quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Sortudos – São uma espécie, uma raça, uma casta diferente do comum dos mortais. São aquele tipo de pessoa a quem tudo corre bem, com quem as pessoas engraçam e têm prazer em fazer favores, em facilitar a vida da forma que puderem. Para estes indivíduos, as barreiras da vida são, indubitavelmente, de altura reduzida e, por isso, transpõem os obstáculos que a existência lhes vai criando com uma graciosidade, uma simplicidade irritante.

Ele é não pagar excesso de peso no aeroporto quando os demais o tiveram de fazer; ele é obter um selo à borla para ter acesso ao parque de estacionamento quando a tão almejada insígnia tem um preço; ele é conseguir que a regente suba algumas míseras décimas, mas suficientes para se dar conta, à nota do exame quando os restantes colegas saem do mesmo gabinete com um semblante carregado; ele é ter sucesso, facturar no campo das investidas amorosas.

Na boa gíria lusófona, pelo menos na europeia, as outras não domino em tal grau, chama-se, a estes indivíduos, pessoas que nasceram com o cu para a lua. Não querendo averiguar que mais farão com o respectivo traseiro seria, no entanto, interessante apurar o que jaz na origem de tão fantástica característica, uma autêntica benesse, uma dádiva. Será o olhar maroto, a expressão juvenil, colegial? Ou aquela pelezinha suave do rosto? Quiçá a simpatia das palavras e dos gestos, a naturalidade dos actos. Quem sabe. Mas algo tem de estar por detrás de todo este magnetismo.

No fundo, lá mesmo bem no fundo, uma coisa é certa. Ó Granito, podes ter a certeza que isto é a minha profunda inveja a falar.