terça-feira, janeiro 27, 2004

Desaparecer – De vez em quando somos alertados para a efemeridade, para a fugacidade de que a nossa existência e a alheia se podem revestir. Mais do que o Féher que caiu inanimado no estádio do Guimarães, lembrei-me dum rapaz lá do liceu. Não tinha mais de dezoito anos quando um aneurisma o apanhou desprevenido. Da mesma forma que, qualquer morte numa tal idade, nos apanha desprevenidos.

Porque não é tanto a morte em si que afecta, que atinge, que faz confusão, que mexe connosco. É o timing tão profundamente errado quando comparado com a noção da ordem das coisas que temos. As pessoas deveriam morrer velhas, depois duma vida plena e recheada de acontecimentos e histórias, não no auge das suas capacidades, na flor da idade. É a conclusão normal, o desfecho decorrente de quem já passou pôr, descobriu, viu, sentiu, existiu. Não querendo dizer que suavize o impacto do desaparecimento, dá-lhe, ao menos, uma lógica intrínseca, com a qual nos habituamos a viver desde sempre.

Caso contrário, parece que assistimos ao ceifar indiscriminado duma vida.