domingo, janeiro 25, 2004

Aborto – Já andava a planear abordar a temática do aborto há algum tempo. Porém, adiei sempre para quando sentisse aquele momento, o adequado. Até que, passando os olhos pela revista do Expresso desta semana, na tão habitual última página, um verdadeiro must, para usar um pouco de linguagem de moda, li um texto que, no mínimo, me prendeu a atenção. Recomendando vivamente a leitura, junto alguns longos excertos com a função de teaser:

«os que querem interrogar e prender e condenar a uma pena as mulheres que abortam (…) acham que os defensores da despenalização são uma gente que «despreza a vida humana». E que mata seres humanos, embrionários, por gosto e egoísmo, para defender o corpo da mulher, esse recipiente público de vidas humanas, aberto a todas as gestações, sempre pronto a conceber, parir e acarinhar, mesmo contra a vontade ou desejo ou poder, porque foi desenhado por Deus Nosso Senhor como tal. Uma barriga, um útero, são instrumentos de concepção unilateral e involuntária e não parte integrante do corpo da mulher, tal como o cérebro ou o coração. Eu posso dispor do meu cérebro e do meu coração, dos meus pulmões e do meu fígado, da minha pele e dos meus rins, da minha medula, posso dá-los e vendê-los, não posso dispor do meu útero. Porque o útero está empenhado aos trabalhos da concepção e existe apenas como órgão procriador e não como parte do meu corpo sobre a qual deveria ter alguns direitos vitais.»

«…e eu pressuponho que as mulheres defensoras da vida humana nunca deveriam, por uma questão de coerência, ter feito contracepção, acto contra natura, porque fazer contracepção também implica liquidar a hipótese de muitas, muitíssimas vidas humanas.»

«Como também não devia ser um método de contracepção mas, implicando o acto de abortar uma violação do corpo e da intimidade da mulher, uma ferida aberta, é de concluir que como método de concepção é pouco prático e assaz masoquista.»

«Nenhuma mulher aborta por gosto, e a maioria aborta por desgosto. Se a vida humana começa dentro dela no instante da concepção ou semanas depois, nunca o saberemos. A vida humana, como a morte, começa e acaba quando a determinamos. Quando o nosso corpo e a nossa inteligência e a nossa moral a determinaram. A ciência e a religião deviam ajudar e não ser utilizadas como ditadura de uns tantos, os que acham que as mulheres são assassinas, sobre todos os outros. Eu não devo mandar no útero das mulheres que querem ter dez filhos. E elas não devem mandar no meu.»

Obrigado por escreveres como escreves, Clara.