sexta-feira, agosto 15, 2003


E-128 - Tudo começou na Caixa de Cascais. O jovem herói deste relato que agora inicio, necessitava de um impresso E-128, por forma a ter cobertura médica no estrangeiro, uma vez que ia para a Dinamarca ao abrigo do programa Erasmus. Tirou a sua senha de vez por volta das 9h30. Expedito, conhecedor da vida e dos meandros pelos quais esta se rege, imediatamente se deu conta que não faria sentido ali ficar, esperando que o atendessem. Voltou a casa, deu umas voltas, para só voltar pelas 12h30, precisamente um quarto de hora antes de ser chamado. Explicou a situação e foi informado que ali não lhe poderiam resolver o problema. Não havia ali o impresso. A funcionária explicou-lhe que só no Areeiro.

De maneira que no dia seguinte, depois de ter identificado o local através da fila de pessoas que havia à porta, tirou a senha às 8h40. O número era o 86. indicaram-lhe a sala B. Havia cerca de 20 mesas, nem todas estavam a ser utilizadas, e estava o nº10 a ser atendido. Às 10h00, foi o momento de sorte do portador da senha com o número 43. Uma vez mais, provando que é uma pessoa que sabe viver, adaptar-se às circunstâncias, fez algumas contas de cabeça, umas regras de três simples, e chegou à conclusão que, com a curta evidência estatística que a sua presença naquele local lhe proporcionava até ao momento, só seria atendido lá para as 11h30. Foi tomar o pequeno-almoço. Voltou. Para constatar que durante quinze minutos, o número 51 não arredava pé. O desespero começava a instalar-se. Felizmente havia ar condicionado.

O Eldorado, finalmente. Viram as papeladas que ele trazia, e constataram que não havia formulários. Aqueles que em Cascais tinham confirmado que havia. Foi mandado para as relações internacionais. Porta B no sétimo andar. Uma vez lá chegado, foi reencaminhado para o oitavo. No oitavo, foi novamente reencaminhado para o sétimo. Onde lhe indicaram a sala de espera. Resolveu enviar-me um SMS a dizer que estava a ser tratado como uma bola de ping-pong. Foi chamado, verificaram a papelada uma vez mais. No meio disto tudo, depois de explicar a sua odisseia à funcionária, ela refere qualquer coisa acerca de tratar as pessoas como bolas de ping-pong. Imediatamente antes de o deixar sozinho em frente ao computador, onde se lia num papel colado no monitor e virado para ele, o username e a password 12345678, que facilmente memorizou.

Precisamente 3 horas, 57 minutos e 48 segundos após ter chegado, foi-lhe entregue um impresso E-128 nas mãos, uma folhinha formato A-4, onde consta o nome do beneficiário, o número, o país de destino, a data de cobertura e a rubrica do funcionário. A esmagadora maioria dos intervenientes neste relato são senhoras com idade superior a 50 anos, que teclam com um único dedo.

Bem lhe pedi desculpa, mas não conseguia evitar rir-me.