segunda-feira, maio 30, 2005

A acreditar nos termómetros – o calor era abrasador. Às 18h00 ainda estavam trinta e muitos graus. O céu estava pejado daquelas nuvens muito finas que tornam a luz difusa, numa infusão de cinzento claro muito intensa. O ar quase nem corria em Sevilla, nem sequer uma aragem.

As ciganas empunhavam os abanicos como só elas sabem fazer, sentadas nos degraus da enorme catedral. A maior do mundo em volumetria, segundo o certificado do Guiness em exposição no interior. Quando viam turistas, levantavam-se e ofereciam rosmaninho.

Depois pediam para ver a mão e ler a sina. Recusei delicadamente mas ela disse-me o meu futuro só de olhar para mim, numa lenga-lenga hipnotizante com sotaque andaluz, sem os “esses” no final das palavras. Desejou-me sorte e eu retribuí: “Para usted también”. Sorriu antes de replicar: “Pero la fortuna hay que pagarla!”. Começava a tirar o porta-moedas do intervalo entre os seios, pelo decote, quando lhe devolvi o rosmaninho e me fui embora.

A Giralda, a torre mandada construir para almoadem da cidade. Uma subida em caracol pelas rampas de inclinação variável, onde passam também os carrinhos dos bebés dos pais corajosos. Do alto, possivelmente a melhor vista sobre a cidade. Embora só um dos lados interesse verdadeiramente, o que espreita sobre a Praça de Espanha e os Jardins de Maria Luísa.

No mesmo sentido, o Alcázar. Fortificado. Mas bonito, delicado, “precioso” recorrendo à língua autóctone. Uma encomenda da realeza espanhola aos construtores da cidade árabe na altura de Granada. O resultado é um palácio com a traça do Magreb, frescos pátios interiores repletos de mosaicos e pedra minuciosamente esculpida, azulejos e tectos de cedro trabalhados. É aqui que, ainda hoje, os “Reyes Católicos” pernoitam quando vêm à Andaluzia.

O resto é, grosso modo, o que se pode ver em qualquer outra cidade espanhola. A mesma traça das casas, o mesmo passeio, os mesmos jardins a precisar de atenção e água. Alguma sujidade. Por outro lado, muita animação, muita gente nas ruas, turistas e estudantes por todo o lado. Tapas, bares, “botellón”.