Inspiração - Felizmente, ainda não cheguei ao ponto de sentir verdadeiramente na pele, na sua força máxima, que calculo seja asfixiante, o bloqueio do criador. Das poucas vezes que me aconteceu, foram sempre situações bastante passageiras e que se resolveram com relativa facilidade. Nunca nada de terrivelmente assustador.
Fiquei a pensar nisso. Porque, em tempos idos, lá dizia o Johann Sebastian Bach (espero não me ter enganado a escrever o nome da criatura), João Sebastião Ribeiro para os amigos, que a inspiração apenas contribuia com uns meros 10% para aquilo que compunha. Os restantes 90%, dizia ele, vinham da transpiração. E o tipo compôs que foi um disparate. Há quem jure a pés juntos que o tipo até o fazia na casa-de-banho. Há quem se interrogue onde ele foi arranjar tempo para também ter uma série de filhos. Portanto, não se trata propriamente dum leigo a mandar umas postas de pescada.
É muito pouco romântico concordar com esta visão. É bem mais simpático pensar que compôr, escrever, seja o que for, é muito mais o resultado duma qualquer influência explosiva, de origem desconhecida, que invade o criador e lhe dá a força necessária para levar a cabo a tarefa.
Resultado: estou dividido. Reconheço, ou melhor, tenho de reconhecer que há trabalho, organização, esquematização, treino, alguma disciplina envolvida com obter resultados satisfatórios na escrita. Porém, a vontade de acreditar na inspiração é tão grande que não a posso excluir.
Agora, não me peçam é para avançar percentagens como o outro.
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