sábado, julho 24, 2004

Tot ziens - Sempre me foi difícil tentar explicar isso. Normalmente, é algo que se sente ou se aprende a sentir quando se aprende a tocar. É uma tarefa hercúlea tentar elaborar um discurso acerca disso. E, no entanto, para mim é o que faz toda a diferença. É praticamente tudo o que há de relevante em música.

É o que torna um bom executante num músico espectacular, é o que torna o Coltrane ou o Miles em tipos de outra galáxia, é o que confere ao Eric Clapton uma força inabalável, é o que faz com que a Björk esteja a milhas de ser só mais uma cantora. A velha guarda do Hot Clube chama-lhe “nervo”. Outros chamam-lhe “feeling”. Outros, simplesmente, tocar muito bem. A denominação não é consensual, portanto.

Contudo, é esta mesma característica que, sendo eu alguém mais ligado a música jazz, moderna ou rock (não sei como definir tudo o que oiço) venha para aqui hoje falar do Carlos Paredes. Embora longe das minhas andanças musicais, o guitarrista era daqueles que possuem em larga escala essa tal característica com a qual perdi tempo na primeira parte do texto.

Ponho o CD a tocar e sento-me. A respiração ouve-se por entre as notas agudas. O frenesim do Movimento Perpétuo, a beleza da Canção Verdes Anos. Com Paredes aprendemos como a simplicidade pode ser bela, tudo aquilo que queremos e precisamos dizer.

O único senão foi o facto de nunca ter querido dedicar-se exclusivamente à sua arte. Quiçá pudesse ter deixado um legado maior para a cultura portuguesa. Nas suas próprias palavras, a música é uma coisa demasiado bela para dela se viver.

Até sempre, Carlos Paredes.