sexta-feira, outubro 22, 2004

Muito bonitinhos - aparecem sempre eles naqueles instantes da conversa que reservam ao olhar muito pouco indiscreto das câmaras e dos jornalistas. Muito bem dispostos, sorridentes, amigáveis. Unha e carne, amigos de longa data.

Talvez por isso, uma questão de cortesia, ou talvez de acordo com aqueloutra interpretação, a da subserviência do país pequeno e complexado, o nosso Primeiro, cheio de coragem política, avançou com umas palavritas que, não parecendo totalmente improvisadas, ao mesmo tempo, pareciam à laia de desgarrada. Queria ele dizer que deseja que o nosso país e Alemanha sejam bons amigos. Foi assim:

Ich wünsche, dass Portugal und Deutschland sind guten Freunden

Aparte possíveis erros de declinação no adjectivo “gut” ou, quiçá, erro no tempo verbal de “sein”, a verdade é que não sei se deveria ser conjuntivo, há uma coisa da qual tenho absoluta certeza que só pode ter soado atrozmente aos ouvidos do chanceler, como soaria aos de qualquer alemão.

Caro Santana, uma das regras básicas, basilares do idioma: numa frase subordinativa, o verbo vai sempre, e este é um sempre sem qualquer margem para excepções, não estivéssemos nós a falar de germânicos, ao fim. Ou seja:

Ich wünsche dass Portugal und Deutschland guten Freunden sind

Eu sei que não dá jeito nenhum, que é completamente contra-intuitivo e descabido, mas é assim que os gajos acham que se deve falar. É esta a lógica dos caramelos.

Ou não fossem eles alemães.