Profissões de alto risco – Ainda me lembro do primeiro contacto que tive com a substância. Era ainda acólito e, apanhando o padre distraído, quis experimentar, já que o velho homem nunca dava uma gotinha que fosse a provar aos outros, guardava aquilo tudo só para ele. Para ser sincero, não gostei muito de início. Era amargo, ardeu-me pelas entranhas abaixo e deixou-me o estômago em revolução durante um bom par de horas.
Porém, quando a ordem natural das coisas levou a que passasse a ser eu aquele que não dava nada a provar, mentalizei-me que teria de conseguir beber os cálices sem esboçar as caretas condizentes com aquele sabor. Com o passar do tempo, aquela bebida passou de intragável a néctar os deuses e era com um gosto crescente que esperava pelo momento do ritual em que levava ao cálice aos lábios e bebia o seu interior.
Era um padre na flor da idade, numa paróquia populosa e jovem, casamenteira e a querer constituir família. De tal forma, que os casamentos e baptizados se sucediam a bom ritmo, e eu habituei-me a emborcar aos cinco e seis cálices por cada dia de fim-de-semana, forçosamente os mais movimentados. O problema é que sentia falta desse movimento todo durante os dias úteis. Por isso decidi aumentar a cadência das missas celebradas e, rapidamente, os mesmos cinco ou seis cálices passaram a ser comuns durante qualquer dia da semana.
E foi assim que o vício começou. Limitado pela impossibilidade de expansão das comemorações, nada mais me restava que aumentar o tamanho dos cálices. Criei uma petição e convenci o rebanho a aprovar a compra dum com o dobro do tamanho do original. Nesta altura, já bebia que nem gente grande, e lembrava-me dos tempos de acólito com uma grande vontade de rir.
No entanto, os boatos e as histórias que começaram a correr acerca da minha pessoa, que tanto contribuíram para a minha fama, só começaram verdadeiramente a despoletar exponencialmente quando, pela primeira vez, celebrei um baptizado com um garrafão de cinco litros ao lado da pia baptismal. Lembro-me como se fosse hoje: era um bom Borba, daqueles que aquecem bem as orelhas.
No dia em que apareci a cambalear com um jerrycan de vinte e cinco litros, foi a gota final. Bem tentei explicar à congregação que a minha dificuldade em caminhar era devido ao peso do dito cujo, mas eles não me quiseram ouvir. Chegaram mesmo a chamar a GNR, esses brutos que acabaram por me despejar o recipiente todo, acompanhando-o com umas alheiras. A mim, chegava-me o cheiro do petisco ao calabouço, local onde estive até os tipos dos AA se dignarem a me vir buscar.
As opções de carreira de cada um não se criticam, são como são.
Porém, quando a ordem natural das coisas levou a que passasse a ser eu aquele que não dava nada a provar, mentalizei-me que teria de conseguir beber os cálices sem esboçar as caretas condizentes com aquele sabor. Com o passar do tempo, aquela bebida passou de intragável a néctar os deuses e era com um gosto crescente que esperava pelo momento do ritual em que levava ao cálice aos lábios e bebia o seu interior.
Era um padre na flor da idade, numa paróquia populosa e jovem, casamenteira e a querer constituir família. De tal forma, que os casamentos e baptizados se sucediam a bom ritmo, e eu habituei-me a emborcar aos cinco e seis cálices por cada dia de fim-de-semana, forçosamente os mais movimentados. O problema é que sentia falta desse movimento todo durante os dias úteis. Por isso decidi aumentar a cadência das missas celebradas e, rapidamente, os mesmos cinco ou seis cálices passaram a ser comuns durante qualquer dia da semana.
E foi assim que o vício começou. Limitado pela impossibilidade de expansão das comemorações, nada mais me restava que aumentar o tamanho dos cálices. Criei uma petição e convenci o rebanho a aprovar a compra dum com o dobro do tamanho do original. Nesta altura, já bebia que nem gente grande, e lembrava-me dos tempos de acólito com uma grande vontade de rir.
No entanto, os boatos e as histórias que começaram a correr acerca da minha pessoa, que tanto contribuíram para a minha fama, só começaram verdadeiramente a despoletar exponencialmente quando, pela primeira vez, celebrei um baptizado com um garrafão de cinco litros ao lado da pia baptismal. Lembro-me como se fosse hoje: era um bom Borba, daqueles que aquecem bem as orelhas.
No dia em que apareci a cambalear com um jerrycan de vinte e cinco litros, foi a gota final. Bem tentei explicar à congregação que a minha dificuldade em caminhar era devido ao peso do dito cujo, mas eles não me quiseram ouvir. Chegaram mesmo a chamar a GNR, esses brutos que acabaram por me despejar o recipiente todo, acompanhando-o com umas alheiras. A mim, chegava-me o cheiro do petisco ao calabouço, local onde estive até os tipos dos AA se dignarem a me vir buscar.
As opções de carreira de cada um não se criticam, são como são.
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