terça-feira, outubro 28, 2003

Viajar - De Maastricht a Kandersteg, no coração dos Alpes suíços. E, estranhamente, só me ocorria uma outra viagem, completamente diferente na sua natureza e nos pontos de partida e destino. De Londres a Hong Kong. A primeira feita à custa de centenas de quilómetros de carris, a segunda de milhares de quilómetros a uma altitude de dez mil metros.

Porquê? Sensivelmente onze horas e meia de duração. De resto, mais nada em comum: em Kandersteg nevava, em Hong Kong nunca vesti mais que uma T-shirt; em Kanderteg pernoitei num centro de escoteiros, o hotel de Hong Kong tinha cinco estrelas; Kandersteg é de uma calma absurda, o porto de Hong Kong dá novos contornos ao adjectivo caótico.

Foi então que me lembrei de explicar assim o que viajar significa de prazer para mim. Não gostaria de viver naquela parte dos Alpes. A pasmaceira calcinar-me-ia os nervos em três tempos. E a confusão da Região Administrativa Chinesa naquele misto de humidade lancinante e raios solares não me faria melhor.

Contudo, ver quanto os olhos podem ver, cheirar quanto a penca pode cheirar, absorver o que é possível de cada sítio é levar connosco algo que fica para sempre, imutável e inexorável, no imaginário. E os contrastes que se nos apresentam pela frente abrem-nos novos caminhos e perspectivas, visões e ambientes.

E essa é a nossa verdadeira bagagem, não aqueles objectos onde enfiamos calças e coisas desse género.