sexta-feira, junho 24, 2005

«A assustadora mesmice dos dias. Não posso esquecer nada. Recuso-me a ceder uma migalha que seja às frias garras do tempo. Odeio o tempo. Tal como o sofá, as poltronas e as cortinas, também os dias são subtis variações de um simples tema colorido. Uma menina bonita e inteligente num casaco azul, uma ressequida professora de jardim de infância com varizes, e entre as duas um vidro que vai ficando cada vez mais opaco apesar do desesperado esfregar.»

«A assustadora mesmice dos dias. O Outono chegará. À tarde o sol bate na janela virada para oeste, esculpindo padrões de luz no tapete e nas coberturas das poltronas. Os padrões de luz passam a um suave balanço a cada movimento das copas das árvores lá fora. É um movimento inquieto e complexo. Todas as tardes os ramos mais altos da figueira rebentam novamente em chamas. As vozes das crianças a brincarem lá fora lembram uma selvajaria distante. O Outono chegará. Quando era pequena, lembro-me de o meu pai dizer uma vez que no Outono as pessoas parecem mais calmas e sensatas.

Ser-se calmo e sensato: que aborrecido.»

O meu Michael, Amoz Oz