segunda-feira, setembro 20, 2004

Serradura - Sempre achei uma palhaçada aquilo tipo de revistas dirigidas a públicos alvo que pretendem mostrar-lhe o que é suposto eles gostarem. Exemplo? Aquelas que para homens que só têm gajas semi-descascadas, carros e desportos, sobretudo se violentos, como boxe. Não me interpretem mal, adoro gajas (formatos vestida, semi-descascada e totalmente sem casca), também gosto de carros, e gosto de alguns desportos (boxe, por acaso, não é um deles). O que não gosto é que de ser resumido a isso.

Será que não sou homem? Será que não corre no meu sangue suficiente testosterona para alimentar a minha necessidade absoluta e inata de passar os dias a pensar nessa santíssima trindade de assuntos?

Percebi que é possível que não estejamos sozinhos. Jornal “O Público”, edição de sábado, dia em que a dita redacção solta cá para fora, para a sociedade, um verdadeiro portento, um bicho selvagem, uma força da natureza de seu nome “Xis”.

Título da capa: “Mudar, uma atitude que requer determinação e confiança”. Entre outras coisas, acrescenta uma daquelas frases clichés que soam sempre bem e não dizem absolutamente nada de jeito: “Toda a mudança implica grandes desafios mas, também, enormes vantagens”. O velho truque da dicotomia: vantagem seguida e proposição adversativa e desvantagem ou precaução. Passo a vida a usá-lo, resulta sempre. Continua: ”Ninguém cresce e nada evolui se não aceitar a transformação”. Uaauuuu…

O objecto cheira a Laurinda Alves que tresanda, não fosse ela a comandar as operações e depois aproveitar a tralha para fazer livros que devem vender que nem pãezinhos. Para além da questão da mudança, aborda coisas relacionadas com a casa, como deixar de fumar, auriculoterapia que eu nem sabia que existia, amar demais por falta de amor-próprio, hidratantes para o corpo e por aí a fora. Enfim todo aquele tipo de temas que todas as senhoras precisam de ver tratados para poderem olhar-se no espelho de manhã sem vontade de desatar a chorar.

A mediocridade não se fica pela escolha pelos títulos, progride pelo texto a dentro. Um artigo sobre John Coltrane (pequena vénia) jura-me a pés juntos que o tipo nasceu a 23 de Setembro, ou seja, no primeiro dia de Outono. Fantástico. Eu, pessoalmente, pensava que os equinócios e solstícios tinham a mania de ser todos a dias 21 de, respectivamente, Setembro, Março, Dezembro e Junho. Mas isso sou eu, é claro.

Depois, é aquele estilo de escrita de encher chouriços, de fazer render o assunto de forma a que encha uma paginazita, que tenha o número de caracteres suficientes para ficarmos todos satisfeitos com o nosso lindo textinho que, falando alguma coisa, não diz puto de jeito.

Para isso até prefiro que leiam revistas de fofoquices, sempre entendo melhor o interesse.