segunda-feira, junho 07, 2004

« Soyons justes: il arrivait que mes oublis fussent méritoires. Vous avez remarqué qu’il y a des gens dont la religion consiste a pardonner toutes les offenses et qui les pardonnent en effet, mais ne les oublient jamais. Je n’étais pas d’assez bonne étoffe pour pardonner aux offenses, mais je finissais toujours par les oublier. Et tel qui se croyait détesté de moi n’en revenait pas de se voir salué avec un grand sourire. Selon sa nature, il admirait alors ma grandeur d’âme ou méprisait ma pleutrerie sans penser que ma raison était plus simple : j’avais oublié jusqu’à son nom. La même infirmité qui me rendait indifférent ou ingrat me faisait alors magnanime. »

La chute, Albert Camus

Sejamos justos : acontecia que os meus esquecimentos fossem meritórios. Reparou que há pessoas para as quais a religião consiste em perdoar todas as ofensas e que efectivamente as perdoam, mas jamais as esquecem. Nunca tive um bom estofo para perdoar ofensas, mas acabava sempre por as esquecer. E aquele que se cria detestado por mim não imaginava vir a ser cumprimentado com um grande sorriso. Dependendo da sua natureza, admiraria então a minha grandeza de alma ou desprezaria a minha cobardia sem pensar que a minha razão era mais simples: tinha-me esquecido inclusive do seu nome. A mesma enfermidade que me tornava indiferente ou ingrato fazia-me, portanto, magnânime.

A queda, Albert Camus

P.S. – Eventuais erros de tradução são inteiramente da minha responsabilidade.