Sampa #2 – Na noite do dia seguinte, o Zé explicou-me, entre dois “chopps” que há cerca de trinta anos atrás, o Centro era efectivamente o pólo económico da cidade. Entretanto, piorou. Turvou. De tal forma que, desde que se lembra que evita lá ir, que tinha medo quando era miúdo. Os bancos, as empresas, deslocaram-se. Sobretudo para a Avenida Paulista que, do alto do morro, funciona como uma fronteira, separa a zona antiga da zona sul, a mais nobre, onde vive quem tem “grana”. Os paulistanos dizem que para cima da Paulista o ambiente escurece.
Nos dias imediatamente anteriores à minha chegada, os pais do Nuno desbravaram o terreno que nenhum outro se havia atrevido a trilhar. Porque entre os lusos que já lavaram o ouvido e nem sequer estranham o sotaque de Vera Cruz, ninguém sabia linhas, preços, paragens. Seguindo à risca as instruções, apanhei um “ônibus” como os locais. Paguei dois reais a um tipo sentado a meio do veículo onde há um torniquete que ele solta depois de receber as notas. A viagem demora meia-hora. A 9 de Julho até passar o primeiro túnel, aquele que evita a Paulista. Só tinha que me lembrar de sair após o segundo túnel, que tem uma paragem a meio.
A páginas tantas, um tipo entrou e fez um sinal ao cobrador. Este acenou-lhe afirmativamente com a cabeça, dando-lhe autorização. O primeiro deitou-se no chão e arrastou-se por forma a passar por debaixo do torniquete. Depois distribuiu por todos os passageirosuma caneta prateada e um papel onde se lia algo como sou surdo e mudo e preciso de ajuda, a caneta custa um real. Devolvi-lha.
O túnel passou. A paragem do meio também. Levantei-me, estava na hora. Saí para a confusão do Centro. Uma zona degradada, mal frequentada. Lojas de qualidade duvidosa por todo o lado com produtos baratos em exposição, tipos a apregoar os fantásticos preços de todo o tipo de bugigangas na rua: de pilhas a apetrechos para o telemóvel, de fruta a CD’s, de “calcinhas” a alças de soutien.
Cuidado com os carteiristas; espalhei o carcanhol pelos diferentes bolsos das calças, tapados pelo casaco. Evita olhar demasiado para o mapa, evita mostrar que és turista e não conheces as ruas. Mistura-te com a multidão. Passei pelo mercado, pela rua confusa, estreita, cheia de gente. É esta gente que vem às compras que possibilita ir com (alguma) segurança a esta zona da cidade de manhã. À tarde, as bancas já não estão lá, assim como os compradores, pelo que o perigo passa a ser mais que uns carteiristas.
Subi a rua que leva à torre Banespa. Passei pela zona da Bolsa e dos bancos. O aspecto melhora. Mais acima, a praça da Sé. Entrei, sentei-me e, em vez de me benzer e fazer as demais coisas que os fiéis fazem nestes locais, aproveitei para retirar o mapa do bolso. Confesso que não consegui retirar muita informação daquele bocado de papel. Não obstante, resolvi fazer-me novamente ao caminho. Desta vez recorrendo mais ao instinto.
A mole de gente não me deixou enganar. Ao sabor dos humores dos meus pés, dei por mim a descer a Rua Direita, passei pela Prefeitura, atravessei o Viaduto do Chá, sobre a Avenida Tiradentes. Ao meu lado direito erguia-se o edifício do Teatro. Mais à frente a Praça da República, ladeada por uma fileira de veículos. Estava feita esta parte da cidade. O tempo ainda o permitia, por isso, em vez de regressar ao conforto de Vila Olímpia, resolvi entrar num táxi.
“Para o Museu de Arte de São Paulo na Paulista, por favor.”
Nos dias imediatamente anteriores à minha chegada, os pais do Nuno desbravaram o terreno que nenhum outro se havia atrevido a trilhar. Porque entre os lusos que já lavaram o ouvido e nem sequer estranham o sotaque de Vera Cruz, ninguém sabia linhas, preços, paragens. Seguindo à risca as instruções, apanhei um “ônibus” como os locais. Paguei dois reais a um tipo sentado a meio do veículo onde há um torniquete que ele solta depois de receber as notas. A viagem demora meia-hora. A 9 de Julho até passar o primeiro túnel, aquele que evita a Paulista. Só tinha que me lembrar de sair após o segundo túnel, que tem uma paragem a meio.
A páginas tantas, um tipo entrou e fez um sinal ao cobrador. Este acenou-lhe afirmativamente com a cabeça, dando-lhe autorização. O primeiro deitou-se no chão e arrastou-se por forma a passar por debaixo do torniquete. Depois distribuiu por todos os passageirosuma caneta prateada e um papel onde se lia algo como sou surdo e mudo e preciso de ajuda, a caneta custa um real. Devolvi-lha.
O túnel passou. A paragem do meio também. Levantei-me, estava na hora. Saí para a confusão do Centro. Uma zona degradada, mal frequentada. Lojas de qualidade duvidosa por todo o lado com produtos baratos em exposição, tipos a apregoar os fantásticos preços de todo o tipo de bugigangas na rua: de pilhas a apetrechos para o telemóvel, de fruta a CD’s, de “calcinhas” a alças de soutien.
Cuidado com os carteiristas; espalhei o carcanhol pelos diferentes bolsos das calças, tapados pelo casaco. Evita olhar demasiado para o mapa, evita mostrar que és turista e não conheces as ruas. Mistura-te com a multidão. Passei pelo mercado, pela rua confusa, estreita, cheia de gente. É esta gente que vem às compras que possibilita ir com (alguma) segurança a esta zona da cidade de manhã. À tarde, as bancas já não estão lá, assim como os compradores, pelo que o perigo passa a ser mais que uns carteiristas.
Subi a rua que leva à torre Banespa. Passei pela zona da Bolsa e dos bancos. O aspecto melhora. Mais acima, a praça da Sé. Entrei, sentei-me e, em vez de me benzer e fazer as demais coisas que os fiéis fazem nestes locais, aproveitei para retirar o mapa do bolso. Confesso que não consegui retirar muita informação daquele bocado de papel. Não obstante, resolvi fazer-me novamente ao caminho. Desta vez recorrendo mais ao instinto.
A mole de gente não me deixou enganar. Ao sabor dos humores dos meus pés, dei por mim a descer a Rua Direita, passei pela Prefeitura, atravessei o Viaduto do Chá, sobre a Avenida Tiradentes. Ao meu lado direito erguia-se o edifício do Teatro. Mais à frente a Praça da República, ladeada por uma fileira de veículos. Estava feita esta parte da cidade. O tempo ainda o permitia, por isso, em vez de regressar ao conforto de Vila Olímpia, resolvi entrar num táxi.
“Para o Museu de Arte de São Paulo na Paulista, por favor.”
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