segunda-feira, setembro 27, 2004

Passos de gigante - O solo do sax tenor é delirante, forte, agitado. O mestre trazia a lição bem estudada, passa pelos acordes como peixe na água. O mesmo não se pode dizer de Tommy Flanagan ao piano. Nestas coisas as pessoas são normalmente recordadas pela negativa. Protagonizou um dos solos mais caricatos de sempre. Passou praticamente o tempo todo à procura do sítio onde estava na estrutura do tema. Pelo meio, uma ou outra frase solta, tentativa frustrada de soar a algo. Porquê esta dificuldade?

Sol, Si e Mi bemol. As três tonalidades que Coltrane foi buscar para dividir uma oitava em três partes perfeitamente iguais usando intervalos de terceira maior. Conseguir encaixar estes três centros tonais, à partida, não parece pêra doce. Conseguir dominá-los por forma a improvisar neles, pior um pouco. O saxofonista não se contentou com isso. Acrescentou-lhe uma velocidade vertiginosa. Em muitas zonas, dois acordes por compasso.

O resultado é um tema que tem tanto de brilhante como de frenético. Uma obra prima da elegância da forma musical, da fusão dos conceitos matemáticos da complexidade harmónica e da sensibilidade. "Giant Steps" deu o nome ao álbum gravado pela Atlantic em 1960, logo a seguir à participação no "Kind of Blue" de Miles, no ano anterior. É provavelmente a primeira grande obra de referência, charneira da História do Jazz, que Coltrane deitou cá para fora sob a alçada do seu nome.

Para a próxima, as três fases musicais do saxofonista.