Há duas ocasiões no ano - que são uma espécie de tosta mista. Sempre. Os aniversários e a passagem de ano marcam o final de unidades de tempo, segmentam de uma forma estanque e inexpugnável períodos aos quais convencionámos chamar anos. São naturalmente, circunstâncias de alegria, festa, sorrisos e coisas boas. Mas, depois de passar o momento inicial de maior euforia, seja no dia ou no minuto seguinte, fazem pensar.
Sei que sou um puto, entrado na casa dos vinte anos há não muitos. Porém não consigo evitar pensar no passar, no avançar, no esgotar das hipóteses de andar por aqui, no ver, no saber, no aprender, numa palavra, no tempo de vida que vai andado inexoravelmente. É um discurso triste, eu sei, concordo perfeitamente. Aliás, se conseguisse não o sentir, podem crer que preferiria.
Se há coisa da qual tenho medo é da velhice. Muito mais do que de alturas (só para dar um termo de comparação a quem me conhece). Da debilidade, física e mental, da nostalgia, do peso do passado esmagador comparado com o futuro na balança da vida.
Da doença. A doença petrifica-me. Será por ser filho de quem lida com ela todos os dias, de quem a traz para casa e solta a fera na mesa onde jantamos, com frases e palavras que se tornaram banais e corriqueiras? Os médicos são os primeiros a pensar que essas coisas só acontecem aos outros. Ossos do ofício, uma forma de vencer a violência do dia-a-dia. Talvez por isso fumem desalmadamente.
Os filhos deles não. Devia ser muito novo quando percebi que um AVC era um acidente vascular cerebral e um TAC uma tomografia axial computorizada. Pior, as razões pelas quais as pessoas têm AVC’s e as consequências. Também devo ter percebido muito novo o que é um cancro, metásteses e que a quimioterapia provoca queda do cabelo. Assim como anemias.
Vivo com medo. Serei o único. Quem tem cu tem medo. Há para aí muitos cus. Um belo silogismo. Contudo, não sou obcecado por levar uma existência terrivelmente saudável e regrada. Faço os meus disparates e abusos. Porque entendi que o único remédio é fazer tudo, levar tudo, devorar tudo. Até ao tutano.
E foi nessa mesma altura que passei a olhar para estes dois marcos anuais como uma contabilidade de experiências e vivências. Uma contabilidade que se quer com um activo gigantesco. Não importa se à custa de muitos capitais próprios ou de um passivo brutal. Neste ponto até o Bagão estaria de acordo comigo.
E acho que foi assim que venci o medo.
Sei que sou um puto, entrado na casa dos vinte anos há não muitos. Porém não consigo evitar pensar no passar, no avançar, no esgotar das hipóteses de andar por aqui, no ver, no saber, no aprender, numa palavra, no tempo de vida que vai andado inexoravelmente. É um discurso triste, eu sei, concordo perfeitamente. Aliás, se conseguisse não o sentir, podem crer que preferiria.
Se há coisa da qual tenho medo é da velhice. Muito mais do que de alturas (só para dar um termo de comparação a quem me conhece). Da debilidade, física e mental, da nostalgia, do peso do passado esmagador comparado com o futuro na balança da vida.
Da doença. A doença petrifica-me. Será por ser filho de quem lida com ela todos os dias, de quem a traz para casa e solta a fera na mesa onde jantamos, com frases e palavras que se tornaram banais e corriqueiras? Os médicos são os primeiros a pensar que essas coisas só acontecem aos outros. Ossos do ofício, uma forma de vencer a violência do dia-a-dia. Talvez por isso fumem desalmadamente.
Os filhos deles não. Devia ser muito novo quando percebi que um AVC era um acidente vascular cerebral e um TAC uma tomografia axial computorizada. Pior, as razões pelas quais as pessoas têm AVC’s e as consequências. Também devo ter percebido muito novo o que é um cancro, metásteses e que a quimioterapia provoca queda do cabelo. Assim como anemias.
Vivo com medo. Serei o único. Quem tem cu tem medo. Há para aí muitos cus. Um belo silogismo. Contudo, não sou obcecado por levar uma existência terrivelmente saudável e regrada. Faço os meus disparates e abusos. Porque entendi que o único remédio é fazer tudo, levar tudo, devorar tudo. Até ao tutano.
E foi nessa mesma altura que passei a olhar para estes dois marcos anuais como uma contabilidade de experiências e vivências. Uma contabilidade que se quer com um activo gigantesco. Não importa se à custa de muitos capitais próprios ou de um passivo brutal. Neste ponto até o Bagão estaria de acordo comigo.
E acho que foi assim que venci o medo.
<< Home