segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Boicote – Não tenho nada contra as elevações a vila ou seja lá o que for. Mas tenho contra certas formas de protesto. Estes deviam ser, por natureza, actos que incomodassem, prejudicassem temporariamente os demais para que surtissem efeito. Uma greve não faz sentido se não der umas quantas dores de cabeça a alguns, é simples.

Por esta razão, as novas ameaças de boicotes a eleições parecem-me sempre ridículas, tão ridículas como dar um tiro no próprio pé. Porque se trata de alguém abdicar dum direito de que desfruta para obter algo doutrem.

A não ser... de repente ocorreu-me outra versão, que me entristeceu. Foi quando percebi que, provavelmente, para todos aqueles que fazem aquele escarcéu a dizer que não votam, o acto de fazer uma cruzinha num papelucho e o depositar na urna não seja um direito, mas sim um dever. E, nesta perspectiva, fará todo o sentido o boicote como forma de protesto.

Ou seja, enquanto o acto eleitoral não for entendido como um direito, conquistado não há muito tempo pela luta e bravura duma outra geração, nunca será tratado com o devido respeito e a displicência com que muitos a ele se referem não desaparecerá.

Dever devia ser não se imiscuírem, criticando como tanto gostam, se não assumem papel activo.