sexta-feira, maio 27, 2005

Hoje - começou tudo por chover. A série de dias consecutivos de sol foi rasgada ao meio por chuva miudinha, irritante. Aquela que não é suficientemente gente para poder causar frio e que sobrevive no meio daquele tempo húmido e abafado, naquele ar que não produz uma brisa.

A cidade está deserta. Lembra-me aqueles westerns com duelos ao meio-dia, altura em que a população, temerosa, se esconde na segurança das casas, atrás das janelas para ainda assim ver o desenrolar do confronto.

As pessoas saíram todas e levaram com elas os ruídos e a azáfama dos dias normais. Deixaram os lugares dos transportes públicos vagos, acabaram com as filas. Não oiço as habituais buzinas. Não oiço os miúdos a ir para escola. Nem sequer as recentes exortações ao clube da Luz.

Fico dividido. Por um lado, a melancolia. Do dia cinzento, da solidão colectiva duma cidade abandonada, trocada por uns dias de suposto sol no tradicional circuito das praias portuguesas. Também eu gostava de ter tido a sexta-feira para mim, para utilizar a meu bel-prazer. Embora não fosse a correr enfiar os pés na areia.

Por outro lado, a calma. Que faz apetecer parar para olhar mais do que para ver, ao som de um Cd do Keith Jarrett ou dos recém-por-mim-descobertos Air. Que, embora não fume, me faz pensar em cigarros fumados à luz de uma janela grande de vista para o mar.