividade económica, bem como as Forças Armadas. Foi assim que surgiu um movimento generalizado de jobs for the boys que, também nós portugueses, tão bem conhecemos.

Se o aumento dos gastos públicos já era previsível tendo em conta a estratégia pretendida de investimento na industrialização, ainda mais vincado se tornou com esta expansão do emprego no sector público. E, se a tudo isto, ainda juntarmos o arranque o do Welfare State e das consequentes transferências do Estado para as famílias, então podemos ver como se consome tamanha riqueza.

O ponto fulcral é que esta estratégia de aumento dos gastos para alimentar o apetite da sociedade civil, do empresário ao empregado, da figura pública ao zé-ninguém, é um processo com o qual qualquer tomador de decisão nas mesmas circunstâncias se vê confrontado. É praticamente uma condição necessária para que consiga manter-se no poder porque todos querem o seu quinhão da riqueza imediata.

O declínio

Dois ou três anos após o choque petrolífero, o preço do barril de petróleo estava consideravelmente mais baixo. Para uma economia literalmente movida a petróleo, a consequência imediata foi a quebra drástica das receitas estatais e, pela primeira vez desde a alta dos preços, o Estado estava a gastar mais do que arrecadava. Mas nada disso fez com que os grupos de interesse e a sociedade civil deixassem de exigir as regalias com que tinham sido aliciados e a que, entretanto, se tinham habituado.

Uma solução para este problema seria recorrer aos detestáveis impostos. No entanto, essa era, à partida, uma estratégia condenada ao fracasso. Basta ver que a Venezuela não tinha uma Administração Fiscal na verdadeira acepção da palavra antes dos choques petrolíferos. As suas receitas limitavam-se a pouco mais do que os direitos aduaneiros. Por isso, o arranque do Welfare State só foi possível com as receitas da exploração de petróleo: não havia receitas fiscais suficientes anteriormente. Depois de começar a entrar tamanha riqueza, era muito difícil instaurar uma política de recolha de impostos. Primeiro, porque as pessoas não iriam aceitá-lo: se o Estado nada em dinheiro, por que carga de água hei-de eu ter que contribuir com mais? Segundo, porque não havia uma máquina fiscal que tivesse o know-how para, de um momento para o outro, conseguir levar a cabo uma política fiscal.

E foi assim que começou o endividamento. Ironicamente, usando receitas futuras de petróleo como colateral. Na década de oitenta, a Venezuela era um dos países do mundo com um maior nível de endividamento e cuja taxa de crescimento estava agora em zona negativa.

O “Nacional Chéverismo”

Agora, como é possível, volvidos cerca de trinta anos, ver a Venezuela voltar a bater na mesma tecla, clamando, na voz do seu Presidente, por um barril de petróleo a 100 dólares? A resposta está nas encostas de Caracas e das outras grandes cidades, onde pululam as favelas, um fenómeno que, infelizmente, embora largamente associado ao Brasil, é bastante mais viajado. O pé-descalço que vive numa barraca sujeita a ser varrida pela próxima enxurrada causada por uma chuvada tropical, não quer saber para nada das ilacções que se podem retirar de tempos passados. Vive em condições péssimas, possivelmente não trabalha e, mesmo que o faça, não deve ganhar nada de jeito. Pior: olha para o lado e vê pessoas com dinheiro a gastarem um dia ao almoço o que ele não ganha em meses, enquanto ele terá que voltar para o barraco, passando por locais onde a criminalidade é um flagelo totalmente fora de controlo, onde se mata por um par de sapatos.

Acenem-lhe com uma qualquer promessa e ele aceita logo. Nem sequer precisa ser muito generosa ou elaborada. Só precisam de lhe explicar como vão conseguir que ele tenha uma casa condigna e que passe a poder ir ao médico ou à escola ou a ter um trabalho. E aí é preciso referir o petróleo. E é aí que ele responde que o petróleo é “chévere”. E também que Hugo Chávez é o novo Símón Bolívar que, sentado em cima de um barril, vai libertar a América Latina do jugo económico imposto pelos países ricos.

sábado, abril 05, 2008

O Fá e o Ré tinham um vizinho elitista: o Mi não se dava com ascedência de meio-tom.

sexta-feira, abril 04, 2008

Cúmulo do obscurantismo – A definição de clareza ser incompreensível ou ilegível.

quinta-feira, abril 03, 2008

Por que carga de água - é que o António é Santo mas o João e o Pedro são Sãos…?

quarta-feira, abril 02, 2008

Bigode farfalhudo - e cabelo um pouco comprido atrás, camisa cor-de-burro-quando-foge aberta à frente e pilosidade do peito descoberta, sapatinho com berloques e meiinha branca nos pés, medalhão ao pescoço e aneis bojudos nos dedos. Toda a gente conhecia o Sr. Vinagre, um dos castiços da vila. Descia a rua com andar gingão, presenteando os transeuntes com olhares de basófia e, ocasionalmente, cuspindo para o chão. No café, envolvia-se em grandes discussões enquanto devorava caracóis regados por uma “mine”: sobre os políticos que só querem é chegar ao poleiro; pior quando o tema era o Benfica, chegava mesmo a engalfinhar-se por dá cá aquela palha. Às meninas, o Sr. Vinagre reservava sempre um olhar especial, de cima a baixo e centrado em determinadas zonas da sua anatomia. E nunca escapavam à sua marroteira, tinha sempre uma frase feita na ponta da língua, estilo “ó febra, anda cá ao grelhador”, para lhes dirigir. Nos bailaricos, arregaçava as mangas do seu blazer salmão e era vê-lo a convidá-las a todas para um pézinho de dança.

O Sr. Vinagre era um grande azeiteiro.

terça-feira, abril 01, 2008

É curioso como a morte é algo que está tão imbuído no espírito humano, de tal forma que a sua inexistência é, até certo ponto, incompreensível. Até Hollywood, cujos limites deviam ser os da imaginação, tem exemplos curiosos da incapacidade de exclusão da senhora de preto com a foice.

Um deles é a saga dos imortais e do Duncan Macleod (que deu uma série televisiva que era mais gira que o próprio filme) onde a imortalidade é, no mínimo, um pouco falsa: há uma possibilidade de que os personagens venham a morrer, desde que sejam decapitados por outros que também sejam imortais.