quinta-feira, junho 24, 2004

Pourquoi pas? - A intuição depressa se mostrou certeira. "J’aime avoir peur avec toi", era o título do livro que segurava com a mão esquerda amplamente esticada para manter as páginas abertas, enquanto esperava a sua vez. Incauto, não tinha trazido algo para ler, nunca pensei que demorasse tanto tempo. Não que seja a minha maneira de matar o tempo de eleição, mas naquele momento parecia perfeita.

A saia era curta, de um verde seco que puxava a cor dos olhos. As sandálias com uns atilhos que subiam pelas pernas brancas, imaculadas acima. O top também branco, justo, exibidor. Realçava aquilo a que os espanhóis denominam de buena pechonalidad.

Se a nacionalidade francesa (belga? Não me cheira…) me pareceu evidente de início, mesmo antes de ter tido acesso ao título do livro, a idade deixou-me mais duvidoso. Embora o rosto jovem, sem rugas, pele vistosa e rosada ameaçasse vintes e poucos, algo me parecia indicar que era uma daquelas que tardam em envelhecer. Seriam uns trinta legais mas duas décadas e pouco em termos físicos, nas minhas contas.

Por outro lado, os possíveis trinta anos davam-lhe um ar de experiência, de quem já passou por mais coisas na vida, tem mais bagagem e, que bem aplicada a expressão neste contexto, savoir faire. Tudo isto presente nos movimentos, lânguidos, lentos, na postura despreocupada e confiante.

De repente, levou mão à cabeça para pôr um fiapo de cabelo atrás da orelha. Foi só então que entendi que, também no seguimento da tradição francesa ou, pelo menos, na que se atribui às francesas, não tinha gosto especial em pôr cera depilatória nas axilas.

Acerca da fugacidade, efemeridade da atracção.