Adoro som. Adoro ouvir o vento a esbarrar-se contra os vidros, o mar a mandar-se sobre a areia, os pássaros acordam-me na manhãs de Primavera. Adoro o som de uma cafeteira quando o café está a subir, do ronronar de um gato com fome, das teclas de um piano abafado. Adoro o som de pessoas de idade que contam pausada e saudosamente histórias, de uma respiração acelerada, o batimento do coração.
Detesto ruído. Tique-taques de relógios, apitos do microondas, locais de construção, aceleras que rasgam a estrada, tacões em soalho de madeira. Detesto as pessoas que falam muito alto, os cães que ladram desalmadamente. Detesto os carros modernos que desatam a apitar se o cinto do condutor não está colocado.
Alguns ruídos irritantes não podemos controlar. É fácil lembrarmo-nos se o vizinho tinha o televisor alto ou o puto do lado resolveu fazer um ensaio com a banda de heavy metal. Mas quantas vezes nos lembramos do barulho do metro que também temos de aturar, do simples barulho da refrigeração do computador que, horas a fio, fica a remoer no fundo dos tímpanos?
Por muito estranho que possa eventualmente parecer, o ruído é altamente silencioso, entra pela nossa vida a dentro sem, muitas vezes se anunciar. Tão habituados estamos a ele que o nosso cérebro se concentra apenas naquilo que considera importante e tenta, a todo o custo, filtrar o supérfluo, uma tarefa que nos faz chegar a casa ao fim do dia cansados.
Como se não bastasse a chinfrineira a que temos de estar sujeitos, há tipos que gostam de nos arranjar ainda mais. Os do Metropolitano de Lisboa, por exemplo, resolveram vender espaço publicitário à Media Capital Outdoor. Que não faz a coisa por menos. Pequenos blocos de notícias em ecrãs de plasma nas estações, que intervalam os minutos de música e publicidade aos berros. Sempre igual, todos os dias os mesmos acordes. Nunca um comboio pareceu demorar tanto tempo a chegar à estação como agora. A única hipótese de não ouvir aquela porcaria é fazendo ainda mais barulho, ou concentrá-lo em phones nos ouvidos.
Em contraposição: ocorre-me o metropolitano de Moscovo. Com as suas galerias enormes e profundas, ornamentadas, com pinturas, esculturas e outras formas de arte. É um sistema antigo, fica bastante atulhado à hora de ponta. Mas só tenho mesmo de ouvir o que não pode deixar de ser, o ruído decorrente da movimentação.
O movimento de venda de espaços para publicidade nas universidades americanas foi de uma agressividade sem paralelo. Refrigerantes, marcas desportivas de sapatos e de roupa invadiram por completo lugares que deveriam ser baluartes de alguma calma e reclusão necessárias à aprendizagem. Será este o ponto a que chegarão estes serviços públicos, francamente necessitados de financiamento?
Espero pelo dia em que façam das estações do metro uma autêntica perfumaria.
Detesto ruído. Tique-taques de relógios, apitos do microondas, locais de construção, aceleras que rasgam a estrada, tacões em soalho de madeira. Detesto as pessoas que falam muito alto, os cães que ladram desalmadamente. Detesto os carros modernos que desatam a apitar se o cinto do condutor não está colocado.
Alguns ruídos irritantes não podemos controlar. É fácil lembrarmo-nos se o vizinho tinha o televisor alto ou o puto do lado resolveu fazer um ensaio com a banda de heavy metal. Mas quantas vezes nos lembramos do barulho do metro que também temos de aturar, do simples barulho da refrigeração do computador que, horas a fio, fica a remoer no fundo dos tímpanos?
Por muito estranho que possa eventualmente parecer, o ruído é altamente silencioso, entra pela nossa vida a dentro sem, muitas vezes se anunciar. Tão habituados estamos a ele que o nosso cérebro se concentra apenas naquilo que considera importante e tenta, a todo o custo, filtrar o supérfluo, uma tarefa que nos faz chegar a casa ao fim do dia cansados.
Como se não bastasse a chinfrineira a que temos de estar sujeitos, há tipos que gostam de nos arranjar ainda mais. Os do Metropolitano de Lisboa, por exemplo, resolveram vender espaço publicitário à Media Capital Outdoor. Que não faz a coisa por menos. Pequenos blocos de notícias em ecrãs de plasma nas estações, que intervalam os minutos de música e publicidade aos berros. Sempre igual, todos os dias os mesmos acordes. Nunca um comboio pareceu demorar tanto tempo a chegar à estação como agora. A única hipótese de não ouvir aquela porcaria é fazendo ainda mais barulho, ou concentrá-lo em phones nos ouvidos.
Em contraposição: ocorre-me o metropolitano de Moscovo. Com as suas galerias enormes e profundas, ornamentadas, com pinturas, esculturas e outras formas de arte. É um sistema antigo, fica bastante atulhado à hora de ponta. Mas só tenho mesmo de ouvir o que não pode deixar de ser, o ruído decorrente da movimentação.
O movimento de venda de espaços para publicidade nas universidades americanas foi de uma agressividade sem paralelo. Refrigerantes, marcas desportivas de sapatos e de roupa invadiram por completo lugares que deveriam ser baluartes de alguma calma e reclusão necessárias à aprendizagem. Será este o ponto a que chegarão estes serviços públicos, francamente necessitados de financiamento?
Espero pelo dia em que façam das estações do metro uma autêntica perfumaria.
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