terça-feira, julho 26, 2005

Deu corda ao metrónomo. Era um daqueles à antiga, com um ponteiro metálico, ao longo do qual se ajusta o peso para definir a velocidade desejada, as batidas por minuto. A caixa era em madeira e soltava aquele som cheio e quente que o plástico não consegue nunca imitar. Sentei-me a ouvir, de olhos fechados para me concentrar melhor, a interiorizar a precisão dos estalidos.

Imagina que estás a marcar o segundo e o quarto tempos, não o primeiro e o terceiro, como o teu instinto te vai tentar induzir a fazer. Podes até pensar que estás a ouvir um baterista e que o metrónomo não é mais do que o prato de choque, constante e quase despercebido no meio de todos os outros sons. No entanto, sempre presente.

Estivemos os dois em silêncio um bom bocado. Até que me disse que tentasse. Não me perguntou se estava pronto. Disse-me que experimentasse naquele instante. Abri finalmente os olhos, olhei para o braço que tinha à minha frente, brilhava a cordas novas. Bati o pé, uma forma mais directa e física de apanhar o tempo. Confortável, adequado ao exercício. Concentrei-me.

Há duas coisas que são difíceis. A primeira é o arranque. Começar mal, fora, pode condicionar tudo o que vais fazer para a frente. Preocupa-te em entrar no sítio certo. Não te precipites. A outra é, quando pensas que já tens tudo controlado, relaxas e começas a flutuar. Quando dás por ti, estás outra vez nos fatídicos um e três.