sexta-feira, novembro 25, 2005

Enquanto que - os primeiros dias foram de um sol radiante, como se os elementos ou mesmo, quiçá, o próprio São Pedro em pessoa, me quisessem dar as boas vindas pela entrada nas férias, dia de hoje voltou a pôr tudo de novo na devida perspectiva. Isto porque quarta e quinta ainda foram dias de aulas, fortemente marcados, diga-se de passagem, pela entrega dos malfadados problem-sets.

Só hoje assentei arraias. Aterrei à velha mesa de plástico redonda, solução improvisada que se manteve, montada de frente para a janela rectangular que tem a transição de São João para São Pedro, aquele das Varandas, como fundo, até que os dois são engolidos pelo espelho da água do mar, onde os navios esperam o momento de entrada no Porto de Lisboa.

O dia nasceu com uma ou outra nuvem. Ocasionais, esporádicas. Depois, o clima de tragédia grega foi progressivamente adensando. Agora chove. O cinzento é a cor predominante. É o meu primeiro dia de estudo a sério desde há muito tempo. A última vez foi no final de 2003; Erasmus não entra para esta contabilidade, entra para outras.

Será alguma nostalgia…? Equações, modelos, papers, alfas, lambdas, rós, fis, betas, gamas, taxas de crescimento, steady-state, níveis, variáveis endógenas e exógenas, folhas de rascunho, exames anteriores, coçar a cabeça, mexer na cadeira, dor de pescoço, mãos sujas de tinta da caneta, olhos cansados. Tudo isto regado com uma excelsa colheita de Keith Jarrett, Pat Metheny e outros que tais, daqueles que tocam suave e permitem concentração.

São estas as minhas férias. Dói. Sete dias. Penso nos sítios onde poderia estar, penso naquilo que poderia estar a fazer, penso nas pessoas que poderia rever. Penso em tudo o que me falta fazer. Penso como me ensinaram a pensar, no custo relativo, ou de oportunidade para ser mais científico, das opções que racionalmente (?) tomamos.

Penso no meu gato, o Chico. Não o Tobias, cuja foto já se encontra em arquivos longínquos. Nunca falei no meu gato Chico (pois não…?) Aquele que tivemos que deixar ir desde a última vez que estudei. Entrava no meu quarto sem se ouvir, dizia-me bom dia. Depois aninhava-se no tapete azul e fazia-me companhia a manhã toda.

Continuo aqui. Eu e a minha janela.