domingo, junho 26, 2005

Não vão nunca acabar – dizia ela de uma forma quase agressiva, empolgada, a cara a ficar vermelha, os braços a dar imensas voltas, as carótidas salientes. E fixou o olhar em mim, como se eu esboçasse sequer o mais pequeno indício de dúvida ou de descrédito em relação à afirmação. Um curto enorme silêncio em que os nossos olhos não se largaram.

Finalmente continuou, o impasse começava a deixar-me desconfortável. Isso posso eu assegurar-te. Pegas num galego, num basco, num andaluz, numa valenciano, num catalão, num madrileno, qualquer outra comunidade e, sabes que mais?, não tens nada em comum. É tudo diferente. Completamente diferente. São povos distintos, com culturas distintas, línguas próprias.

Outro silêncio. Desta feita, nada desconfortável, apenas fruto da ênfase de quem fala de algo sério. Excepto numa coisa. Os touros. E é isso mesmo que gera algum sentimento de partilha transversal, de identidade comum que faz com que digamos que somos todos espanhóis. Não há absolutamente mais nada que nos possa unir ao ponto de nos fazer pertencer a um mesmo país. De tal forma que até aparecem no centro de algumas bandeiras em vez do símbolo da monarquia.

Por isso não vão nunca acabar. No dia em que isso acontecer, Espanha deixa de existir.