O texto que se segue é da exclusiva responsabilidade dos seus intervenientes. Aborda a temática da religião numa perspectiva que poderá, eventualmente, ferir certas e determinadas susceptibilidades. Aconselho àqueles que poderão sentir-se incomodados com a sua leitura, que fechem de imediato esta página e não lhe ponham os olhos em cima. Se optarem por prosseguir, não me chateiem depois a cornadura. Eu sei que este tema é polémico, mas o país é livre assim como a opinião dos que nele vivem. Respeitem a minha, como eu respeito a vossa. Boa noite.
Remendos – Para um não crente, uma das coisas que gera confusão é aceitar a existência duma entidade superior associada ao mundo em que vivemos. Perguntei uma vez a alguém que teve a bondade para me explicar que, segundo corre, Deus deu a hipótese de escolha ao Homem e, por isso, não interfere nestas matérias de mundos injustos. Deu-lhe o livre arbítrio, a hipótese de escolher e, portanto, a responsabilidade de avançar por caminhos menos ortodoxos cabe-lhe exclusivamente. Deixa as coisas correrem, a crueldade, a injustiça, e tudo o mais que de mal por este mundo fora grassa, perpetuar-se com a naturalidade de quem semeia uma semente e espera ver o resultado.
Tudo bem, é uma posição, cada qual é como é. Eu pessoalmente, se tivesse o poder para alterar tudo o que de mal se passa neste mundo, acabar com as injustiças, com a miséria, as guerras, a fome, não hesitaria dois segundos sequer. Do meu ponto de vista, é o mínimo de moral, humanidade, compaixão, chamem-lhe o que quiserem, que assiste a um qualquer ser humano que se considere verdadeiramente gente. Enquanto Ele, que tem efectivamente o poder para mudar as coisas, não é apenas mais um peão deste tabuleiro de xadrez, opta por não o exercer.
Mas, ao mesmo tempo, dizem que Ele sabe tudo. Não se engana, escreve direito por linhas tortas, essas coisas todas. É incrivelmente bondoso e só quer que as coisas nos corram bem ao longo da nossa existência. E é aqui que a porca torce o rabo. Ora, se assim é, então, à partida, devia ter percebido perfeitamente, com uma lucidez que torna o mais opaco dos acontecimentos cristalino, que criar-nos, nestes moldes, à sua semelhança, iria descambar, iria dar uma grande bronca. Esta é a visão de Deus como uma entidade sádica que, através da sua omnisciência e mais todas as outras características começadas pelo mesmo prefixo, estava ciente do monstro que tinha acabado de criar e, mesmo assim, deixou-o avançar. Pior: passados todos estes anos, continua a não intervir.
A outra forma de resolver este problema é desculpar o sadismo com o recurso à negligência. Ou seja, partir do princípio que Ele se enganou. Acontece, pronto, é uma chatice, não podemos acertar sempre. Contudo, esta versão não tem graça nenhuma; deita por terra a omnisciência e as demais características que costumam vir-lhe, em catadupa, associadas. É afirmar a Sua incompetência, uma constatação que choca frontalmente com as hipóteses inicialmente avançadas. È uma espécie de redução ao absurdo.
Vou partilhar convosco um segredo meu. Costumo associar, ou melhor, visualizar religião como a parede duma barragem que, de velha, gasta, não interessa o motivo, está a desmoronar aos poucos, encontra-se periclitante, e a água só ainda não começou a escorrer pelas rachas que se abriram no betão porque há uma série de remendos colocados estrategicamente, que a vão sustendo temporariamente, por pessoas que têm tanto de coragem e de devoção, como de fé e de vontade de acreditar.
Qual será o segredo desse material isolante que impede o iminente desmoronamento?
Remendos – Para um não crente, uma das coisas que gera confusão é aceitar a existência duma entidade superior associada ao mundo em que vivemos. Perguntei uma vez a alguém que teve a bondade para me explicar que, segundo corre, Deus deu a hipótese de escolha ao Homem e, por isso, não interfere nestas matérias de mundos injustos. Deu-lhe o livre arbítrio, a hipótese de escolher e, portanto, a responsabilidade de avançar por caminhos menos ortodoxos cabe-lhe exclusivamente. Deixa as coisas correrem, a crueldade, a injustiça, e tudo o mais que de mal por este mundo fora grassa, perpetuar-se com a naturalidade de quem semeia uma semente e espera ver o resultado.
Tudo bem, é uma posição, cada qual é como é. Eu pessoalmente, se tivesse o poder para alterar tudo o que de mal se passa neste mundo, acabar com as injustiças, com a miséria, as guerras, a fome, não hesitaria dois segundos sequer. Do meu ponto de vista, é o mínimo de moral, humanidade, compaixão, chamem-lhe o que quiserem, que assiste a um qualquer ser humano que se considere verdadeiramente gente. Enquanto Ele, que tem efectivamente o poder para mudar as coisas, não é apenas mais um peão deste tabuleiro de xadrez, opta por não o exercer.
Mas, ao mesmo tempo, dizem que Ele sabe tudo. Não se engana, escreve direito por linhas tortas, essas coisas todas. É incrivelmente bondoso e só quer que as coisas nos corram bem ao longo da nossa existência. E é aqui que a porca torce o rabo. Ora, se assim é, então, à partida, devia ter percebido perfeitamente, com uma lucidez que torna o mais opaco dos acontecimentos cristalino, que criar-nos, nestes moldes, à sua semelhança, iria descambar, iria dar uma grande bronca. Esta é a visão de Deus como uma entidade sádica que, através da sua omnisciência e mais todas as outras características começadas pelo mesmo prefixo, estava ciente do monstro que tinha acabado de criar e, mesmo assim, deixou-o avançar. Pior: passados todos estes anos, continua a não intervir.
A outra forma de resolver este problema é desculpar o sadismo com o recurso à negligência. Ou seja, partir do princípio que Ele se enganou. Acontece, pronto, é uma chatice, não podemos acertar sempre. Contudo, esta versão não tem graça nenhuma; deita por terra a omnisciência e as demais características que costumam vir-lhe, em catadupa, associadas. É afirmar a Sua incompetência, uma constatação que choca frontalmente com as hipóteses inicialmente avançadas. È uma espécie de redução ao absurdo.
Vou partilhar convosco um segredo meu. Costumo associar, ou melhor, visualizar religião como a parede duma barragem que, de velha, gasta, não interessa o motivo, está a desmoronar aos poucos, encontra-se periclitante, e a água só ainda não começou a escorrer pelas rachas que se abriram no betão porque há uma série de remendos colocados estrategicamente, que a vão sustendo temporariamente, por pessoas que têm tanto de coragem e de devoção, como de fé e de vontade de acreditar.
Qual será o segredo desse material isolante que impede o iminente desmoronamento?
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