Sampa #3 – O edifício do Museu de Arte de São Paulo é, no mínimo, bastante invulgar. Do lado de fora, podia ser descrito simplesmente como um caixote rectangular cinzento suspenso em quatro robustos pilares vermelhos, mais ou menos ao lado dos vértices. Percebo que possa ter causado alguma perplexidade. Mas reafirmo: sim, o que acabei de dizer implica que o piso térreo, pura e simplesmente, é a rua. Impressionante é estar debaixo da estrutura, com todo o 1º piso por cima. Fez-me sentir como os irredutíveis gauleses, que só tinham medo que o céu lhes caísse na cabeça.
Do lado direito, barreiras indicam o caminho a seguir até chegar à bilheteira. Depois de pagar a entrada (cinco reais para estudante...), há um bengaleiro ainda na rua. Detector de metais e dois seguranças atarefados a meter a conversa em dia e uma porta de elevador. Pressiona-se o respectivo botão. Quando a porta abre, o ascensorista pede o bilhete e rasga-o, assinalando a entrada.
Aparentemente, alguns dos locais não apreciam muito o aspecto exterior deste muito pouco ortodoxo museu. Mas em relação ao acervo não podem soltar muitas críticas. No segundo subsolo, a parte mais impressionante: Rousseau, Velasquez, Renoir, Gaughin, Manet, Monet, Picasso, Van Gogh, Rembrant, entre outros. Fiquei impressionado com a riqueza que ali se encontra.
E foi essa riqueza que ficou ainda no meu espírito quando, passado algumas horas, voltei a sair para rua com o intuito de sentir um pouco do ambiente. A Avenida Paulista é uma espécie de Oxford Street, apenas maior e mais cinzenta, abrupta. É o pujante centro económico da cidade. Os prédios altos, os bancos, as lojas, as empresas, sucedem-se uns atrás dos outros.
Aqui estão os empregos que pagam bem, aqui está o top end social da cidade. A caras são mais europeias, mais de acordo com a sociedade retratada nas telenovelas. Os homens andam de fato e gravata, as senhoras têm pinta de executivas. Aqui não me senti inseguro, há polícias em cada esquina numa espécie de plataformas elevadas, estilo nadadores-salvadores a olhar para os nadadores em mar ondulado. Já não há o apregoar de preços. São as marcas que conhecemos do nosso mundo globalizado, com preços que até podem ser impeditivos para um europeu.
Como os do centro comercial Iguatemi, o mais “in” de São Paulo. Dizer a um paulistano que se faz compras neste local equivale a dizer-lhe que se tem uma carteira muito funda. Meti-me ao caminho. Avenida Faria Lima acima, paralelamente à marginal Pinheiros. Depois de uns bons vinte minutos meia-hora a andar, vi-o surgir, do lado esquerdo. Um caixote, como qualquer outro centro comercial. As diferenças estão no interior. A mais impressionante de todas: a loja da Louis Vuitton que aí se encontra no piso térreo, repleta de tias chiquérrimas, é uma das que mais vende no mundo inteiro.
Sampa é assim. Contrastante. Muito contrastante. Tem o melhor do primeiro mundo e o pior do terceiro. Edifícios com heliportos no topo para o jet-set não ter que se preocupar com o trânsito caótico quando se desloca para o trabalho, manobristas que estacionam os carros para poupar a chatice de procurar um lugar, táxis em todas as esquinas, uma vida nocturna cara e muito intensa, um costume de prostituição de luxo, restaurantes de chiquérrimos, baladas, academias de “esporte” caríssimas.
E também tem favelas. E muita pobreza. Pobreza profunda. Pessoas que não vivem: sobrevivem. À saída do Parque Ibirapuera, onde os ricos passeiam o cão e fazem jogging com o lago de fundo e o planetário do Niemeyer, estava um “pé descalço”. Trabalha nos semafóros, como muitos outros. Alguns fazem malabarismos. Este vende. Quando cai o vermelho, colocou sacos de plástico com pacotes de pastilhas ou chocolates e um papel que explica a vontade de levar uma vida honesta e alimentar a família. O conteúdo do pequeno saco custa, normalmente, um real. Não cheguei a ver ninguém comprar; quando o verde estava prestes a regressar, correu desenfreadamente para recolher o que puseram nos espelhos dos carros indiferentes.
E esperou por outro vermelho.
Do lado direito, barreiras indicam o caminho a seguir até chegar à bilheteira. Depois de pagar a entrada (cinco reais para estudante...), há um bengaleiro ainda na rua. Detector de metais e dois seguranças atarefados a meter a conversa em dia e uma porta de elevador. Pressiona-se o respectivo botão. Quando a porta abre, o ascensorista pede o bilhete e rasga-o, assinalando a entrada.
Aparentemente, alguns dos locais não apreciam muito o aspecto exterior deste muito pouco ortodoxo museu. Mas em relação ao acervo não podem soltar muitas críticas. No segundo subsolo, a parte mais impressionante: Rousseau, Velasquez, Renoir, Gaughin, Manet, Monet, Picasso, Van Gogh, Rembrant, entre outros. Fiquei impressionado com a riqueza que ali se encontra.
E foi essa riqueza que ficou ainda no meu espírito quando, passado algumas horas, voltei a sair para rua com o intuito de sentir um pouco do ambiente. A Avenida Paulista é uma espécie de Oxford Street, apenas maior e mais cinzenta, abrupta. É o pujante centro económico da cidade. Os prédios altos, os bancos, as lojas, as empresas, sucedem-se uns atrás dos outros.
Aqui estão os empregos que pagam bem, aqui está o top end social da cidade. A caras são mais europeias, mais de acordo com a sociedade retratada nas telenovelas. Os homens andam de fato e gravata, as senhoras têm pinta de executivas. Aqui não me senti inseguro, há polícias em cada esquina numa espécie de plataformas elevadas, estilo nadadores-salvadores a olhar para os nadadores em mar ondulado. Já não há o apregoar de preços. São as marcas que conhecemos do nosso mundo globalizado, com preços que até podem ser impeditivos para um europeu.
Como os do centro comercial Iguatemi, o mais “in” de São Paulo. Dizer a um paulistano que se faz compras neste local equivale a dizer-lhe que se tem uma carteira muito funda. Meti-me ao caminho. Avenida Faria Lima acima, paralelamente à marginal Pinheiros. Depois de uns bons vinte minutos meia-hora a andar, vi-o surgir, do lado esquerdo. Um caixote, como qualquer outro centro comercial. As diferenças estão no interior. A mais impressionante de todas: a loja da Louis Vuitton que aí se encontra no piso térreo, repleta de tias chiquérrimas, é uma das que mais vende no mundo inteiro.
Sampa é assim. Contrastante. Muito contrastante. Tem o melhor do primeiro mundo e o pior do terceiro. Edifícios com heliportos no topo para o jet-set não ter que se preocupar com o trânsito caótico quando se desloca para o trabalho, manobristas que estacionam os carros para poupar a chatice de procurar um lugar, táxis em todas as esquinas, uma vida nocturna cara e muito intensa, um costume de prostituição de luxo, restaurantes de chiquérrimos, baladas, academias de “esporte” caríssimas.
E também tem favelas. E muita pobreza. Pobreza profunda. Pessoas que não vivem: sobrevivem. À saída do Parque Ibirapuera, onde os ricos passeiam o cão e fazem jogging com o lago de fundo e o planetário do Niemeyer, estava um “pé descalço”. Trabalha nos semafóros, como muitos outros. Alguns fazem malabarismos. Este vende. Quando cai o vermelho, colocou sacos de plástico com pacotes de pastilhas ou chocolates e um papel que explica a vontade de levar uma vida honesta e alimentar a família. O conteúdo do pequeno saco custa, normalmente, um real. Não cheguei a ver ninguém comprar; quando o verde estava prestes a regressar, correu desenfreadamente para recolher o que puseram nos espelhos dos carros indiferentes.
E esperou por outro vermelho.
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