segunda-feira, outubro 13, 2003

Traumas linguísticos – Também sinto isso na pele. Aliás, passo a vida a gozar com as situações engraçadas que pode gerar. E, depois, claro está, ou não fosse eu um pseudo-filósofo de trazer por casa, desato a pensar na questão.

Porque será que uma qualquer canção com letra em inglês soará, pelo menos em 95% dos casos, altamente pindérica e de mau gosto se for traduzida à letra para a língua de Camões? Estranho. Mas acontece.. A tal ponto que até percebo a relutância de muito artistas da nossa praça em optarem por escrever letras de músicas em português e usarem, ao invés, a língua de Shakespeare.

Porque é que expressões como “amo-te” soam demasiado fortes, difíceis de dizer, distantes, quando nas outras línguas são constantemente vomitadas, nas mais variadas situações (às vezes, somos mesmo nós a fazê-lo)? Quererá tal querer dizer que, o significado, em português, mantém-se no seu estado puro, não adulterado, enquanto que nas demais línguas está a ficar gasto, banalizado?

Será um extremo requinte latente na orelha nacional? Se sim, porque parece só ser activado na com a nossa língua? Ou será, antes, um complexo de inferioridade? Uma negação da identidade cultural?

Entretanto, podem sempre continuar a não traduzir músicas à letra e a dizer “gosto de ti, porra!!”.