domingo, janeiro 30, 2005

Nada como estar enganado – O russo, o mais inconstante, o menos concentrado, o que vai abaixo mais facilmente nos grandes jogos, nas grandes decisões. Ganhou ao que normalmente não claudica ante as dificuldades e que consegue sempre estar à altura do momento. E conseguiu ganhar àquele que busca aquele vitória desesperadamente, com toda a garra e todo o coração que consegue pôr cá para fora.

Dá gosto

sábado, janeiro 29, 2005

O foyer da Culturgest - Uma alcafita cor-de-rosa coroada com uma meia dúzia de sofás pretos encostados a uma das paredes forradas a madeira clara. A do fundo. Porque a que dá para o auditório tem um ecrã daqueles modernos, muito fininhos, onde se pode ver o que se passa dentro da sala. O grande problema é o som. Quando os que ali trabalham abrem a porta por alguma razão, uma avalanche de timbres mostra o quão envolventes são as cordas do contrabaixo, as escovas da bateria, o metal dos sopros, a martelada do piano.

Nem sequer era o canto de cisne dos de carteira lisa. Esgotado, tinha eu ouvido vinte minutos antes da boca da funcionária da bilheteira. Foram-nos resgatar ao café, onde esperávamos pelo Sérgio em quem tínhamos depositado todas as esperanças. Porque o Sérgio é daqueles que encaminha as pessoas aos lugares.

Mas por ali andava o engenheiro. Fato e gravata, pouco cabelo, muita barriga. E o engenheiro não tinha cara de quem deixasse o fantástico mundo da cunha desenrolar-se. Permitiu olhar para o televisor lá em cima no reino da alcatifa cor-de-pink vá-se lá saber como, nem sequer é prática normal, segundo rumores de quem sabe, de quem conhece por dentro aquele ambiente.

Terá ele ouvido? Redenção? Não faço ideia. Mas quando o Enrico Rava anunciou lá dentro a última música da noite, o tipo apareceu muito rápido a dizer que dava borla. De pé, encostado à madeira do acesso às cadeiras, via o quinteto ao fundo. Ainda tivemos direito ao brilhante encore, um despique nos chases do baterista com o contrabaixista.

O bilhete teria custado 5 euros (tenho menos de trinta anos e levava o BI para o comprovar). O CD que comprei à saída foram 15.
Isn’t this the rhythm of life? Periods of change, followed by long periods of getting used to the change until you feel compelled to change again. Boredom is my only motive.

The Blind Man of Seville, Robert Wilson

quinta-feira, janeiro 27, 2005


Procura
Descobre
Corre
Fala
Rasga
Fura
Pergunta
Constrói
Ama
Duvida
Esquece


O abismo da saudade é a apatia do futuro
´We all suffer,` said Dr Fernando. ´The Spanish, not just the Sevillanos, rise above their problems through… la fiesta. We talk, we sing, we dance, we drink, we laugh and party night after night. This is our way of dealing with the pain. Our next-door neighbours, the Portuguese, are very different.´
´Their natural condition is to be depressed,` said Falcón. ´They’ve given into the human condition.´
´I don’t think so. They’re melancholic by nature, like our Galicians. They have the Atlantic to confront every day, after all. But they are great sensualist, too. There’s a country that would commit suicide if you cancelled lunch. They love to eat and drink and enjoy the beauty of things.´
´Yes,´ said Javier, getting interested. ´And what about the British? My father so admired the British. How do they cope with life? They’re so reserved and inhibited.´
´Well, to us they are, but amongst themselves… I believe they have this expression: “to take the piss”.´
´That’s right,´ said Javier, ´they never take things too seriously. They make fun of everything. Nothing is sacrosanct. The famous British sense of humour. And the French? ´
´Sex. Love. And all that leads up to it. La Table
´The Germans? ´
´Ordnung
´The Italians? ´
´La Moda
´The Belgians? ´
´Mussels.´ said Dr. Fernando, and they both laughed. ´I don’t know any Belgians.´
´And the Americans?´
´They are more complicated.´
´They all have their own personal analysts.´
´Yes, well, it’s not so easy to be the leaders of the modern world with the right to the pursuit of happiness written into the constitution,´ said Dr Fernando. ´And they’re a mixture: Northern Europeans, Hispanics, Blacks, Orientals. And maybe that’s it, they’ve lost touch with their traditional safety values.´
´It’s a good theory. You should write a thesis.´


The Blind Man of Seville, Robert Wilson

terça-feira, janeiro 25, 2005

´My job is to get to the truth, ´ he said. ´I’ve been working at it for over twenty years. In that time I… and police science, have developed hundreds of techniques for helping us get to the provable truth. I’d like to be able to tell you it is now an exact science, that it is actually scientific, but I can’t, because, like economics, another so-called science, there are people involved and where people are involved there’s variability, unpredictability, ambivalence… Does that answer your concern, (…)? ´

The Blind Man of Seville, Robert Wilson

domingo, janeiro 23, 2005

Um post há muito merecido - por culpa de um link há muito esquecido. Que é como quem diz desculpa Jana, mas mais vale tarde que nunca. A fazer companhia, the likes of ZéJó.

Tudo isto e muito mais na Prata da Casa.
O Rescaldo do Benfica vs. Beira-Mar
HUMAN BEHAVIOUR

If you ever get close to a human
And human behaviour
Be ready be ready to get confused

There's definitely definitely definitely no logic
To human behaviour
But yet so yet so irresistible

And there's no map to human behaviour

They're terribly terribly terribly terribly moody
Then all of a sudden turn happy
But, oh, to get involved in the exchange
Of human emotions
Is ever so ever so satisfying

And there's no map
And a compass wouldn't help at all


Björk

sábado, janeiro 22, 2005

Categoria - Instrumentos de tortura caseiros
Falo por experiência pessoal – porque eu próprio tenho um daqueles nomes que se põem a jeito para um trocadilho fácil. Se bem que, no meu caso, demasiado descarado. Depois há outros mais subtis. Um é Diogo. Este exemplo é infantil, é verdade, quem nunca terá ouvido no recreio de uma escola primária a lenga-lenga “Ó Diogo, baixa as cuecas que lá vai fogo...!”.

Outro exemplo que me ocorre é mais... erudito. É o do apelido Leitão. Gozação básica, típica, chapa quatro: “Nunca mais és promovido a Porco, pá...!”. Pode ser completado com qualquer coisa do género de “se fosse a ti refilava, isso é um escândalo, já és Leitão há uma série de anos...!”.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Proposta de candidatura – de Santana Lopes ao regressado concurso Um Contra Todos da RTP. Com a cadeira bem levantada no ar e com umas costas ultra-reforçadas para evitar facadas nas costas.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Um governo de gestão – que não entende o que é ser governo de gestão. Um gajo chamado Mexia que não entende o que é Train a Grande Vitesse. Um gajo chamado Jerónimo de Sousa que pensa que isto vai lá com o aumento do consumo interno resultante de aumentos salariais.

Um gajo chamado Daniel que acha que é melhor ir dormir

domingo, janeiro 16, 2005

Já tinha visto - num daqueles documentários de canal de televisão sobre música a história por detrás do álbum. Um surto de falta de criatividade, de bloqueio, tensão entre os quatro cavaleiros irlandeses, levou-nos à Berlim acabada de sair da queda do muro. Procuravam receber good vibes naquele ambiente que adivinhavam frenético.

De início, não parecia suficiente e eles próprios foram os primeiros a assumir que a banda esteve quase a implodir naquele tempo. Até que, de um momento para o outro, saíram uns acordes e uma melodia daquilo que viria a ser depois o One. Foi o despoletar, o rastilho para um Achtung Baby que, como diz a pessoa que me o emprestou este fim-de-semana, é praticamente só feito de singles.

Sim, pela primeira tive-o na mão. Conhecia-lhe algumas das faixas, o teledisco das "misteriosas maneiras em que ela se move" leva-me até à minha infância. Mas nunca tinha olhado para aquela capa. Aquela capa de vintage Anton Corbijn. E, lá no meio, estava esta fotografia que hoje coloco on-line.

Muito parecida a uma que pus, há pouco tempo. É só trocar o carro de fabrico comunista por sete papalvos. Que não puseram um carro de fabrico capitalista na imagem porque necessitaram dele como suporte para as máquinas com o temporizador a avançar.

sábado, janeiro 15, 2005

Ora -, em relação ao que se tem aqui debatido no que concerne àquelas protuberâncias chamadas “nariz”. Maiores no caso de alguns a que normalmente designamos de pessoas que o têm tão comprido que mais parecem o Pinóquio, o Depardieu ou que podem fumar à chuva tranquilamente; altivos no caso de outros, outras, melhor, no contexto deste exemplo que se segue, o da famosa Cleópatra que tomava banho em leite de burra por causa da pele; menores no caso de animais aqueles cães que têm um nome estilo pugilista e que, talvez por isso, parece terem levado um soco bem aviado, ou como o meu carro depois de me ter espetado há coisa de dois, três meses.

Fiquei a saber mais do que aquilo que me interessava, nomeadamente, que o Gonçalo tem borbulhas interiores (fantástico, este sim, um grande tema a explorar…), que a Sara não tarda pinta quadros com os pés e que a V. é partidária do uso do dito cujo em preliminares. Também fiquei a saber a nova grande contradição, o paradoxo supra supremo, um conflito de personalidade cimeiro, nunca antes visto, de um tipo (que eu sei perfeitamente quem é, não penses que me enganas, sou um gajo que conhece pessoas e que tem contactos espalhados de forma a ter acesso a inside information) que gosta de se apresentar ao mundo como Mr. Clits e que tem um site a puxar para o esfíncter mas que quer ser, e passo a citar, “o novo pipi”. Como colocar a questão…há uns livros de anatomia… Mas se calhar nem é preciso ir a coisas tão rebuscadas…

Enfim, vale ou não vale a pena escrever um texto ignóbil sobre narizes…?

sexta-feira, janeiro 14, 2005

O cão lá da rua ladra ao vento
Ladra com a voz funda e rouca
Porque o vento não pára de soprar

A voz do vento não é rouca
Nem poupa
Quem não devia fustigar

terça-feira, janeiro 11, 2005

Gostava de escalar montanhas - Mas não umas quaisquer. Gostava era de escalar aquelas mesmo muito altas. Se possível, umas do restrito clube dos oito mil metros.

Fascina-me a solidão, fascinam-me as condições extremas, as dificuldades. Também me fascina o espectro da morte sempre presente, sempre ao virar da esquina. Fascina-me aquela vontade cega de atingir o máximo possível que todo o alpinista tem. Embora diga sempre que não é pelo cume.

Não tenho uma certeza absoluta donde surgiu este gosto. Mas tenho uma boa ideia. Um amigo meu uma vez levou-me a escalar. Foi giro mas desolador perceber que sou uma desgraça. No entanto, alguma coisa ficou cá. Explicou-me muitas das coisas que acontecem na alta montanha, os procedimentos, os métodos. Na altura, discutimos o Evereste do Garcia.

Nunca mais voltei a escalar. Tornei-me um montanhista frustrado. Colecciono fotos dos que lá foram e imagino-me de máquina na mão protegida pela luva.

Como o Barry Bishop, nesta foto do Makalu

domingo, janeiro 09, 2005

Em como - o nariz foi inventado apenas para iniciar uma tremenda e insustentável comichão nos momentos mais incómodos e inapropriados como, por exemplo, quando se tem as mãos sujas de qualquer coisa.

terça-feira, janeiro 04, 2005

A pasta – onde guardo os textos prontos a seguir continua vazia. Pior. A vontade de a encher continua pelas ruas da amargura. Falta de paciência? Outra coisa qualquer? Sei lá. Posso sempre pedir humildes desculpas. E Rogar por compreensão.

sábado, janeiro 01, 2005

Não primam - propriamente pela qualidade e pela definição da imagem. As máquinas digitais fazem um trabalho muito melhor. Contudo, os telemóveis têm aquela vertente de conveniência, uma conveniência acima de qualquer suspeita.

Bairro Alto, Rua do Diário de Notícias. Ao lado da Tasca do Chico, vive um homem de idade. Algumas noites, põe a cabeça de fora da porta (que permite abrir só a parte de cima) e vigia os copos que os transeuntes põem no parapeito da sua janela. Quando um frequentador da vida nocturna deposita o recipiente com o líquido precioso por uns momentos, ou deposita um recipiente já vazio, o velhote puxa de um objecto que parece o ponteiro dum professor e derruba tudo ao chão. Às vezes molhando um ou outro incauto.

A janela vê-se bem, a criatura nem por isso. Zangou-se connosco quando percebeu que queríamos imortalizá-lo numa fotografia. E então fez-nos um passarinho com a mão. Pensando bem, até é melhor que não se veja muito nitidamente.