terça-feira, julho 06, 2004

Grito do Ipiranga - Há dias falei de cantar o hino regularmente no ensino e da correlação com o desenvolvimento dum espírito patriótico. Desta vez, andei a pensar no outro lado da questão. Porque razão somos, muitas vezes, tão relutantes em conviver com os nossos símbolos?

Devo confessar que não quis aderir à bandeiromania resultante do Europeu de futebol português. Achei fatela. Não queria, nem quero, uma bandeirita com uma haste plástica no vidro da porta de trás do carro. Da mesma forma que não estive, nem estou, particularmente motivado para pôr outra numa janela ou varanda cá de casa.

Mas reconheço que, nos últimos tempos (leia-se cerca de um ano), uma operação de mudança teve lugar em mim. Hoje em dia, revolto-me bastante contra os profetas da desgraça que tecem brilhantes discursos pessimistas e bota-abaixistas em relação a tudo o que é nacional.

Penso que é uma das maiores heranças da Outra Senhora. Depois de décadas de exacerbação da pátria, dum nacionalismo, do fado fátima e futebol, a geração anterior fazia uma ligação muito estreita entre todos estes elementos que geram e simbolizam a identidade lusa com o regime autoritário. E, por isso, foram intensamente rejeitados durante muito tempo.

Lembro-me de ouvir o Nuno da Câmara Pereira dizer que, nos tempos imediatamente a seguir ao 25 de Abril, não tinha coragem de dizer que era fadista porque era acusado instantaneamente de ser fascista.

É claro que muita dessa aversão passa de pais para filhos. Mas, como estes últimos não passaram pela mesma situação, aos poucos aprendem a libertar-se desse complexo de inferioridade, dessa vontade suprema de destruir com críticas uma forma de ser e de estar na vida única que nos distingue tão bem de pessoas tão próximas como os espanhóis.