sábado, janeiro 29, 2005

O foyer da Culturgest - Uma alcafita cor-de-rosa coroada com uma meia dúzia de sofás pretos encostados a uma das paredes forradas a madeira clara. A do fundo. Porque a que dá para o auditório tem um ecrã daqueles modernos, muito fininhos, onde se pode ver o que se passa dentro da sala. O grande problema é o som. Quando os que ali trabalham abrem a porta por alguma razão, uma avalanche de timbres mostra o quão envolventes são as cordas do contrabaixo, as escovas da bateria, o metal dos sopros, a martelada do piano.

Nem sequer era o canto de cisne dos de carteira lisa. Esgotado, tinha eu ouvido vinte minutos antes da boca da funcionária da bilheteira. Foram-nos resgatar ao café, onde esperávamos pelo Sérgio em quem tínhamos depositado todas as esperanças. Porque o Sérgio é daqueles que encaminha as pessoas aos lugares.

Mas por ali andava o engenheiro. Fato e gravata, pouco cabelo, muita barriga. E o engenheiro não tinha cara de quem deixasse o fantástico mundo da cunha desenrolar-se. Permitiu olhar para o televisor lá em cima no reino da alcatifa cor-de-pink vá-se lá saber como, nem sequer é prática normal, segundo rumores de quem sabe, de quem conhece por dentro aquele ambiente.

Terá ele ouvido? Redenção? Não faço ideia. Mas quando o Enrico Rava anunciou lá dentro a última música da noite, o tipo apareceu muito rápido a dizer que dava borla. De pé, encostado à madeira do acesso às cadeiras, via o quinteto ao fundo. Ainda tivemos direito ao brilhante encore, um despique nos chases do baterista com o contrabaixista.

O bilhete teria custado 5 euros (tenho menos de trinta anos e levava o BI para o comprovar). O CD que comprei à saída foram 15.