quinta-feira, junho 23, 2005

Cheguei – e olhei para o visor do telemóvel, no canto superior esquerdo está um pequeno relógio digital. Estava a horas. Sentei-me e esperei. Tinha uma revista na mão, que resolvi folhear. Comecei a ler um artigo. Não muito grande, não valia a pena pegar num de fundo para depois o deixar a meio. Até porque devias estar quase a chegar.

Fui lendo. Devagar. Olhei para as ilustrações. Os gráficos, os dados de suporte. Não sei quanto tempo terá passado até ter chegado à última linha, à última frase, aquela que acaba com aquele quadradinho que nos indica que não vale a pena virar a folha porque já não há lá mais nada. Ao contrário daquelas setas fininhas.

Folheei um pouco mais. Notícias curtas. Disto e daquilo. Destaques culturais, o cartaz, os filmes que andam por aí, as peças de teatro. Notícias cor-de-rosa. O actor casou-se com a modelo, o desportista divorciou-se. O não-sei-quantas abriu um restaurante novo super chiquérrimo.

Começo a olhar em redor. Nada. Telemóvel outra vez. Nada. Telefono-te. Não atendes. Espero? Sim, espero ainda mais um bocado. Que se lixe, começo o artigo de fundo. Detesto deixar leituras a meio mas está-me mesmo a apetecer ler este. E posso sempre parar num dos separadores e recomeçar depois a partir daí. Não é dramático.

O texto é grandito. Consome atenção. Talvez por isso não me aperceba tanto do avançar dos ponteiros do relógio na montra em frente. Das pessoas que passam. Das nuvens que viajam no céu. Outras pessoas esperam alguém. Mas acabam por se encontrar e desaparecem rua abaixo, viram nas perpendiculares e deixo de as ver a seguir às esquinas.

Estou a meio. Já li metade. Foi rápido. Ou não terá sido? Olho outra vez para o visor do aparelho. Não foi assim tão rápido, passou algum tempo, mais do que aquilo que pensei que tivesse passado. Continuo sem te ver. Por isso, calculo que está na altura de estabelecer limites. O meu é até ao fim do que leio. Se não chegares, vou-me embora.

Volto a mergulhar os olhos nas letras pretas e miúdas. Os meus olhos focam com alguma dificuldade, é um dia com muita luz e o pavimento é branco, dispara os raios solares em todas as direcções, tornando-os ainda mais agressivos. Agora não penso em mais nada, embora sinta que estou a abrandar o ritmo para te dar mais hipóteses, como se parte de mim te quisesse desculpar e entender.

Contudo, por muito lento que possa ser, chego ao fim. Olho outra vez em todas as direcções. Fecho a revista. Dobro-a debaixo do braço enquanto agarro as minhas coisas todas. Levanto-me, sinto as costas a estalar. Ando em direcção à saída, lentamente. Sempre atento, sempre alerta.

Saio devagar.