domingo, junho 20, 2004

Inconsistência temporal – Nós, os nacionais deste pequeno rectângulo ladeado de Espanha e de Oceano Atlântico, somos educados com evocações do histórico tempo em que andámos à chapada com todos os que nos queriam roubar as terras e, acima de tudo, das viagens perigosas que tinham como objectivo roubar a terra dos outros.

Coragem, marinheiros destemidos, inteligência, audácia, são exemplos de palavras e expressões que vemos associadas a tais relatos. A abnegação, a vontade de conquistar e chegar mais além são características que levam a considerar os Descobrimentos como dos maiores feitos da História da Humanidade.

Vamos viajar alguns séculos e aterrar na realidade actual. Estudos apontam a população portuguesa como uma das mais avessas ao risco que existe. Num tipo de sociedade caracterizado pela economia de mercado que assenta na iniciativa privada, a fraca tolerância ao incerto é apontada como um sério entrave ao desenvolvimento do país.

Agora pergunto eu: para onde raio foi toda esta garra, esta sede de chegar e vencer? A mesma que se perpetuou nos inúmeros milhares que literalmente saltaram a fronteira no tempo da Outra Senhora, e não só, e se fizeram ao mundo desconhecido. Passaram por sérias dificuldades e privações mas acabaram por conseguir estabelecer-se no estrangeiro.

Este é um tema sensível que, muito certamente, vou voltar a abordar.