Forças – Mandou-me parar depois das 2h00 da manhã no posto de abastecimento mesmo ao lado da rotunda de São Domingos de Rana. As coisas do costume: documentos, carta, seguro. Dei-lhe tudo para a mão à medida que ia achando num carro que não era o meu.
Quando me pediu o bilhete de identidade pensei, por momentos, que algo estava errado. Eu estava preocupado com uma declaração que me conferia o direito a conduzir aquele veículo que está registado em nome comercial. Disse-lhe isso. E ele respondeu que não era preciso, que não me preocupasse.
- Onde estão os seus óculos?
- Tenho lentes postas, senhor guarda.
- E como é que eu sei?
Silêncio. Apercebi-me de qual a orientação geral do problema.
- Bom, posso tirá-las para o senhor ver que as tenho postas.
Penso que achou que estava a ser engraçado.
- Não é necessário.
Explicou-me que apenas tenho averbado na minha carta de condução o uso de óculos e que, portanto, só posso conduzir com eles. Para poder usar lentes deveria ter entregue na DGV um atestado médico para incluir essa informação na carta. Retorqui. Que não sabia, que, realmente, quando tirei a carta só usava óculos, passei a usar lentes depois.
Ele repetiu a história toda outra vez, o procedimento. Fiquei a olhar para ele.
- Eu compreendo
Silêncio. Devolveu-me o olhar. Recomeçou a falar. Entre as coisas que disse, lembro-me de referir que a multa é leve, “são só 60 euros”. Pensei que, por isso, não fosse levar aquilo por diante. Enganei-me.
Tive de estacionar o carro convenientemente enquanto ele se dirigiu com o colega para o carro patrulha onde começou a preencher o auto. Não sei se fiquei incrédulo ou estupefacto. Ao meu lado estava um tipo que conduzia sem carta. Foi a ele que fui equiparado.
Sim, eu que conduzia com uma correcção visual perfeitamente adaptada ao meu grau de deficiência, fui multado. Bem sei que a ignorância da lei não serve de justificação. Aceito e concordo com o princípio. Mas recuso-me a concordar terminantemente que da minha acção pudesse resultar algum perigo para outros condutores ou transeuntes. O meu comportamento desviante é meramente burocrático: não sabia que precisava de chatear um médico e entregar um papelucho na loja do cidadão.
Qual é o principal objectivo da fiscalização dos condutores? Na minha singela opinião, parece-me que será a redução dos bárbaros números de sinistralidade que nos tornam notícia pelas piores razões. As culpas são principalmente atribuídas ao excesso de velocidade, ao álcool e às manobras perigosas. A repressão social, para o qual trabalham estes agentes, existe para combater aquele flagelo.
O que verdadeiramente irrita é saber-se multado por uma coisa absurda e saber que proliferam as situações em que se violam limites de velocidade e se conduz de uma forma assaz criminosa nas nossas estradas. É senso comum, conhecimento geral, para tal basta sair à rua. Nesse sentido, este tipo de operações são apenas para inglês ver, não contribuem em nada para o aumento da segurança nas estradas.
Por isso, sou forçado a pensar que a multa que recebi é um abuso de autoridade. Em nada contribuiu para o objectivo proposto. A não ser que, em tempo de vacas magras, se usem os instrumentos da justiça para arrecadar receitas extraordinárias no âmbito do hercúleo esforço para equilibrar as contas nacionais. Ou ainda, a não ser que, num dos silêncios, o senhor agente esperasse umas luvas.
Estaria inclinado para receber um pouco melhor a reprimenda acaso estivéssemos num país onde os problemas mais graves que ainda temos fossem parte do passado. Aí sim, faria sentido prosseguir para atacar “ofensas” menores. E caminhar para a “perfeição”. Não obstante, continuaria a achar ridículo. Porque sou partidário duma característica, um traço de personalidade e educação cívica que me parece importante e que faltou ao agente que me autuou.
Chamam-lhe bom senso.
Quando me pediu o bilhete de identidade pensei, por momentos, que algo estava errado. Eu estava preocupado com uma declaração que me conferia o direito a conduzir aquele veículo que está registado em nome comercial. Disse-lhe isso. E ele respondeu que não era preciso, que não me preocupasse.
- Onde estão os seus óculos?
- Tenho lentes postas, senhor guarda.
- E como é que eu sei?
Silêncio. Apercebi-me de qual a orientação geral do problema.
- Bom, posso tirá-las para o senhor ver que as tenho postas.
Penso que achou que estava a ser engraçado.
- Não é necessário.
Explicou-me que apenas tenho averbado na minha carta de condução o uso de óculos e que, portanto, só posso conduzir com eles. Para poder usar lentes deveria ter entregue na DGV um atestado médico para incluir essa informação na carta. Retorqui. Que não sabia, que, realmente, quando tirei a carta só usava óculos, passei a usar lentes depois.
Ele repetiu a história toda outra vez, o procedimento. Fiquei a olhar para ele.
- Eu compreendo
Silêncio. Devolveu-me o olhar. Recomeçou a falar. Entre as coisas que disse, lembro-me de referir que a multa é leve, “são só 60 euros”. Pensei que, por isso, não fosse levar aquilo por diante. Enganei-me.
Tive de estacionar o carro convenientemente enquanto ele se dirigiu com o colega para o carro patrulha onde começou a preencher o auto. Não sei se fiquei incrédulo ou estupefacto. Ao meu lado estava um tipo que conduzia sem carta. Foi a ele que fui equiparado.
Sim, eu que conduzia com uma correcção visual perfeitamente adaptada ao meu grau de deficiência, fui multado. Bem sei que a ignorância da lei não serve de justificação. Aceito e concordo com o princípio. Mas recuso-me a concordar terminantemente que da minha acção pudesse resultar algum perigo para outros condutores ou transeuntes. O meu comportamento desviante é meramente burocrático: não sabia que precisava de chatear um médico e entregar um papelucho na loja do cidadão.
Qual é o principal objectivo da fiscalização dos condutores? Na minha singela opinião, parece-me que será a redução dos bárbaros números de sinistralidade que nos tornam notícia pelas piores razões. As culpas são principalmente atribuídas ao excesso de velocidade, ao álcool e às manobras perigosas. A repressão social, para o qual trabalham estes agentes, existe para combater aquele flagelo.
O que verdadeiramente irrita é saber-se multado por uma coisa absurda e saber que proliferam as situações em que se violam limites de velocidade e se conduz de uma forma assaz criminosa nas nossas estradas. É senso comum, conhecimento geral, para tal basta sair à rua. Nesse sentido, este tipo de operações são apenas para inglês ver, não contribuem em nada para o aumento da segurança nas estradas.
Por isso, sou forçado a pensar que a multa que recebi é um abuso de autoridade. Em nada contribuiu para o objectivo proposto. A não ser que, em tempo de vacas magras, se usem os instrumentos da justiça para arrecadar receitas extraordinárias no âmbito do hercúleo esforço para equilibrar as contas nacionais. Ou ainda, a não ser que, num dos silêncios, o senhor agente esperasse umas luvas.
Estaria inclinado para receber um pouco melhor a reprimenda acaso estivéssemos num país onde os problemas mais graves que ainda temos fossem parte do passado. Aí sim, faria sentido prosseguir para atacar “ofensas” menores. E caminhar para a “perfeição”. Não obstante, continuaria a achar ridículo. Porque sou partidário duma característica, um traço de personalidade e educação cívica que me parece importante e que faltou ao agente que me autuou.
Chamam-lhe bom senso.
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