Não te oiço. Juro que não te oiço. Absolutamente nada. Embora consiga ver que os teus lábios mexem, que a tua boca se move, que a tua expressão se altera, que gesticulas para acentuar o que dizes, talvez até consiga sentir as vibrações na minha pele, nos ossos da minha face, mas não reconheço nenhum som. Nada.
E tu continuas a debitar qualquer coisa, falas como se eu te devesse compreender perfeitamente, falas como se fosse normal que eu percebesse, não colocas sequer a hipótese de que só não te interrompi porque não quero que te zangues comigo.
Só quando paras porque esperas que te responda, que conteste o que dizes, que tente ser bem sucedido a provar-te errada, e vês que fico imóvel, quedo, sem saber o que fazer, algo em ti desperta. Primeiro tocas-me, empurras-me, abanas-me, queres que me mexa, que acorde, que desembuche. Depois perdes a paciência e dás-me um estalo. Forte.
Cujo som, esse sim, distingo lindamente.
E tu continuas a debitar qualquer coisa, falas como se eu te devesse compreender perfeitamente, falas como se fosse normal que eu percebesse, não colocas sequer a hipótese de que só não te interrompi porque não quero que te zangues comigo.
Só quando paras porque esperas que te responda, que conteste o que dizes, que tente ser bem sucedido a provar-te errada, e vês que fico imóvel, quedo, sem saber o que fazer, algo em ti desperta. Primeiro tocas-me, empurras-me, abanas-me, queres que me mexa, que acorde, que desembuche. Depois perdes a paciência e dás-me um estalo. Forte.
Cujo som, esse sim, distingo lindamente.
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