terça-feira, março 23, 2004

Ambição – Se é verdade que os dicionários associam o vocábulo “ambição” com um “desejo veemente de riquezas, glórias” e coisas do género, também não é menos verdade que nós somos uns animais a quem, feliz ou infelizmente, cada um julgará como quiser, nos foi dada a capacidade de analisar, ver para lá do significado tradicional das palavras. Ou, se calhar, não.

Porque gasto o meu latim a falar disto hoje? É simples. Porque me faz confusão, mete medo e, confesso, alguma pena, quando vejo que há muito boa gente que nunca deixou de o interpretar tal qual a definição que avancei em cima. São, regra geral, criaturas extremamente desinteressantes, a sua vida gira em torno de muito pouca coisa. Falam de bons empregos, dinheiro e carreira e ficam por aí.

O que, por si, mesmo não tem mal nenhum. Não é nenhum crime querer ser bem sucedido profissionalmente. E essa é, efectivamente, uma das vertentes que compõem este substantivo abstracto. Mas, por outro lado, não pode ofuscar as demais. Caso contrário, estaremos apenas a querer corresponder à tão nossa necessidade de satisfazer as exigências de aparentar sempre algo de muito bom, de querer exibir, mostrar.

Pergunta: e o que são as demais? Tanta coisa…Posso avançar algumas minhas, se quiserem. Primeiro, algumas simples. Por exemplo, viajar o máximo possível. Ou, conhecer outras perspectivas deste nosso mundo. Nunca permitir que a imaginação esgote e esta página fique sem temas ou que música deixe de se fazer ouvir à minha volta. Agora, algumas complicadas. Se a situação surgir, dar o máximo enquanto pai e não somente sufocá-lo no materialismo a que o meu bruto ordenado se pode dar ao luxo. Querer ser bem sucedido nas relações de amizade e amor, corresponder.

Sobretudo, expelir essa convicção de que só somos gente se tivermos um emprego muito bom e ganharmos um rio de dinheiro. Não nos afirmamos exclusivamente assim. O principal mote, a cenoura que, à distância, me induz a caminhar em frente não pode ser só isso. Porquê? Fácil:

Senão a vida não teria graça nenhuma.