quarta-feira, dezembro 10, 2003

Atraso - O rosto transmitia algum cansaço. Mas daquele tipo que parece desvanecer assim que um curto sorriso é esboçado. Foi assim que o cumprimentou. Vinha atrasado e pediu-lhe desculpa novamente. A primeira vez foi quando lhe ligou, cinco dez minutos antes de chegar e exactamente à hora combinada, possivelmente com medo que se tivesse esquecido. Vinha a passo acelerado rua abaixo e quase nem se apercebeu que o telefone tocava insistentemente porque levava o Minidisc consigo.

Porque chegou ele atrasado? Terá pretendido transmitir uma ideia de pouca importância, de indiferença? O que é certo é que sentiu desde logo um certo peso e agravo no ambiente. Um pouco silencioso demais. Talvez fosse a justificação para a falta de concentração que reparou em seguida.

Das duas uma, quando sentimos algum incómodo do lado de lá: ou ficamos igualmente pouco à-vontade; ou sentimo-nos numa posição sobranceira e lentamente vamos adquirindo uma confiança que se alimenta no desconforto alheio. Quando se apercebeu que estava a cair na segunda hipótese, batalhou para a contrariar.

Aparentemente, já não foi a tempo.