Aparentar – Há dias, quando cá esteve o enviado da saudosa Holanda a visitar-nos, sentei-me um dia com ele na Telepizza da Guia em Cascais e, enquanto esperávamos pelo jantar, aproveitar para lhe fazer perguntas. É sempre interessante questionar estrangeiros acerca da ideia com que ficam de nós e dos nossos lugares.
Uma das coisas que referiu foi o facto de ter visto muita gente engravatada na Baixa. É normal. Na terra das tulipas, não se vê assim tanta gente de forca ao pescoço. De tal forma que, dos poucos que usam, muitos têm um péssimo gosto que dá a entender que não percebem mesmo nada do assunto.
Fez-me perceber que se nota bastante o quanto nós olhamos para as aparências, para a roupa, para a vida privada. Gosto especialmente daquela noção de que devemos mudar de roupa de tanto em tanto tempo, não vá alguém pensar “que não tenho mais nada para vestir”. Assim como quem anda com quem e quem mete quem na cama.
É mesquinho, é de baixo nível. Um resquício dos não tão afastados tempos de pobreza do país E é uma característica típica dum provincianismo terrível. O mesmo que apregoa um puritanismo que não existe em países do norte e centro da Europa, onde as pessoas estão mais à vontade e se preocupam menos com o que os demais pensam acerca deles próprios.
Estas regras de convivência são, possivelmente, as mesmas que nos conferem o estatuto de hospitaleiros. Outro exemplo. A verdade é que, acaso determinada dona de casa não cumpra o infinito rol de items a verificar aquando duma visita, não se livra de classificações e críticas assim que for apanhada de costas. Isto é válido, sobretudo, de mulher para mulher.
O grau de exigência perpetua-se e aquela dona de casa que abriu as portas do seu lar naquele dia, é a mesma que no dia seguinte vai a casa de outra e, mesmo não tendo gostado do que lhe fizeram, é exactamente isso que faz em troca. Um pouco como a lógica da praxe académica.
Por um lado, há determinados aspectos que, na minha opinião, foram alvo de avanços. Numa recente sondagem da Visão/SIC, tanto o número de pessoas que dizem aceitar as uniões de facto, mesmo que incluam filhos, bem como as que efectivamente vivem assim, aumentou bastante. As mentalidades abriram, evoluíram; o casamento deixou de deter o monopólio da forma de vida em casal por excelência.
Mas, por outro lado, numa sociedade crescentemente individualista, egoísta, hedónica, o aspecto continua a mandar. Pode não ser o do “aprumo” das gerações anteriores, mas a aparência dos “dreds” demarca-se e indica-nos na perfeição quem são. Assim como aqueles que não têm onde cair mortos e que se matam a estoirar dinheiro num carro todo janota (ou não, depende dos gostos). O mesmo com roupa de marca.
Há seis ou sete anos atrás, quando li pela primeira vez um dos livros da minha vida, “Os Maias” do grande Eça, achei deliciosa a personagem do Dâmaso Salcede. O tipo gordinho, “roliço” que passava a vida a dizer “très chique!”. Era um pelintra, um cobarde, junta-se aos que lhe convinham. Não tinha nem de perto a disponibilidade financeira de Carlos (aliás, cravava dinheiro à “mãezinha”) mas gostava de se fazer ser visto com ele para que fosse confundido na riqueza. Entre outras coisas.
Será que estamos mortalmente condenados a nunca deixar de ser caracterizados pelos livros com século e meio do Mestre?
Uma das coisas que referiu foi o facto de ter visto muita gente engravatada na Baixa. É normal. Na terra das tulipas, não se vê assim tanta gente de forca ao pescoço. De tal forma que, dos poucos que usam, muitos têm um péssimo gosto que dá a entender que não percebem mesmo nada do assunto.
Fez-me perceber que se nota bastante o quanto nós olhamos para as aparências, para a roupa, para a vida privada. Gosto especialmente daquela noção de que devemos mudar de roupa de tanto em tanto tempo, não vá alguém pensar “que não tenho mais nada para vestir”. Assim como quem anda com quem e quem mete quem na cama.
É mesquinho, é de baixo nível. Um resquício dos não tão afastados tempos de pobreza do país E é uma característica típica dum provincianismo terrível. O mesmo que apregoa um puritanismo que não existe em países do norte e centro da Europa, onde as pessoas estão mais à vontade e se preocupam menos com o que os demais pensam acerca deles próprios.
Estas regras de convivência são, possivelmente, as mesmas que nos conferem o estatuto de hospitaleiros. Outro exemplo. A verdade é que, acaso determinada dona de casa não cumpra o infinito rol de items a verificar aquando duma visita, não se livra de classificações e críticas assim que for apanhada de costas. Isto é válido, sobretudo, de mulher para mulher.
O grau de exigência perpetua-se e aquela dona de casa que abriu as portas do seu lar naquele dia, é a mesma que no dia seguinte vai a casa de outra e, mesmo não tendo gostado do que lhe fizeram, é exactamente isso que faz em troca. Um pouco como a lógica da praxe académica.
Por um lado, há determinados aspectos que, na minha opinião, foram alvo de avanços. Numa recente sondagem da Visão/SIC, tanto o número de pessoas que dizem aceitar as uniões de facto, mesmo que incluam filhos, bem como as que efectivamente vivem assim, aumentou bastante. As mentalidades abriram, evoluíram; o casamento deixou de deter o monopólio da forma de vida em casal por excelência.
Mas, por outro lado, numa sociedade crescentemente individualista, egoísta, hedónica, o aspecto continua a mandar. Pode não ser o do “aprumo” das gerações anteriores, mas a aparência dos “dreds” demarca-se e indica-nos na perfeição quem são. Assim como aqueles que não têm onde cair mortos e que se matam a estoirar dinheiro num carro todo janota (ou não, depende dos gostos). O mesmo com roupa de marca.
Há seis ou sete anos atrás, quando li pela primeira vez um dos livros da minha vida, “Os Maias” do grande Eça, achei deliciosa a personagem do Dâmaso Salcede. O tipo gordinho, “roliço” que passava a vida a dizer “très chique!”. Era um pelintra, um cobarde, junta-se aos que lhe convinham. Não tinha nem de perto a disponibilidade financeira de Carlos (aliás, cravava dinheiro à “mãezinha”) mas gostava de se fazer ser visto com ele para que fosse confundido na riqueza. Entre outras coisas.
Será que estamos mortalmente condenados a nunca deixar de ser caracterizados pelos livros com século e meio do Mestre?
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