segunda-feira, novembro 29, 2004

«Disse que - as guerras com Bonaparte não teriam êxito enquanto os Russos se obstinassem em procurar aliar-se aos Alemães e interviessem nos assuntos europeus, e a isso se viam arrastados pela paz de Tilsitt. – Os Russos não deviam intervir nem contra a Áustria nem a seu favor. A nossa política está toda no Oriente, e, no que diz respeito a Bonaparte, só temos uma coisa a fazer: armar a nossa fronteira e mostrarmo-nos firmes. Eis a maneira de ele nunca mais transpor a nossa fronteira, como aconteceu em 1807.

- E como poderíamos lutar contra os Franceses, príncipe? – interrogou então o conde Rostoptchine. – Podemos acaso armar-nos contra nossos amos e deuses? Ponde os olhos na juventude, olhai para as senhoras da nossa sociedade. Os nossos deuses são os Franceses, o nosso éden é Paris – prosseguiu mais alto, naturalmente para que todos o ouvissem. – Modas francesas, ideias francesas, sentimentos franceses, tudo é francês! Pôs na rua o Métivier, por ser francês e canalha, mas as nossas belas damas rojam-se-lhe aos pés.

Ainda ontem estive numa recepção: das cinco senhoras presentes, três eram católicas e bordavam ao domingo, com autorização especial do papa. Pois estavam quase nuas como se fossem tabuletas de um balneário, com sua licença. Ah!, príncipe, quando ponho os olhos na nossa juventude, vêm-me ganas de ir buscar o bastão de Pedro, o Grande, ao museu e de lhe dar uma sova à russa. Talvez assim lhe passasse a maluqueira! – Fez-se silêncio. O velho príncipe olhava para Rostoptchine, aprovando com a cabeça, o rosto iluminado por um sorriso.»

in Guerra e Paz, Leão Tolstoi