sábado, março 26, 2005

Lembro-me - de como só estavas bem a provocar-me. Como me davas dentadas nos lábios, quase me arrancavas as bochechas e a pele do pescoço. Eu desconcertava-te com as minhas piadas parvas e completamente descabidas, queria ver até que ponto conseguirias aguentar um sucessão de tiradas perfeitamente otárias. Quando o teu limite estava atingido, o saco cheio, mandavas-me calar ou então tomavas o assunto mais a peito e tu própria te encarregavas de me fazer parar, com a tua boca.

Ligavas-me, mandavas-me mensagens com ameaças (se não apareceres nos próximos cinco minutos vou-me embora), gostavas de criar um clima tenso. Eu enchia o peito e respondia a preceito algumas das vezes. Baixar a bolinha, ganhar juízo, eram as palavras de ordem que eu debitava. Afinal, tu é que me perguntavas coisas que querias saber sobre mim. Eu é que era o mais velho, supostamente com mais do que contar. E era isso mesmo que me parecia ser a verdade.

No entanto, a única dúvida que eu tinha em relação a ti era aquela que queria mesmo esclarecer. Todas as outras me eram supérfluas e pouco interessantes. Eu não sabia ao certo até que ponto fazias bluff ou eras exactamente aquilo que transparecias. Conseguias confundir-me. Por vezes pensei que ias descair-te e eu poderia finalmente ver a menina nova e inexperiente por detrás da máscara da senhora que gosta de dar dentadas. Mas, logo em seguida, como se te recompusesses de uma queda, lá estavas tu de mira apontada à minha curiosidade.

Era esse o teu jogo. A tua grande arma, o teu trunfo, um ás na manga que tu utilizavas com uma mestria inigualável. Eu dizia-te que não passava de uma brincadeira, nada era sério. Queria salvaguardar a minha posição. E tu respondias com uma pergunta

Então e hoje, não queres ir brincar comigo?

E rias-te quase descontroladamente.