terça-feira, julho 05, 2005

Eu ainda não me tinha habituado – a chamar-lhe Mário; no 107 de Cascais era sempre o Chico. Passou em minha casa por volta da hora de jantar. Viu-me emborcar qualquer coisa à pressa enquanto lhe dizia o que precisava enfiar na caixa da guitarra: palhetas, tampões para ouvidos, um pano para mãos suadas, o tremolo. Depois entrámos no VW dele e fomos até Cascais.

De que forma foi, não me recordo, mas já sabia que íamos para o edifício do PCP. Mesmo em frente ao Visconde da Luz, a entrada era do outro lado do túnel que atravessa os prédios para a rua da Sacolinha. Ali, num canto fechado feito por dois prédios distintos, umas grades altas criavam um pequeno pátio. Tocámos à campaínha. Alguém veio abrir o portão que se abria no meio das redes, espreitando pela janela.

Subimos três lances (ou eram quatro?) de escadas até chegar ao sótão. Lá em cima já estava alguém, penso que era o guitarrista e a vocalista. O Mário deixou as tralhas dele, as minhas tinham ficado no carro, não eram para o Bruno e a Sónia ver. E descemos para o primeiro piso, onde havia uma sala com mesas e cadeiras de plástico que dava para o Visconde. Lá estavam todos os outros. O Chico e a Margarida, o Pedro, o Floyd. Penso que só faltava o André, que chegou depois com a Nicole.

Devo ter sido apresentado, tentei responder com a naturalidade que não existe num puto de 16 anos enfiado naquele ambiente. O mais novo de todos eles devia ser o André com 19 ou 20 anos. Sentia-me muito pouco à-vontade, num misto de timidez idiossincrática e intimidação pontual.

A páginas tantas, estávamos todos no sótão outra vez. Eu, sentado numa cadeira a um canto, perna cruzada, a ver. Eles a tocar. Tinham um som diferente, fora do comum. Usavam teclados e sintetizadores (o velhinho DX-7 em coma), instrumentos desconhecidos para mim. Na altura, de quem mais gostei foi do André na bateria. Devo ter percebido desde o início que era quem tinha o instinto mais apurado e com quem eu me iria dar melhor. Musicalmente e não só.

O ensaio terminou. Conversa para aqui, conversa para ali. O Bruno e a Sónia iam sair. Perguntaram se os outros não iam. Penso que o Pedro, o Chico e a Margarida também. Fiquei com o André, o Floyd e o Mário. Que desceu a correr as escadas e foi buscar a minha guitarra à mala do carro.

Puseram-me à prova. Toquei alguma coisa. Estava sobre pressão mas correu-me bem. Gostaram. Tocaram comigo. A certa altura, terminámos uma música. E o André disse-me que tinha gostado e que havia qualquer coisa em mim de Brian May. Que lhe tinha soado. Sorri, não tinha nada contra o inglês e gostava dele, mas não achava que fosse a minha maior influência.

Lembrei-me deste episódio neste sábado. E, passados sete oito anos, pensei que não me ficaria nada mal soar a Brian May.


P.S. – prometo não voltar a falar do concerto.