segunda-feira, março 21, 2005

Sondavas o meu pretenso - conhecimento de causa, parecia que a tua vida dependia da informação que, alegadamente ou, certamente no teu ponto de vista, eu te poderia dar. Fazias aquele sorriso que sabias me era irresistível, verdadeiramente fatal

Vá lá, conta lá

E eu tentava explicar-te que não fazia a mínima ideia do que quer que fosse que tu quisesses indagar, fazia a minha cara mais inocente como que para contrabalançar o teu sorriso, franzia-me, as minhas sobrancelhas deviam ficar esquisitas. Não queria contar-te os segredos que outros me confiavam sob a normal condição de nada partilhar com ninguém. Mas a tua intuição cheirava a minha mentira a milhas de distância, qual tubarão que detecta sangue em águas muito afastadas

Eu sei que tu sabes...

Ainda tentava resistir mais um bocado, nem que fosse apenas pela consolação pessoal, o descargo de consciência pelo facto de ter dado mais luta, não ter sucumbido facilmente ante fogo inimigo. Já conhecias a minha estratégia, estavas a par dela, muitas vezes a tinhas encontrado entre ti e aquilo que querias.

Por isso, tinhas sempre a dose de paciência necessária, esperavas mais um bocado, não desesperavas e, acima de tudo, não desistias. Estavas perfeitamente ciente de qual o ponto a partir do qual a areia começava a escapar-se-me por entre os dedos e bastava-te ficares tranquilamente à espera de ouvir

Pronto, está bem, está bem... mas tens de me prometer que não contas a ninguém, ok?

E então o sorriso passava de um misto de cachorrinho e beicinho para satisfação, para reconhecimento de boa vontade alheia e vontade de recompensar. Normalmente com um beijo, não muito longo porque os meus lábios iriam ser necessários para dar com a língua nos dentes.

Quando acabava de contar tudo, sentia-me manipulado.