Sampa #4 - O resultado está à vista. São Paulo é uma cidade violenta. Muito violenta. Na semana da minha estada, ouvi falar de num assalto a um restaurante da movimentada Avenida de Santo Amaro no qual os assaltantes fizeram reféns as pessoas que lá se encontravam, e nas quatro balas que mataram o filho de um banqueiro, também assaltado. No fundo da rua onde fiquei, algumas pessoas foram assaltadas à mão armada a semana passada. Conheci uma pessoa que foi mantida refém juntamente com as pessoas que vivem no seu prédio, durante duas horas, até os criminosos terem pilhado quatro pisos e resolverem fugir por não terem capacidade de levar mais coisas consigo.
Efectivamente, os roubos nos prédios de habitação são dos maiores problemas de segurança. Por essa razão, nos locais nobres da cidade onde os habitantes têm dinheiro suficiente para tal, os mecanismos de defesa são bastante notórios. No exterior, grades metálicas, muros enormes, cercas eléctricas. Quando nos aproximamos da entrada de um edifício à noite, células fotoeléctricas acendem potentes holofotes que não deixam os criminosos aproveitar a escuridão.
Depois, há os porteiros. No prédio onde fiquei, a porta que dá para a rua é fumada, não é possível ver o interior. É o porteiro que a abre, apenas se for alguém conhecido. Se não for o caso, é necessário identificar-se para que ele possa verificar que estão de facto à nossa espera. O meu anfitrião teve que escrever uma autorização para que eu pudesse entrar sozinho no edifício. Até chegar ao elevador, há ainda mais duas portas controladas pelo porteiro. No elevador, há câmaras que registam o que se passa lá dentro e que pode ser visto nos televisores dentro dos apartamentos. Não é preciso carregar naqueles botões com pequenos leds laranjas para acender as luzes do corredor; acendem-se com o movimento para que possamos ver de dentro de casa pelo óculo.
O outro problema clássico, muito conhecido, é o dos assaltos aos carros, tipicamente nos semáforos. O fenómeno é de tal forma significativo que as autoridades renderam-se às evidências e tornaram legal passar um vermelho à noite. A maioria das viaturas tem vidros fumados e os automobilistas andam com as portas trancadas. As pessoas que têm dinheiro para automóveis mais caros e, por isso, mais apelativos, mandam colocar vidros à prova de bala. Aliás, é muito comum ver anúncios desse género em stands de marcas como BMW ou Mercedes.
Eu acho que a comunicação social exagera um pouco em matéria de segurança. Vivo em São Paulo desde que nasci e nunca me aconteceu nada. E eu sou um cara despreocupado, ando com as portas abertas. É claro que há zonas que são perigosas, mas na zona onde estamos o perigo é o mesmo que nas outras grandes cidades.
Não tens problema nenhum, podes andar à-vontade na rua, ouvi dizer vezes sem conta. Tentaram-me assegurar que é seguro repetidamente. Mas, na mesma conversa, depois de passar o paninho quente, adicionaram sempre um exemplo vincado de uma situação de violência extrema. Porque sabem que ela anda lá fora. Às catadupas. No final, senti que há uma grande vontade nos habitantes de se auto-assegurarem, de desdramatizar, de diminuir, de ridicularizar para encarar o dia-a-dia. Porque, no limite, há sempre um clima de instabilidade e insegurança que, se para um paulistano já é significativo, para um português nem se fala.
Para acabar com o paleio de uma vez por todas, nada melhor que umas linhas a puxar para o metafórico. E acabo por aqui o relato desta viagem.
São Paulo é como um animal selvagem, um felino, um tigre: por um lado, exótico, atraente, belo, sedutor, inebriante; por outro, agressivo, mesmo que o tentemos domesticar, subsiste sempre um comporamento instintivo no qual não se pode confiar.
Efectivamente, os roubos nos prédios de habitação são dos maiores problemas de segurança. Por essa razão, nos locais nobres da cidade onde os habitantes têm dinheiro suficiente para tal, os mecanismos de defesa são bastante notórios. No exterior, grades metálicas, muros enormes, cercas eléctricas. Quando nos aproximamos da entrada de um edifício à noite, células fotoeléctricas acendem potentes holofotes que não deixam os criminosos aproveitar a escuridão.
Depois, há os porteiros. No prédio onde fiquei, a porta que dá para a rua é fumada, não é possível ver o interior. É o porteiro que a abre, apenas se for alguém conhecido. Se não for o caso, é necessário identificar-se para que ele possa verificar que estão de facto à nossa espera. O meu anfitrião teve que escrever uma autorização para que eu pudesse entrar sozinho no edifício. Até chegar ao elevador, há ainda mais duas portas controladas pelo porteiro. No elevador, há câmaras que registam o que se passa lá dentro e que pode ser visto nos televisores dentro dos apartamentos. Não é preciso carregar naqueles botões com pequenos leds laranjas para acender as luzes do corredor; acendem-se com o movimento para que possamos ver de dentro de casa pelo óculo.
O outro problema clássico, muito conhecido, é o dos assaltos aos carros, tipicamente nos semáforos. O fenómeno é de tal forma significativo que as autoridades renderam-se às evidências e tornaram legal passar um vermelho à noite. A maioria das viaturas tem vidros fumados e os automobilistas andam com as portas trancadas. As pessoas que têm dinheiro para automóveis mais caros e, por isso, mais apelativos, mandam colocar vidros à prova de bala. Aliás, é muito comum ver anúncios desse género em stands de marcas como BMW ou Mercedes.
Eu acho que a comunicação social exagera um pouco em matéria de segurança. Vivo em São Paulo desde que nasci e nunca me aconteceu nada. E eu sou um cara despreocupado, ando com as portas abertas. É claro que há zonas que são perigosas, mas na zona onde estamos o perigo é o mesmo que nas outras grandes cidades.
Não tens problema nenhum, podes andar à-vontade na rua, ouvi dizer vezes sem conta. Tentaram-me assegurar que é seguro repetidamente. Mas, na mesma conversa, depois de passar o paninho quente, adicionaram sempre um exemplo vincado de uma situação de violência extrema. Porque sabem que ela anda lá fora. Às catadupas. No final, senti que há uma grande vontade nos habitantes de se auto-assegurarem, de desdramatizar, de diminuir, de ridicularizar para encarar o dia-a-dia. Porque, no limite, há sempre um clima de instabilidade e insegurança que, se para um paulistano já é significativo, para um português nem se fala.
Para acabar com o paleio de uma vez por todas, nada melhor que umas linhas a puxar para o metafórico. E acabo por aqui o relato desta viagem.
São Paulo é como um animal selvagem, um felino, um tigre: por um lado, exótico, atraente, belo, sedutor, inebriante; por outro, agressivo, mesmo que o tentemos domesticar, subsiste sempre um comporamento instintivo no qual não se pode confiar.
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